Quem rasgou minhas lembrançs

Crônica de Adalbeto Lim

 

 

Tenho vontade de contar a história de Dona Augusta, uma senhora de muita fé, que conheci em Cachoeira Paulista, quando passei uma temporada de três anos na Canção Nova.

Corria o ano 2016.

Até então, as coisas não mudaram muito, senão a queda de alguns fios cabelos ou embranquecimento dos que não caíram.

Sucessiva contagem de dias e noites transcorriam sem que eu percebesse que envelhecera.

Talvez uma dor esparsa, aqui ou ali e, por certo, o registro de recordações, alegres ou tristes, marcam a trajetória a todo vivente humano.

Não fosse exigir muito dos meus setenta anos, gostaria de contar o que sei sobre ela, mas não é muito.

Nem sei por onde começar.

Poderia dizer que a foto ilustrativa desta página ( até que seja apaga por outrem que não eu) foi capturada na primeira celebração de seu aniversário.

Parece estranho, mas eu não disse o primeiro aniversário, e sim a primeira celebração.

Fizemos uma confraternização entre amigos.

Naquele dia Augusta completava 68 anos e nunca tinha comemorardo seu natalício.

Paguei pela arte de uma foto e mandei enquadrar.

Era surpresa para Dona Augusta e para todos os seus convivas que também eram meus, pois a festa foi em minha casa.

A homenageada gostou da surpresa, não da foto.

Os anos passaram.

Dois ou três.

E vez por outra ela oferecia aos amigos um almoço em sua residência.

Morava de aluguel, mas tinha recursos suficientes para contratar um imóvel, relativamente confortável.

 Pequeno, de preferência, pois morava sozinha.

Fico pensando: quando dona Augusta morrer, acaba sua linhagem.

Ela é filha única, a mãe também e por isso, não teve o prazer de conhecer um parente consanguíneo, senão um tio por parte de pai.

O tio já falecido.

O pai dela também.

E a mãe, faz anos que voou para o Céu.

Minha amiga Augusta não é uma pessoa abastada. Seus recursos provinham de duas aposentadorias: a dela e de seu falecido marido.

Ah! Agora sei como continuar a escrita.

Não chamo de biografia porque não sei toda a história, digamos assim, da biografada.

 Vou narrar um episódio que ela mesma me confidenciara.

Foi assim:

Seu namoro que resultou em casamento, aconteceu de forma bizarra.

Augusta tinha 17 anos e cuidava de uma porca que fora machucada pelo cachaço.

Para quem não sabe, cachaço é o nome que se dá ao macho reprodutor suíno.

Já a fêmea, chamamos de marrã, principalmente, quando pronta para o primeiro acasalamento, depois disso, passa a ser chamada de matriz, ou porca, no popular.

O cachaço será sempre cachaço.

Virgem ou não é cachaço, pejorativamente chamado de barrão.

Sua fêmea, a porca, é porca por natureza, não por rolar na lama.

Ou será por isso mesmo?

Deixemos a porca e o cachaço de lado e tratemos do namoro de Dona Augusta, ou mais precisamente, do pedido de namoro, que se deu, quando a moça estava dentro do chiqueiro de porcos, tentando tratar de um ferimento na matriz suína, provocado pelo barrão. Talvez por causa de uma eventual recusa ao coito.

Estava nesta lida, quando foi abordada por um rapaz, que, sem arrodeio, declarou suas intenções.

"Quer casar comigo?"

Com certeza eu sei o nome dele, mas seu nome estava gravado em um arquivo protegido por dezenas e centenas de neurônio que, no decorrer do tempo, em mim se apagaram.

 

( ...)

Depois conto mais...

E por que não dizer agora que minha intenção maior, no momento é colocar a foto, para o Face criar o endereço eletrônico da imagem e depois, eu fazer a postagem em meus Site de Literatura.

Desnecessário dizer que não sei criar endereço eletrônico para imagens.

 E nem sei quem apaga as fotos que deposito na Internet com os textos que, canhestramente, produzo.

Os textos ficam.

As imagens, algum tempo depois, desaparecem.

 

Já reclamei a um administrador de certo Site, (pago) mas ele recomendou que eu verificasse meu computador.  Ele empregou alguns termos da língua inglesa. Não sei o que é. O que significa.

Falo uma só língua: “a última flor do Lácio, inculta e bela.” 

Mas então! Diga-me em Língua Portuguesa: Quem apaga minhas imagens? Quem rasga minhas lembranças?

Ah, quase me esqueci de dizer:

Augusta é nascida em Matipó, ali nas proximidades de Raul Soares em Minas Gerais.

Trabalhou em Brasília, e se aposentou como doméstica, prestando serviços na casa de um militar em Guaratinguetá, SP.

Seus mais recentes patrões, não a abandonaram, e vez por outra a visitam em Cachoeira Paulista.

Por último, não posso fechar a página sem dizer que minha amiga Augusta, atualmente, mora em um Abrigo para Idosos em Aparecida do Norte SP.

A última vez que conversamos por telefone. Não faz muito tempo... Ela me pareceu feliz.

Não há como morar sozinha.

Augusta tem uma síndrome que não sei dizer qual.

Diz ver vultos.

Quando a conheci, ela sempre rescindia seus contratos de aluguel, antes do vencimento, sob a alegação de que a casa estava sendo invadida à noite.

Averiguei.

Era fruto de sua imaginação.

Acompanhada por psiquiatra, minha amiga tem uma vida quase normal.

 E goza de momentos felizes.

Saudade de você Augusta.