Todos somos brasileiros? (Coletânea)

Brasil em tempos de pós-verdade(fake news)

1- Caos

Tudo de ponta a cabeça

O dito pelo não dito-

não importa mesmo

não faz sentido!

o choro provoca riso

Sou contra do a favor

torço para dar errado

por amor!

Confusão se instalou

o lógico se confundiu

a civilização sucumbiu

receita a voz que mata

escravidão por opção

a paz que louva o canhão

num chão

que esquece que é nação

a arma no lugar da oração

a vida deixada na mão

criança morre

mais um negro no chão

vai passar de milhão

sem socorro, sem ajuda

sem opção

mais um cortejo de tristeza

neste injusto chão

caos, confusão

negligência, omissão!

Plano urdido pela ambição

SANDRA CORRÊA NUNES 20/05/2020

Brasil atual

2- Quem?

Quem é esse

Que ri da dor

Que não estende a mão

Que é incapaz de compaixão

Que guarda vidas em um caixão

Para os seus vendeu ilusão

Fez miserável uma nação

Semeou ódio em irmãos

Em covas planta escuridão

Roubou as cores da União!

Enfrentará colorido batalhão

Diferentes pavilhões

Juntos caminham mostrando

Direção!

Braços dados, uma convicção

Parar a morte e destruição!

SANDRA CORRÊA NUNES 02/06/2020

Sem maquiagem

3- Nunca foi segredo

Aos quatro cantos

Destilava seus instintos genocidas

Seu asco por mulheres

Só via nelas depósitos de sua sujeira!

Exagero? Não! Descrição fiel!

Quem sente amor por esse ser

Vive também abaixo do chão!

Não é gente!

Negros avaliados em "arrobas"

No seu ver, preguiçosos

Pobres deveriam ser esterilizados

Não deveriam reproduzir

Só valem o voto (nele)

Depois só lhes cabe a morte

De fome, de doença, de desespero

Futuro somente para alimentar

Os sanguessugas que se imaginam deuses

Aqui entre os viventes!

O ouro que ostentam

É nosso! Por direito e justiça!

Podem crer, vamos cobrar!

SANDRA CORRÊA NUNES 03/06/2020

Mirtes, mãe negra solo, empregada doméstica trabalhando durante a pandemia.

Miguel, 5 anos, caiu 9 andares quando estava na responsabilidade da patroa Sari.*

4- Par de asinhas

Nuvens de algodão

Acariciam inocente

Coração temendo a solidão

Buscava o carinho

O afago, o ninho conhecido

Asas solicitas e atentas

Embalam a chegada que parte!

E o sorriso travesso

De outros inocentes

Saúdam o novo coleguinha!

Outro par de asinhas!

SANDRA CORRÊA NUNES 05/06/2020

Ser brasilheiro é resistir

5- Derrotados NÃO!

O cansaço está aí

A indignação, a frustração,

O desamparo

O dia ganha contornos de fardo

Já não encaramos

Como vida que segue!

Amanhece o dia como

Um carma:

Qual a sandice de hoje?

Nos roubaram os sonhos

A esperança está na UTI

Almas áridas

No comando

Sádicos, mal amados,

Fazem do desespero

O viver dos governados

Não deixam sequer

Que percebamos a beleza

Do céu que insiste

Em nos lembrar

Que as coisas lindas

Existem apesar de tudo de ruim

Que querem nos impor!

Cansados sim!

Derrotados NÃO!

SANDRA CORRÊA NUNES 05/06/2020

A prole do poder compra mansão em Brasília, ratos se fartam...

6- Acerto de contas

Acerto

Por todos que se foram, por todos que ainda vão, temos o dever moral de resistir! Hoje está claro que declararam guerra aos brasileiros! Não cabe se omitir! Nem chorar! Sob pena de contarmos os mortos e não podermos encarar nosso futuro! Desde 28 de outubro de 2018, tenho clara essa visão... Levei meses para conciliar o sono mesmo a realidade sendo um pesadelo diário! Dias estranhos, sem paz ao dormir, sem esperança ao acordar! Vida fardo! Não acredito em quem tem o comando! Nesse carro desgovernado que é o Brasil, temos de ter a hombridade de avaliar o quanto contribuímos para que saísse tanto do caminho! Hoje temo por nossos filhos! Por herdarem de nós uma dívida que vem de longe! Um mundo que está assim desde antes de eu nascer! Só que não cabe mais "passar a batata quente" adiante! Empurrar a sujeira para debaixo do tapete! A limpeza já foi muito adiada! Não queremos que nossos filhos banquem a

faxina! Os ratos estão em cima da mesa!

