Para todas as mulheres

A celebração do Dia Internacional da Mulher é aquela data que geralmente nós mulheres queremos fugir – tudo bem, talvez apenas eu e algumas mais ousadas. É que o discurso, o dia, a retórica parecem a mesma ano após ano. É um momento de reflexão sobre quão longe as mulheres já foram, agradecer as que abriram o caminho, defender o que é necessário e lutar para continuar quebrando barreiras.

Todo ano, essa data é pauta cheia nos jornais, nos programas de entretenimento, nas redes sociais. As programações são feitas por elas e para elas, dando uma visibilidade que fica esquecida no restante do ano. Os focos são os mesmos: as mulheres que superaram as dificuldades, as que alcançaram cargos de liderança, as que dominaram o empreendedorismo. E tudo isso deve ser celebrado mesmo. Há aquelas comemorem os avanços tímidos, porém promissores e aquelas que se queixam de os avanços terem sido poucos, ínfimos, insuficientes.

O dia das mulheres é um dia de guerra. Sei que é muito associado ao incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist, em Nova York, em 25 de março de 1911. Mas, a ideia de celebração anual surgiu nas Conferências de Mulheres da Internacional Socialista, em Copenhague, em 1910. As russas foram muito ousadas em lutar por direitos em meio a instalação de um regime autoritário.

Queria não ter notícias tristes nesse dia. Mas é um fato que as mulheres foram mais prejudicadas pela pandemia. Segundo o IPEA, essa é a menor participação das mulheres no mercado de trabalho em 30 anos. De cada 10 pessoas que não trabalham e não procuram emprego no Brasil, 6 são mulheres para 4 homens. Os empregos das mulheres correm mais riscos, segundo a ONU. Se você tem filhos então, as chances de conseguir um emprego caem drasticamente.

Além disso, as informações mais recentes de 33 países da América Latina e do Caribe mostram que os feminicídios ultrapassaram os 3.800 em 2019. Os números oficiais de 2020 ainda não saíram, mas caminhamos para superar esses números. Infelizmente, o isolamento social trouxe as altas taxas de violência contra as mulheres.

Todavia, quero fugir um pouco desse discurso de vitimização que a data invoca. Não que estejamos com a vida ganha, mas creio que já mostramos a que viemos. A nossa voz está ecoando na sociedade. Conseguimos mostrar nossa competência e inteligência. Há muito a ser feito, mas é inegável o que já conseguimos.

Vamos aproveitar esse dia para fazer um brinde à nossa importância para a sociedade, para as nossas famílias e sobretudo para nós mesmas. Vamos valorizar o que temos de melhor: a nossa paixão, a nossa bravura e o bom humor permanente, a nossa determinação, a nossa força e garra em vencer, diante de tristezas profundas. Precisamos de mulheres à nossa volta. Exaltemos essas maravilhosas que nos ajudaram a ser quem somos e sonhar em ser mais.

Peço licença para abrir uma garrafa de vinho e fazer um brinde para todas as mulheres.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 08/03/2021
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