RECORDANDO UMA TRISTE HISTÓRIA REAL. ( A TRISTE REALIDADE DE UM FILHO COLOCANDO A SUA MÃE PARA VIVER NUM LAR DE IDOSO, PORQUE ELA ESTAVA ATRAPALHANDO A VIDA DELE COM SUA ESPOSA. )

Há alguns anos ( e isso já faz muito tempo ), quando encontrava-me em uma visita ao LAR SÃO JOSÉ , presenciei um rapaz chegando ao local com uma senhora mais idosa , muito bem vestida , de pele bem cuidada , maquiada , com brincos e colar de pérolas , sapato de bico fino, deixando à mostra a altivez e a elegância de outrora demarcadas em seus gestos e modos de se conduzir.

O homem , aparentando não muito mais de 35 anos , de pouquíssimas palavras e gestos reduzidos a braços que se cruzavam nervosos , trazia um semblante de emoções confusas , permanecendo inerte à porta do quarto onde eu me encontrava com outras visitantes , enquanto aquela senhora , ao adentrar, foi logo rodeada pelas demais senhoras que ali se encontravam de tempos idos , admiradas que estavam , talvez, pela chegada de alguém de trajes e feições tão distantes de suas existências diárias.

Imponente, colorida , cheia de vitalidade e frescor de liberdade , aquela senhora em nada combinava com o ambiente e era inquietante o desejo de saber-lhe a destinação imediata.

Não havendo motivos para se conterem, as senhoras residentes aproximaram-se da nova senhora , tocando-lhe , com mãos trêmulas e curiosas de tudo , o seu refinado rosto de pele macia , o seu colar e brincos tão distintos e suas roupas finas.

A senhora , desconsertada , quis encenar um leve movimento de retrair-se mas acabou deixando-se ao sabor daquela apreciação inesperada.

Fiquei por um tempo a observar aquela cena , confessa de minhas próprias indagações, e , como não a vi dirigir-se a ninguém de seu conhecimento , silenciosamente percebi que sua presença se fazia com o intuito de ali permanecer entre as demais.

Ela, muito graciosamente , postou-se, de pé , ao lado da única cama vazia do recinto , como a aguardar alguma autorização para sentar-se e/ou ser convidada a ocupar o seu espaço - porém, ninguém veio em seu auxílio ou orientação - e , então, ela caminhou para aquele canto do quarto , deixando a sua mala sobre a cama , ainda sem sentar-se sobre a mesma.

O filho , dando mostras visíveis de íntimo duelo de emoções e sentimentos que o afligiam , e vendo-me a observar-lhe , veio a mim em seu socorro , declarando estar ali para deixar a sua mãe aos cuidados do Asilo .

Ele era casado, tinha filhos , e seu lar estava em total desarmonia desde que a sua mãe fora morar com ele depois de ter ficado viúva.

Infelizmente, com o passar dos dias, sua esposa e ela , não se entenderam de jeito algum , e , diariamente, ambas recorriam a ele em busca de sua aprovação e acusação concomitantes.

A cada fala insegura do rapaz , eu sentia a sua busca desesperada por encontrar justificativas plausíveis para a sua ação e , principalmente , algum assentimento através da minha audição atenta.

Disse-me, ainda, que sentia muito ter que deixar a sua mãe no asilo mas que não tinha outra alternativa.

Ela já gozara de sua juventude , de seu tempo de ter e criar a sua própria família , e ele , estava apenas iniciando a sua; era casado de poucos anos e , certamente, não poderia comprometer toda a sua felicidade em favor da sua mãe.

Ele e sua esposa eram jovens e tinham um futuro promissor pela frente. Sua mãe, certamente , entendia os seus motivos e o justificaria.

E foi assim que aquela senhora iniciou a sua história no asilo.

Tempos depois , em uma nova visita ao local , encontrei-a , novamente , agora , com andar de chinelos rastejantes, sem qualquer cuidado com sua imagem física , cabelos presos mal penteados , roupas muito , muito simples, sem cor e sem qualquer brilho nos olhos e luz física que lembrasse a sua nobre figura do nosso primeiro encontro.

Àquela época , passou a apresentar grandes dificuldades para enxergar ou , talvez, negasse a si mesma a visão exterior da sua própria realidade, necessitando, agora, do auxilio constante de suas novas amigas para locomover-se nas áreas externas ao seu quarto.

Sem motivação para viver no externo de si mesma , se fizera dependente e carente de tudo e assim permaneceria até o tempo que Deus lhe oferecesse a sua morada eterna.

Depois disso, não estive mais no ASILO , porém sempre buscava informações sobre ela com amigas que ali trabalhavam, até que , em 2011 , ao indagar por ela, mais uma vez, soubera do seu falecimento , tempos antes, no próprio asilo.