SANDRA CORRÊA NUNES 14/06/2020

Autoritarismo e dominação

7- No fundo

No fundo

Do lago uniforme

Águas turvas, densas

Inexploradas, obscuras

Esquecidas ou negligenciadas?

Inconfessáveis segredos

Silêncio e medo

Mantém calmo

Espelho

Do céu

Fel

SANDRA CORRÊA NUNES 18/06/2020

Paralelo entre a realidade brasileira, o filme “Bacurau” e o desenho “Vida de inseto”

8- Formigas de Bacurau

Desde o dia 17 de Março estamos aqui! Nossa janela e porta é a Internet. Para ser justa, minha voz também. Tenho uma filha autista que passa boa parte do dia assistindo vídeos no YouTube. O preferido é o "Vida de inseto".

Ontem, por conta do Dia do Cinema, o Telecine fez uma sessão gratuita do filme "Bacurau". Já assistimos no cinema. Nos sentimos muito impactados e durante dias esse foi o tema de longas conversas e reflexões.

Recentemente, em 2019, assisti "Democracia em vertigem", foi um "tapa na cara" que provocou em mim um olhar mais crítico sobre o Brasil sobretudo!

Minha visão já não era o meu "mundinho", meus problemas, tudo se tornou pequeno diante da dor alheia!

Somos um povo que se fez na diversidade cultural, de histórias e de oportunidades. A fome marca e dita o ritmo da vida e a estrada. Trabalho é a regra e a pobreza a condição da maioria. Como as formigas do vídeo! Trabalhamos para nos alimentar e para alimentar os gafanhotos. Conformados com este "carma" . Aprendemos a não questionar o porquê desta ordem das coisas.

Como em Bacurau, seguimos nossa história, sendo enganados por políticos e políticas que nos mantém obedientes e servis, ano após ano. Trabalhando por comida, por vida!

De repente surge alguém que nos faz ter consciência de nossa situação! Prova que temos o direito de ser. Que nos desperta para o nosso valor, nossa capacidade de mudar rumos de nossa história! Quem tira a "venda" de nossos olhos torna-se inimigo do "sistema", da ordem pré estabelecida das coisas. Aprendemos a pensar por nós e ao mesmo tempo nos outros.

Sempre tivemos de lutar contra os "gafanhotos gringos" que nos exploram, nos humilham, que nos mantém como " cavadores de terra" que não precisam pensar! Ou "latinos" nunca percebidos como iguais na mesa da riqueza!

E nossos algozes percebendo que abrimos os olhos e construímos saídas, destroem nossa autoestima, destruindo nossa confiança em nós mesmos! Nos convencem que somos o que pensam e sentem por nós!

Somos mais!

Somos um povo que já nasceu resistindo. Não aceita nenhum jugo! Quilombos, capoeira e caras pintadas para a guerra dão o tom! Nossa alegria, genuína, que brota onde arrancaram lágrimas. Por que temos direito ao sol! Sol que é o mesmo para todos e todos podemos existir sem explorar, sem que muitos sobrevivam com migalhas que caem das mesas dos ditos "Senhores da vida e da morte" dos demais! Existimos e não somos descartáveis!

SANDRA CORRÊA NUNES 19/06/2020

Quando dos 50 mil mortos…

9- 50

A gente tenta

Inventa um jeito

De aguentar

A tormenta

E não inocenta

Acorrenta o discurso

Que o ódio alimenta

Atormentada nação

Que adoentada se deita

Lamenta a sorte

Imposta por lodacenta

"gente"

Despeja marrenta

No futuro que se levanta

SANDRA CORRÊA NUNES 21/06/2020

Da série “Insanidade ruminante”, ou você se diverte, fica perplexo, se indigna, se entristece, se revolta...Ou você é o motivo disso.

10- Insanidade ruminante III

Essa tem como figurino a farda...mas pode ser o verde e o amarelo!

Um brinquedo que gira: o "Twist", assim ficamos os mortais "normais" no fim de cada dia de nossa "odisséia"!

Ufa! Saímos vivos!

