Ele disse: ninguém me ama


                       ...não existe mulher feia, e, sim,                                  uma mais bonita que a outra.                                            Antonio Maria

     
1. Hoje, homenageio, no seu centenário, o jornalista e extraordinário compositor Antônio Maria. Maria, como era chamado pelos amigos, nasceu no Recife, no dia 17 de março de 1921.
     Apaixonado pelo jornal e pelo rádio, ele exerceu seu ofício, sempre brilhando, na capital maurícia, aqui na Bahia, em Fortaleza, e, por longo tempo, no Rio de Janeiro, onde morreu, em um calçadão de Copacabana, o bairro de suas patuscadas e de seus amores.
     
2. Maria fez um jornalismo, falado e escrito, com comprovada competência e incontestável lisura como repórter policial e esportivo; e durante mais de quinze anos escreveu crônicas para grandes jornais e e revistas, como a "Manchete" e "O Cruzeiro".
     
3. Destacou-se ainda como inspirado compositor de músicas lindíssimas. Nunca esquecer que Antônio Maria foi o compositor, sozinho, de "Menino grande", canção dolentemente interpretada pela saudosa Nora Ney. Compôs essa música com uma finalidade específica, que mais adiante eu conto. 
     
4. O excelente cronista da Folha de São Paulo, Ruy Castro, no seu livro "A noite do meu bem", conta, com detalhes, como o Brasil ganhou "Menino grande".
     Sei, que muitos dos meus leitores gostarão de saber como surgiu esse samba-canção no mundo da Música Popular Brasileira (MPB). Peço a ajuda do cronista Ruy Castro para re- contar essa história. Vale. 
     
5. Diz Ruy Castro, in "A noite do meu bem": "A Nora ele (Maria) confidenciou que era compositor, mas ainda inédito - nunca  tivera uma música gravada". 
     E prossegue o cronista dizendo que Maria mostrou "Menino grande" à cantora, comentando "que havia composto para embalar a si próprio e gostaria que, um dia, uma mulher cantasse para ele".
     Nora prometeu-lhe , escreveu Ruy, "que, se viesse a fazer um disco, essa seria a primeira música que gravaria. Cumpriu a promessa pouco depois, em abril de 1952, quando fez seu primeiro disco na Continental com "Menino grande" numa das faces". 
     
6.  - "Dorme, menino grande, que eu estou perto de ti/ Sonha com o que bem quiseres, que eu não sairei daqui..." - Outras cantoras gravaram "Menino Grande", de Antônio Maria, que chamou sua composição de "samba-acalanto". E é. Dia desses, adormeci, em meio a uma violenta insônia, ouvindo "Menino grande", que é nada mais do que inda sou. 
     
7. Continuando com Ruy Castro: "No segundo semestre de 1952, a fase era de amor. Maria, sozinho, compôs "Ninguém me ama" - "Ninguém me ama/ Ninguém me quer/ Ninguém me chama/ De meu amor..."
     
Trouxe para minha crônica essas duas canções do Maria - "Menino grande" e "Ninguém me ama" - porque, nos meus tempos de patuscada, nas cálidas madrugadas de Fortaleza e nas madrugadas  "quase frias" de Salvador, eu as ouvia mil vezes. Elas me trazem, neste meu ocaso de vida, boas relembranças...
     
8.  Mas há uma música do Maria, que graças à ternura dos seus versos e a beleza da sua doce melodia, mexe comigo, hoje, alegre, curtindo a beleza dos meus cabelos brancos. A música é "Suas mãos", magnificamente interpretada pela saudosa Maysa Monjardim Matarazzo. 
     -"As suas mãos, onde estão?/ Onde está o seu carinho?/ Onde está você? == Se eu pudesse buscar/ se eu soubesse onde está/ Seu amor, você/ Um dia há de chegar/ Quando, ainda não sei/ Você vai procurar/ Onde eu estiver/ Sem amor, sem você".
     9.
Parceirolembrar Antônio Maria, em todos os tempos - e não somente no seu centenario - é dever dos amantes da boa crônica e da boa música. Homenageá-lo com flores e incenso. E não me digam que estou exagerando. É homenagear o belo...      
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 24/03/2021
Reeditado em 15/07/2021
Código do texto: T7215035
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