Não sei dizer quem responsabilizou-se pelo seu velório e enterro.

Também não soube quantas visitas ela recebeu de seus familiares desde que ali chegou ou se os seus netinhos foram visitá-la ou se entendiam a sua realidade.

Só sei dizer que não lhe deixaram alternativas disponíveis para além de resignar-se à "sorte" que lhe destinaram.

Realmente , me pergunto sempre se , de fato, poderemos ser felizes, intimamente , com alguém de nossa família sendo deixado em um lar para idosos ou abandonado em situações onde não possa ser cuidado com todo o respeito por sua trajetória de vida em nossas vidas.

Não tenho nada contra os lares de idosos , e , para determinadas situações , até penso que sejam essenciais e tragam mais dignidade à vida que resta ser vivida.

Entendo, igualmente , que há pessoas abusivas e violentas que são difíceis de despertarem em nós o humano sentimento de compaixão e caridade.

Sim, há essas pessoas no mundo. Há casos e casos.

Mas para todos os casos , há o que somos e expressamos.

E é sobre esse sentimento que daremos conta de nós.

Ação e reação.

( 01-06-2021 - terça-feira )

Obrigado nobres poetas e poetisas por tuas palavras.

rosangelaSgoldoni

Às vezes necessário para contenção de alguns idosos mas, na maioria das vezes, um descarte como um objeto a ocupar espaço na casa dos filhos. Mas esquecem que engrossarão as filas dos abrigos no futuro.

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Glaucia Amaral

Poeta Marcus, também já visitei vários asilos, são muitas histórias e indignações que sentimos, acho uma idade maravilhosa e que deve ser muito bem cuidada, afinal deram seu tempo de vida, para cuidar dos seus e são acima de tudo, dignos de ter seu tempo de retorno atenção e cuidado... trabalhei bom tempo de cuidadora, hoje estou cuidando da minha mãe, por nada deixo ela... pais são nosso fundamento. Ótima crônica que nos dispõe, meu apreço, tenha um abençoado dia de paz!

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ansilgus

Bom dia caro amigo/poeta/escritor...é de cortar o coração essa sua brilhante narrativa...poxa vida, e saber que isso ocorre com milhares e milhares de situações...é aquele tal caso, os velhos só servem para os filhos até quando lhe podem socorrer nas maiores necessidades...situações como essa que narrou nos enchem de vergonha e de arrependimento por viver numa comunidade tão mesquinha...meu abraço cordial...ansilgus.

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Calbertosantos

Uma história triste, infelizmente a ingratidão é de cortar o coração. Talvez o abandono e o descaso causado pelo filho amado a levou a desistir da vida, imagino a amargura que ela deve ter sentido no coração pelo desprezo por quem já deu a vida. Bom dia.

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lumah

Muito triste essa história. Infelizmente, acontece muito atualmente. Quando um dos dois parte, o que fica, sozinho, depende dos filhos, que, na maioria das vezes não dá certo, por falta de amor, de paciência, para com aqueles que lhes deu a vida. Ficar em asilo, um ambiente frio de afeto, muito triste mesmo. Não se sabe o que a vida nos reserva, mas, certamente, como educamos nossos filhos, não acontecerá isso. Muito real seu texto de hoje. Boa noite, Marcus. Abraços.

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TCintra

Perfeita crônica poética, censória e expressiva. Boa noite!

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Marisa Costa

História triste, doída, no entanto o cotidiano está repleto de casos assim; o descaso, ausência de sentimentos está em muitas famílias cujos filhos veem no idoso um estorvo e dão um jeito de livrar dele, muitas vezes se apossando do dinheiro da aposentadoria... Mas escolhas são escolhas e como nada nesta vida fica impune... cedo ou tarde há de responder por tais atos...Muito bom teu artigo, Parabéns!

Para o texto:

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Maripenna

Muito triste amigo, hoje em dia isto virou normal, eu olhei a minha com maior carinho...por isso durmo em paz e sinto muita falta dela, grata pela visita e se cuida, bjs lilás e flores.

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ErivasLucena

Tocante. Mas acontece com frequência, infelizmente. Difícil decisão para um filho ter que tomar. Que Deus nos abençoe, sempre.

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Atiz

É muito triste, mas isso acontece muito. Abraços.

Para o texto: RECORDANDO UMA TRISTE HISTÓRIA REAL. ( A TRISTE REALIDADE DE UM FILHO COLOCANDO A SUA MÃE PARA VIVER NUM LAR DE IDOSO, PORQUE ELA ESTAVA ATRAPALHANDO A VIDA DELE COM SUA ESPOSA. ) (T7270644)

Autor Desconhecido
Enviado por Marcus Rios em 03/06/2021
Reeditado em 04/06/2021
Código do texto: T7270644
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