M8

"As mortes de negros causadas por violência física cresceram 59% no Brasil em oito anos, uma incidência 45 vezes maior que a taxa medida em relação a cidadãos brancos no mesmo período, segundo dados disponíveis do DataSUS consultados pelo UOL." 21/03/2020

Um encontro consigo mesma...a sociedade brasileira tem adiado esse tema.

Em um debate ocorrido no canal do YouTube "Pensar Africanamente"<https://www.youtube.com/watch?v=GJHR6x9al0E> neste sábado 20/03/2021, o tema foi: "Mais negros na Medicina, menos corpos negros no necrotério". De pronto o título causa um desconforto. A questão é: desconforto de quem? Por que o desconforto? Talvez esse questionamento revire temas, cuidadosamente, enterrados e caros para os que lutam para manter essa ordem . Investigando nosso passado fica claro que certos assuntos são proibidos. A luta entre as classes sociais, encontra sua motivação na "pouca inteligência negra" o que propiciou com que aos negros fosse negado o direito à educação. Se a população é de maioria negra, por que o negro não é maioria em espaços públicos de educação, cultura, em funções do judiciário?

Talvez esse acesso seja dificultado. No film M8 - quando a morte socorre a vida, essa situação é escancarada. Onde os negros são mostrados em ocupações de submissão, como domésticas, ou zeladores, porteiros, motoristas, enfermeiros, policias; nada contra à essas profissões, mas não se trata de opção pessoal, mas intencional de uma sociedade racista. Incomoda o negro graduado e ocupando o seu espaço.

O negro quando chega á Universidade percebe que o espaço não foi "pensado" para negros, menos ainda negras...Lá percebem olhares admirados, perplexos, incrédulos e que a todo momento cobrarão excelência na atuação profissional. Então se são corpos negros no estudo da medicina e eles são abundantes nos endereços de frequentes batidas policiais, no transporte público, na saúde pública, nossa população não é representada na academia ou com estetoscópio e bisturi na mão. Deve ser por que são a matéria prima de sociólogos que conhecem o povo nos livros e de médicos que só convivem com o povo nas aulas de anatomia como material de estudo, para quem nunca irá tomar conhecimento da fome do seu "objeto" de estudo no seu consultório, presente do papai. O genocida no Planalto, disse uma vez que: "o povo brasileiro precisa ser estudado por mergulhar em água poluída e não adoecer". O gracejo que fez rir as "hienas" que o cercam, deveriam cobrir de vergonha qualquer brasileiro que a tivesse!

Não esquecerei da mãe do protagonista, mulher negra, mãe solo que com muita luta criou o filho que hoje é um negro que conseguiu chegar na Universidade. igual a milhares de brasileiras que lutam com seu filhos nos braços, sonhando que consigam um lugar ao Sol. Delas o povo brasileiro herdou a força, a resiliência, a fé em si! As mães que buscam os filhos desaparecidos "nesse mundão de Deus" mas governado e cultuado pela sombra. Sombra que "produz" os corpos negros no necrotério e alimenta a desigualdade e as classes sociais. A classe pobre e miserável sempre formada majoritariamente por negros. Conseguiram entender como a conta fecha? A elite não anda armada, isso pega mal... mas arma os "capitães do mato" que fardados, praticam tiro ao alvo em corpos negros e são amparados pela lei como a séculos atrás.

Negro é o bandido, o escravo fujão, o trabalhador braçal, o que executa trabalhos insalubres, por que é a carne "mais barata" inclusive para o filho do "sinhô" brincar de "açougueiro". Mais um indigente, uma estatística, um negro que tombou, um M8.

Ps. O filme M8 - quando a morte socorre a vida, já não está mais no YouTube, pena!