Das Minhas Lembranças 2

No curto tempo em que militei no movimento sindical metalúrgico, conheci companheiras e companheiros que se se entregavam à causa com tamanha intensidade, que não era fácil acompanhar. Berzé e Maria Antonieta me arrastavam, mas de vez em quando eu escapulia para ver um filme ou para escrever A Construção da Estrada de Ferro.

Tinha um outro companheiro que não me sai da memória: Joaquim José de Oliveira, o Seu Joaquim. Tivesse vivo, completaria 100 anos nesse 2021 de pandemia e genocídio. Lembro dele com uma "capanga" preta pendurada no ombro, onde carregava boletins e panfletos. Ou ainda vendendo temperos de casa em casa, momento propício, para ele fazer a sua "pregação". Digo pregação por ele ser evangélico. Um evangélico, diria, diferente. Ele não se curvava diante dos adoradores do Deus Dinheiro. Contrapunha, e se os membros continuassem adorando o bezerro de ouro, ele rompia e ia à procura de outra igreja, arrastando consigo alguns fiéis.

Certa vez eu fora designado, para ser um espécie de assessor dele. Ajudá-lo a compreender a dialética; a luta de classes, enfim, dar-lhe um suporte teórico. Mas Seu Joaquim tinha convicção ideológica. Se algum rótulo lhe cabe, creio o de socialista cristão.

Me lembro bem dele, com sua voz de trovão ecoando nas assembleias do sindicato: "O trabalhador só come carne quando morde a língua". Uma frase que retrata bem os dias atuais, de desemprego, fome, corrupção e milícias.

Seu Joaquim foi o primeiro candidato negro e pobre a Senador por Minas Gerais. Ele merece um registro a altura de sua biografia: um livro, um documentário.