Com a"peste" solta, caçando incautos, teimosos e heróis! Um (des) governo, que nem uma "maldição bíblica" seria tão nefasta. A educação a caminho do quarto ministro, a saúde que não veste jaleco - veste farda, sem problemas se soubessem aferir uma febre... Devem saber marchar nos corredores do ministério! O ministro do meio ambiente destrói tudo ao se omitir, conivente. A ministra dos direitos humanos é desumana. Tenho a sensação que nem mulher é! Submissa, apagada! Uma sombra que quer ser imitada. Tá! Ela dormiu o último século inteiro e não cresceu! Os indígenas são fortes e viveram muitas agruras, com tristeza vivem a guerra mais difícil de seus 520 anos de história! O povo pobre e sofrido reúne as forças para mais uma vez cerrar o punho, pintar o rosto, desviar da chibata! "Aperta o cinto" para enganar a fome, pois até a água venderam! Disse Darcy Ribeiro que a ignorância do povo era um projeto! Projeto de quem odeia esse povo! Essas pessoas têm lado, têm cor, têm traje! Se vendem! Nos vendem! Nos envergonham, e se humilhando, nos humilham! Não nos representam! Se torrarão nesse redemoinho de fogo e suas cinzas, o vento levará!

Nós?

Reconstruiremos!

SANDRA CORRÊA NUNES 01/07/2020

O messias de Covid-19, será?

11- Insanidade ruminante IV

E o ruminar tornou-se indigesto! O garoto propaganda do medicamento se virou cobaia da sua própria receita! Com muitas vantagens; diferente do gado que acredita piamente no messias!

Vai tirar de "letra" a "gripezinha" que já vitima 60.000 brasileiros!

Seria o "Gran Finale" da tragédia brasileira?

Enquanto a "justi$$a" se limpa da lambança que fez com uma "diarréia crônica" de 500 anos ! Talvez o Covid-19 faça com as próprias mãos a JUSTIÇA e coloque freios ou arreios no "indomável"!

O (des) governo segue com os pais cegos e negando seu DNA! Militares de "pijama", vivendo da antiga fama de"durões", se transformaram em "babás" de uma "criança mimada" e de uma família que, há muito deveria estar na Papuda!

Pessoas que prezam sua história não se sujarão se tornando parte do governo! E o país segue sem ministros em pastas vitais!

Triste fim para uma história que começou errada, mal contada e omitida de quem põe comida na mesa do "patrão"!

Mais uma semana com a sensação de "Déjà vu", onde se fala que não é, mas já viram esse filme!

Vamos sair do cinema e pedir o dinheiro de volta? Ou vamos assistir mais sem reclamar?

SANDRA CORRÊA NUNES 09/07/2020

12- Setenta mil caídos

"Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita, tu não serás atingido." Salmos 91:7

Disse o salmista! Para cantar o poder de Deus!

Ou seria a Ira Divina?

Vemos entre os mortos inocentes, pecadores, viventes!

Os doentes estão com a passagem marcada e como os outros, são "números" a cair!

Se "deus" tem essa tragédia como estratégia, não é ele o Deus que acredito!

Presença da ganância, da falta de empatia, da desumanidade de alguns "messias" que ousam destruir a Criação!

Que morram dentro de seus cofres abarrotados de dinheiro e sangue!

Querem fazer aqui o seu reino de sofrimento e injustiça! Não são Deus, nunca serão!

Podem, por enquanto, desdenhar a dor alheia e o sujeitar uma nação inteira! Mas o povo já ergue os olhos ciente de sua dor e da vindoura mudança! Mudança de ares, de sentidos! Não mais gemidos aflitos! Não silente omissão! Brota dessa terra que sujeitas à humilhante degradação, um Grito, um Punho, um Levantar que farão voltar às profundezas que saíram! Virão! Sentimos os Sinais!

SANDRA CORRÊA NUNES 12/07/2020

Já são 100 mil...

13- Cem mil

Quando tombam cem mil

Em uma guerra que dura

Quinhentos anos e apagam

Luzes de Marielles, Evaldos, Miguéis

Pergunto, por que não tombam generais?

A patente os torna imortais?

Ou é um plano de eliminar os normais

Que sentem fome, que se emocionam

Que de verdade lutam

Que sonham a dignidade de um povo

A Soberania que levanta

Usurparam nossas cores

Trocaram

Alegria em dores

Sequestraram o Brasil!

SANDRA CORRÊA NUNES 09/08/2020

520 anos de desmandos e desigualdades , porém não em silêncio!

14- Poesia indignada

Cinco séculos de erros,

Mãe índia, mãe negra,

Choram mães nessa terra

Que não é gentil!

Choram de fome

Junto com seus filhos,

Ou ao lado da cova

O filho "matado"

Compartilhando da ignorância

Projetada desde o começo!

