Alma brasileira cansada

O Brasil está cansando o brasileiro. Percebo que faço 'hora extra' todos os dias. Desperto quando ainda está escuro. Nada que mereça ser levado em conta, afinal é a realidade da maioria dos brasileiros, não a minha. Pouco mas, o bastante eu tenho. Uma vida frugal e 'monástica', cuido de alguém que me é caro. Pelo menos temos uma vida digna. Me pergunto, e quem precisa 'matar um leão' para comer para alimentar a família? Esses estão tentando ganhar cestas básicas, na fila do Auxílio Emergencial, vendendo paçoca no sinaleiro. Aí você para para comprar e a criança fala empolgada - estou empreendendo!

Não sabia que esses 'tubarões' do financismo começaram vendendo paçoca... Conta para esses 'empreendedores', que a inspiração deles iniciou sua fortuna a 400 anos atrás quando a família dele(a), ganhou da Coroa Portuguesa um 'lote' enorme chamado "Capitania Hereditária". Daí foi só explorar a terra, matar milhões de índios, continuar 'puxando o saco' de quem estava no poder, comprar 'a peso de ouro' algum político, escravizar a mão de obra de ontem e de hoje. Assim o jovem de hoje será um empreendedor de sucesso! 'Tu é que não estuda prá ver'! Acontece que os herdeiros das capitanias sabem disso desde o início, então sempre boicotaram que a população tivesse uma boa educação, ou melhor que o governo cumprisse seu papel e oferecesse esse serviço.

Quando penso que muitas pessoas trabalham fora e são cuidadoras como eu? Meu cuidar é de uma deficiente, estes que o capital decidiu serem descartáveis por não produzirem riqueza para ele. Aprendi com essa vivência, olhar para os lados, perceber o sofrimento das pessoas. O lixo que jogamos fora atrai a atenção de animais e seres humanos 'animalizados' como no documentário "Ilha das Flores". Com a vida 'pela hora da morte' o brasileiro trabalha sem saber se o fruto do seu suor será o suficiente para viver. A luta é diária. Uma escravidão de viver a troco do pão e encher o cofre de quem sempre saqueou o Brasil e seu povo. Somos números. Estamos condenados a sermos pela eternidade "Os condenados da Terra". Para que poucos sejam servidos, vidas são trituradas numa 'máquina de moer gente' e jogadas fora como bagaço da cana que enriqueceu muitos. Mas não só. O café enriqueceu outros herdeiros que estão sujos pela "Mancha de café' nas Minas do ouro. Esse último construiu reinos no velho continente...

O que percebo é que nosso cansaço é secular. Um povo de quem foi retirado o sumo em suor, sangue e lágrimas. Esse povo cansado de vagar em busca de um norte que os mantenha no rumo da dignidade. Mas essa busca nem sempre resulta em alívio. Nossa busca, outra vez resulta em mais lágrimas. Assistimos esses dias os poderosos, empoderados por nós e que devolveram desesperança, tristeza e dor. Os brasileiros ainda são semente que o vento espalha e brotam teimosas. Conceição Evaristo disse "Combinaram nos matar. Mas nós decidimos não morrer". O plano deles é nos calar, nos manter submissos, porém o nosso cerne é Pau Brasil, de dureza e cor de sangue, e delicada flor amarela de miolo vermelho que é nossa alma.

Ilha das Flores <https://www.youtube.com/watch?v=FIRLNeNzMAk>

Os condenados da Terra - Frantz Fanon <https://drive.google.com/file/d/1O2IIi6oInvsERLVVe8iNOPnoXWzQzh7-/view?fbclid=IwAR1loYM_tYqHv-CI_Mt75df1DXiR42-TUlj7wcojfa_504IgZ32ClLXNmSQ>

Mancha de café <https://youtu.be/zRgw9B8sf0o>