LAMENTO DE UM NORDESTINO

Uma tristeza danada me invade o coração e a vida, nesta noite sagrada de São João. Sem alegria rasgada, sem os gritos da meninada, fogos e ciranda, tudo era motivo de muita festa onde todos se uniam em torno à fogueira. Hoje está sendo uma noite de São João diferente, o forró está sem gente, é muita tristeza, dando lugar à incerteza, dando lugar à rudeza do momento, dando lugar à crueza de um amanhã nebuloso. Triste mandamento perpetrado por uma política nefasta que aprisiona toda a gente, impondo o terror, a quarta onda. Qual alegria qual nada! Esta noite de São João está sendo uma noite diferente, um suplício insistente, repetente... Tudo isto por causa dessa epidemia desastrada, como quem não quer nada, ela veio desalmada, contaminando rico e pobre, enlutando o nosso agreste que de preto o mundo se cobre. Foram tantas as quadrilhas, o padre, o velho bêbedo, até mesmo a sinhá moça que fugiu com o noivo para o “desmantelo” da família, por causa da epidemia, nada disso aconteceu. Estes eventos foram esquecidos, dando lugar a uma noite fria e sombria, onde aqui e acolá uma fogueira ardia, e as pessoas em um diálogo soturno, recordavam um passado que não voltará nunca mais. Esta noite foi evento esquecido , dando lugar ao luto. Como anda a Serra Negra, o Polo, o bacamarteiro?

Eita troço ruim! Que epidemia dos infernos! A esta hora, o forró pé de serra rasgava a noite, dançava Joaquim e Maria, seu José e dona Zefa, dançavam todos ao som de Luiz Gonzaga, a vestimenta xadrez, para mostrar que entende de cultura e uma clara demonstração de que vale à pena ser nordestino! Por onde andam os cantadores e repentistas, o rapaz enamorado e a menina de trança? Oh meus santos das fogueiras... Meu São João não se esqueça de nós, os nordestinos, que muito respeitamos a sua trajetória entre nós. A gente não aguenta mais essa ausência pois temos o coração apertado. A cidade Bezerrense em silêncio chora, foram tantos de nós que partiram, está tudo cinza, os artistas estão sem cantar e os forrozeiros estão com os sapatos e chinelos mofados, são dois anos sem os festejos juninos. De uma coisa tenho certeza, sempre via com tristeza o desvirtuamento dos festejos juninos, a disputa entre Caruaru e Campina Grande transformando a tradição nordestina em um verdadeiro desfile de Escola de Samba. Vamos deixar o Samba para o Rio de Janeiro. Que esta trégua sirva de lição para retornar a tradição junina, de raíz e vamos reavivar a fogueira de São João!