Pescaria

No ar o cheiro da mata nativa numa mistura de essências irreconhecíveis. Ao redor o som das águas do riacho correndo mais forte após um dia de chuva intensa. Ao longe o coaxar dos sapos e o pio da coruja no fim de tarde. Nos olhos as cores esmaecidas pela penumbra do entardecer de um dia atípico: terceiro dia de férias de meio do ano. Apenas quinze dias de descanso. O necessário.

E me deu vontade de pescar...
Preparei a vara e separei as iscas...
Fiz um rabo de cavalo e pus um boné azul combinando com a minha calça de brim. Gosto de combinações. Só não sei o porquê!
Hoje não choveu, mas a umidade dos dias anteriores ainda está no ar, nas folhas e no solo...
A caminhada exigindo equilíbrio para não escorregar e ir parar numa poça de lama. O riacho não é tão perto. Havia me esquecido da distância...
Quanto à pescaria, a correnteza forte do riacho, de longe já denunciava a falta de peixes. Mas eu sou teimosa. Insisti.
Joguei a isca de carne... Nada!
Mudei de lugar. Nada!
Mudei o cardápio... Troquei de isca.
Pus minhocas. ( Não gosto, mas era a opção viável)
Mas de nada adiantou outra vez!
Não havia mesmo ninguém interessado em engolir o anzol...
E depois de uma hora segurando a vara inerte, desisti.
Sou teimosa, mas não tanto...

Resolvi caminhar um pouco pela propriedade olhando a paisagem... Fazia tempos que não me sentia assim. Tranquila...
Depois de um tempo estava em petição de miséria...
O lamaçal me custou o solado das botas que juntando a falta de uso com a umidade do chão não deu outra: Largou!
Mas eu não liguei muito pra isso.
É incrível como a natureza tem esse poder de nos envolver e apequenar as nossas inquietações.
Não peguei nenhum peixe e voltei caminhando por obra e graça da força de vontade, pois o meu corpo só pedia pra ficar lá sentada na beira do caminho...
Mas não tinha nem mesmo um lugar seco para sentar.
Cheguei em casa num estado lastimável de lama e puro cansaço, mas com a alma cheia de paz...
A mente leve...
Só não sei como meus músculos se comportarão amanhã depois da produção de tanto ácido lático...

Mas ao menos voltei a sorrir...

Adriribeiro/@adri.poesias
Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 29/07/2021
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T7310142
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