O genocida e os Descartáveis

Ouvi um relato do Pe. Júlio Lancelotti que falava de uma parte da população de rua que dorme em cemitérios... difícil falar da cena que se formou na minha mente. Que sociedade é essa que condena uma parte do seu povo a descansar onde é o descanso final? O pior dessa visão que nem a esse pedaço de chão terão ao derradeiro dormir!

Para essas pessoas viver é criminoso, pois o pão nem sempre chegar para aplacar a fome, sobrevive de restos aqui e ali. Visão indesejada aos olhos do dinheiro, não seria por causar indignação mas por destoar da paisagem. Como uma casa mal cuidada deveriam ser varridos para baixo do tapete e assim assumissem sua invisibilidade.

São a negação da meritocracia, por que se o que lutam todos os dias lhes proporcionassem vida digna, deixariam essa triste paisagem. Não são números, são histórias, são lutas! Que essa pandemia deixa a incompetência ou a má vontade de governos a céu aberto. O amanhã deles, não é pensado. Não deve estar lá amanhã.

-"Que a chuva molhe seu cobertor!", "Que o Covid o leve", "eles enfeiam a cidade", "são vagabundos", "Não são filhos de Deus!" Aos cinquenta e seis anos, penso que a humanidade morreu faz tempo...Onde foi que nossa empatia ficou? Parou para descansar e desistiu de nos iluminar? Onde o cristo decidiu que ficaria no altar e deixou de nos falar? Deve ser quando o fizeram branco de olhos azuis e não se reconhece nesse povo mestiço, que anda descalço e com fome.

Acho que minha pouca fé não O vê no choro faminto da criança, embrulhada em trapos, no colo de uma mãe que junta suas forças para dar o peito. Ou no Jovem que percorre o lixo em busca de "tesouros" jogados ao léu. Numa menina que o ventre crescido denuncia uma gravidez que a sociedade hipócrita ignora mas a Criança assim que nascer torna-se mais um lixo para varrer. Ninguém nessa imagem pediu para ali estar. Talvez se não fossem tratados como pesadelo de muitos, tivessem escola, estariam protegidos sob um teto. com o pão necessário, o trabalho digno e o curativo para suas feridas. Então silenciem as novenas, a Salve Rainha proferida pelo coração que desonra o Filho, não será atendida.

Acumulam o ouro que roubam dos famintos, usam coroas cravejadas de diamantes das lágrimas dos esquecidos ao som de Wagner que embalava os delírios de outro assassino maldito, mais um que roubou o ar precioso de alguém! GENOCIDA!