Ponteiros 




Não consigo fazer nada com pressa, porque penso
muito, pauso muito, e acabo esquecendo que preciso
cumprir horário, nem é sono ou vontade de ficar, nem
vontade de ir... a liberdade é um ponto fraco,
gosto de fazer tudo e mais alguma coisa, aproveitar
o dia, mas ainda estou escrava do tempo.

O banho demorou, os pensamentos tinham tantos rumos
para seguir, filhos e netos distantes, nesse final de semana
o tempo foi pouco para tanta saudade, ah e o meu amor...
Que também mora tão longe de mim. Nossa! Que horas
são? Preciso logo me apressar, e nem fui comprar o pão.

Tomo o meu café como quem vai passar o dia inteiro
em casa, primeiro coloco a chaleira com a água que se põe
a ferver e ferver - enquanto o coador espera, o pó do café
chega quase junto com a água, para não ficar exposto
e perder a sua essência... Nisso, os ponteiros feito loucos
não me dão trégua, mas estou no meu ritmo, algumas das
plantinhas dos vasos que ficam ao sol, já reguei, troquei
a água da Gigi, e a areia, troquei, volto à mesa, tomo meu
café puro, perdi a hora, não deu para lanchar, uma fruta
talvez, dessas bem práticas, vai fazer bem, copo de leite,
duas colheres de sei lá o quê, não gosto, mas vou beber.

Fecho o fogo, fecho a luz, desligo a televisão, agora estou
pronta para sair, nossa, voltei, fecho as janelas, e se chover,
nunca se sabe, esqueci de colocar a ração da Gigi, tantos
detalhes, eu havia perdido a prática - cronometrar, a hora
e fazer tudo sem me atrasar. - Ponho a máscara, não dá
para esquecer o álcool setenta, agenda, celular, os óculos.
Que Deus me proteja, e aos meus amores, tantos.

Penso em você.

Vou pra rua, rostos estranhos, assuntos banais, o sol não
está brincando esta manhã, de casa para o meu trabalho, 
são somente três quarteirões, essa caminhada... acelera
o meu coração, e atiça com entusiasmo a imaginação.

Cheguei em cima da hora, oito em ponto, amanhã farei de
tudo para acompanhar os ponteiros, ou acordar mais cedo,
dormir mais cedo, parar de sonhar, isso eu não prometo...
Que dia lindo! Quantas nuvens, quanto barulho, é a vida,
deixei a gaiola, vamos aos cumprimentos, vem de todos os
lados, alguns tristes, outros mais animados. É a vida, que
devolvendo uma rotina diferente _  A esperança continua.
Eles cantam e voam, e eu sem tempo de parar, esperem
o final do dia, quando eu retornar.

Liduina do Nascimento
Enviado por Liduina do Nascimento em 28/06/2021
Código do texto: T7288425
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.