Triste demais para dar um título

Mais assustador do que ir em uma clínica de câncer, só tendo câncer, claro. Chegando lá, tive a sorte de ver um belíssimo aquário - por intervenção divina ou por um designer de interiores - (mais provável). Me desliguei de tudo e fiquei observando aquele aquário, vi uma Dory e um Nemo pequenininho ( para quem conhece os filmes). Poderia ter pensado em como eles eram livres nadando ali dentro, mas não faz o menor sentido ver liberdade em uma caixa de vidro. Nem em uma clínica. Não tive a mínima maturidade para encarar os pacientes, mais medrosa que eu não existe. Mais sentimental também não. Minha mente é a culpada, tudo nela se potencializa. Tudo bem, o filme da sessão da tarde que estava passando na recepção também ajudou. O tema? Doenças raras. Cirurgias de alto risco. Suicídio. Realmente era bastante motivador para quem estava lá. Então, mais uma vez, eu fui olhar os peixes.

Tirando vários velhinhos com cara de estrangeiros que jogam golfe, tinha eu. Inquieta, insatisfeita, triste por estar ali e, ao mesmo tempo, com raiva de mim mesma por estar reclamando em uma situação infinitamente melhor do que a de muitos.

Ainda hoje, tive duas sensações extremamente estranhas. Da primeira vou poupá-los. A segunda é a mesma de sempre, mas agora com o sentido de nunca: eu tenho múltiplas personalidades e (pasmem!) sofro em cada uma delas. Também tirei algumas conclusões ao longo da semana: não vou sossegar jamais enquanto não falar com você ( se você estiver lendo) sobre nossa tragédia particular, que é muito mais minha do que sua. Afinal, a dor é de quem tem. Também não vou viver enquanto tiver medo inclusive de mim mesma. Meu sonho é ser desprendida de tudo, especialmente da criatividade que eu acumulo em segredo nas madrugadas. Isso vira caos. Caos vira medo. O medo gera insegurança. Prazer, eu.

Há um samba que diz que a solidão é lava pura e que amarga na boca:

Solidão, palavra

Cavada no coração

Resignada e muda

No compasso da desilusão.

É, não existe um samba triste que não possa ficar mais triste na voz de Marisa Monte. Triste não, sentido. Adoro. Deve ser porque eu gosto de sofrer. Eu tenho cara?

Lembrei agora que descobri, no youtube, vídeos de uma conterrânea desconhecida que mostra a minha cidade. Eu basicamente sobrevivo disso nos últimos dias. É deprimente. Mas claro que tudo que está ruim pode piorar. A lembrança que eu mais tenho recordado é, na verdade, uma catástrofe de sentimentos que ainda habita em mim. Sinto que preciso resolver isso aqui dentro, nem que eu interprete um monólogo pra ele assistir, uma apresentação no PowerPoint, um cartaz, um banner, um aviso pregado no carro dele, uma carta, um desenho, um mapa mental, uma música, um poema (melhor não), um podcast, um livro, um gibi, uma live, enfim, qualquer coisa. Posso estar sendo novamente ingênua, talvez esteja completamente enganada, mas quem não surtou nesse isolamento?

1. Quero resolver minhas pendências da vida inteira;

2. Preciso urgentemente abraçar todo mundo;

3. Quero viver, finalmente (mesmo que nunca ter nascido seja uma opção viável em certos dias);

4. Quero estar bem o suficiente pra te encontrar e ter a conversa ( necessária, a meu ver) que você me negou;

5. Ou nada disso.

Talvez eu me arrependa de tudo que pretendo fazer, mas até a vida parece um grande arrependimento do universo. Um projeto magnífico e inacabado. Esquisito e estupefato. Complexo e inexato. E quem não é assim?