Medos

Todos nós somos vulneráveis em maior ou menor grau, faz parte da humanidade. Quem posa de corajoso, de muralha, é o mais medroso de todos. O que varia é o tipo de medo e se a pessoa o declara ou não. O instinto de sobrevivência faz com que quase todas tenham medo da morte (única certeza que existe) mas para as pessoas, digamos, espiritualmente elevadas, não há que se temer “o outro lado”. Questão de fé. Por via das dúvidas a gente desvia dos perigos para não dar chance para uma zebra (evito a palavra antônima da sorte, será uma fobia?). Haha.

Certos medos têm causas fundadas e enraizadas em fatos objetivos em seu passado levando à procura muitas vezes de um psicólogo para ajudar na superação, mas outros vêm não se sabe de onde, um tipo de insegurança mesmo, uma questão existencial. De faltar algo essencial em sua vida por questões financeiras, da rejeição, de envelhecer sozinho, de cair doente e uma infinidade de outros tipos. Pode nem ser uma ameaça real, mas se a pessoa sente, pelo menos para ela é extremamente real. Nunca menosprezo o temor de ninguém, pois o que para mim é insignificante para o outro pode ser um inferno e vice-versa, é questão de respeito.

Há medos considerados tolos como o de insetos (ele é que tem medo de você que é um milhão de vezes maior, claro, basta racionalizar), ou de andar de elevador (parece banal, mas depende do ponto de vista). São tantas fobias e esquisitices que um grosso dicionário não bastaria para elencar. Melhor evitar julgar porque nada é banal quando se trata da mente humana. Se eu pegar uma turbulência forte no avião vou me pelar de medo e acho que até quem não tem religião reza nessa hora, afinal é instinto de sobrevivência, ninguém quer partir dessa pra melhor (sabe-se lá se é melhor mesmo do outro lado?). Como nenhum extremo é bom a ausência de qualquer tipo de temor é uma patologia que atende por um nome complicadíssimo que nem sei de cor. A reação orgânica à ameaça iminente é totalmente normal e causa o famoso efeito lutar ou fugir (do inglês fight or flight). Se der para encarar, ótimo, lute, mas ninguém é besta nem vai querer pagar para ver caso apareça um agressor armado ou um leão feroz, uma cobra naja, sei lá. Nesse caso eu voto na opção fugir se puder ou entregar tudo no caso do agressor armado.

Desafio é outra coisa, desafio é instigante, embora exista uma galera que tem medo do desafio também porque se não vencer sairá frustrado ou envergonhado, melhor dizendo, vai ficar “mal na fita”. Daí ele desiste antes de tentar. Não vejo motivo, o simples viver e aprender coisas novas a cada dia já contém um desafio intrínseco. No extremo oposto está quem vive competindo com todos que o rodeiam, o narciso, o ególatra que acredita que ganhará tudo que participar de barbada e se não ganhar foi marmelada. Um baita inseguro digno de pena, caso uma grana se no seu íntimo não guardar uma coleção de medos inconfessáveis. A covardia também pode ser confundida com medo, mas para mim é um misto de falta de confiança em si próprio com timidez, definitivamente não é um predicado a covardia, mesmo se a palavra não tiver qualquer associação com violência e estupidez (o português é uma língua tão complexa que apresenta várias nuances). O covarde já entra no ringue derrotado.

O fato é que, conforme o velho ditado (adoro ditados), quem não arrisca não petisca. Há outra citação que gosto muito: “Não sabendo que era impossível foi lá e fez”, do poeta e dramaturgo francês Jean Cocteau. Então, meu amigo, engula seu medo e vá em frente porque na pior hipótese você cai e levanta. Do chão ninguém passa. Aquele que titubear ou tremer na base nunca saberá o gostinho que é subir no degrau mais alto do pódio ou alcançar o cume da montanha porque permitiu que o medo o imobilizasse. Ainda bem que os grandes inventores, pesquisadores e cientistas não se amedrontaram diante das acusações de loucura ou bruxaria enquanto realizavam suas pesquisas, principalmente as mulheres que sequer podiam votar ou exercer qualquer profissão livremente até quase meados do Século XX (considerando todos os países) época não tão distante. Sem os destemidos e vanguardistas ainda estaríamos sem luz elétrica, sem medicamentos e vacinas, desprovidos de todos os confortos que a tecnologia e a modernidade oferecem. Um salve a eles, o mundo é de quem ousa!