O poeta e os grisalhos

     1. Não me lembro do ano. Eu, jovem, fui a um programa de auditório comandado por um festejado radialista de minha cidade, Fortaleza.      Sei que foi nos anos 1950.
     O rádio estava no auge. Era o mais influente veículo de comunicação, informação e divertimento.
     Tempo das Rádios Nacional, Tupy, Tamoio, Mayrink Veiga, no Rio de Janeiro. E no Recife, a Jornal do Comércio, com um slogan, pra época, nada modesto: "Pernambuco falando para o muuundo!". 
     
2. O programa, ao qual me refiro, era aos domingos. Tinha um nome, que esqueci. Muito animado, reunia lindas garotas e árdegos mancebos. Comendo pipoca e mascando chiclets Adams, a gente arranjava fácil uma paquera.      Muito bom; eu curtia pra valer as "Alegres tardes de domingo", como diz o Roberto. 
     
3. O programa não era somente musical. A cada semana, um jornalista, um escritor, um poeta, um radialista comparecia  e respondia as perguntas do auditório. Perguntas simples: como arranjar inspiração para escrever tantos poemas; se suava frio ao escrever editoriais censurando autoridades; se ganhava bem.
     
4. Os entrevistados ilustres se sucediam e a gente ia conhecendo e ouvindo os intelectuais da terra. No meio de muita música brega, um belo soneto ou a história de uma reportagem comovente, dramática, emocionante; ou como foi escrito o livro.
     Ah! Os animados programas de auditório! Com seus calouros, cantores e cantoras encantando seus vibrantes e apaixonados "macacas" e "macacos" .
     
5. Não chamem "nariz de cera" o que acabo de escrever. Foi, sim, o caminho mais curto que encontrei para chegar ao saudoso poeta Rogaciano Leite. No programa de auditório ao qual acabo de me referir, conheci o poeta que aqui homenageio.
     
6. Rogaciano nasceu no sítio Cacimba Nova, município da cidade pernambucana de São José do Egito, no dia 1 de julho de 1920; e morreu (infarto) no dia 7 de outubro de 1969, no Hospital Souza Aguiar, Rio de Janeiro. Está enterrado em Fortaleza. 
     Foi casado com a cearense Maria José Ramos Cavalcante. Desse conúbio nasceram seis filhos.      
7. Nós, os de cabelos grisalhos, conhecemos uma linda canção que diz assim:
 
          Meus cabelos cor de prata
          são beijos de serenata
          que a lua mandou pra mim.
          Os meus cabelos grisalhos 
          são pingos brancos de orvalho
          num tinteiro de nanquim. 
          Estes meus cabelos brancos
          que hoje são da cor dos bancos
          solitários de um jardim,
          já sentiram muitos dedos
          e ouviram muitos segredos
          que elas contavam pra mim.

     
8. Conhecemos, né mesmo? Cantada maravilhosamente por Silvio Caldas, o caboclinho querido.
     Pois a letra dessa canção, que continua mexendo com as saudades das cabecinhas que o tempo embranqueceu, é do poeta ROGACIANO LEITE. Merece, pois, todas as homenagens, por ter deixado essa belíssima "página musical". Que se fez eterna.
      
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 08/08/2021
Reeditado em 09/08/2021
Código do texto: T7316339
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