Escravo bom tem bons dentes

Maneja bem a enxada!

Na vida só o direito à cova

Diga sim senhor!

Não senhor!

Sinhôzinho pensa por mim!

Os pobres geram a mão de obra barata

(Des) educada para isso

Carregam nos ombros seu algoz!

Mulheres indignadas com o destino

Tão aviltante

Rebelam-se, pensam, sonham

Uma estória menos triste!

Carolina Escreveu

Lélia falou "Pretoguês",

Sueli Filosofou,

Conceição Poetisou,

Marielle Contra a milícia Lutou

Ludmilla gritou #EleNão

Nesse chão tão injusto e desigual

O país pagou para ver se dar mal!

Uma vai - outra brota

Renasce o sonho coletivo.

E do luto faz-se a luta!

Negro não só labuta!

Escreve seu destino

Honra seu passado

Tambor marca o ritmo

Do futuro almejado

Onde a Liberdade

Não seja um conto inacabado!

SANDRA CORRÊA NUNES 15/08/2020

Uma criança de 10 anos, sistematicamente estuprada desde os 6 anos por um tio… Engravida e é molestada por parte da sociedade por fazer aborto LEGAL! Sociedade hipócrita, que não se importa com a gravidez de risco para proteger o feto, e quando nasce em uma família desestruturada com todos agravantes para a falta proteção da infância.

15- Infância interrompida

Riso alegre, inocente

Primeiros passos ensaia

Um futuro construir

Encantar nas pontas dos pés

Ou driblar as dificuldades da infância pobre

Quem sabe do piano sonhar acordes

Ensinar aos pequeninos o "Be a Ba"

Ir numa missão espacial

Descobrir uma cura

Plantar esperança

Tudo poderia ser...

O sonho viver

Mas alguém sem sonho

Trouxe dor, horror

Desaparece, ninguém percebe

O grito mudo, abafado

Socorro!

Cantigas de roda

Bonecas debocham da tristeza que enterra o sonho

Como assim?

Uma criança gerando outra?

Que mundo é esse?

Por minutos de prazer

Suga o frescor da infância

Estupra seus sonhos

Afago não mais

Só o dedo acusador

Que sem se preocupar com a dor

Que a criança escondida

Chora por nós

SANDRA CORRÊA NUNES 18/08/2020

A morte que domina a alma brasileira...

16- Morto vivo

O frio intenso

Ventos bélicos nesse

País que agora personifica alma

E o coração da gélida pátria

Mãe dos de igual coração iceberg

Com suas cobertas e estômago cheio

Planejam o fondue e bebem vinho!

São incapazes de se importarem com o que

invisibilizam faz tempo, séculos!

Que importa se quem faz a comida não tem o que

comer?

Estou aquecido, que me importa se crianças

sentem frio?

Se passo dias sem ir a um cômodo da minha casa?

Minha solidão está lá!

Se minha dispensa transborda, em breve jogo fora

o que não tenho tempo de gastar!

Meu dinheiro compra quantas roupas quiser...

Não sou centopéia mas teria que ser para usar

meus sapatos de uma vez! Seria perfeito!

Quero que todos vejam o que sou, o que tenho!

Sabe com quem está falando?

Um infeliz que não precisará de todo seu latifúndio

Para largar o nada que é!

SANDRA CORRÊA NUNES 23/08/2020

Realidade sem teto. Sem cobertor, sem pão, sem educação, sem saúde, sem pão. Inexiste. Sandra Corrêa Nunes

17- A brota

Que sonho traz a pequena vida

Que o jornal aquece o pobre colchão

Talvez ali se alfabetize

E mude miserável quinhão

Nu, sem pão, sem chão

Talvez nem caixão para o derradeiro valão

Na fome nasceu, na labuta viveu, sem sonho

morreu,

Algum dia viveu?

Mas a vida persiste, e num grito quebra o cinza da

estória, que o destino cruel risca

E mais um chega para reescrever

O final.

SANDRA CORRÊA NUNES 30/08/2020

A fuga dos animais no Pantanal e na Amazônia em um Brasil governado por um GENOCIDA que não satisfeito em exterminar índios transforma a Natureza em inferno!

18- Lágrimas

Sem rumo, desorientada

A casa segura morada em inferno transformada

O ninho de carinho construído de nuvem escura se cobriu

A sinfonia da vivente floresta

Em desespero se uniu

O "choro" do filhote, não alcança a cuidadosa mãe

Que num último gesto abraça o filho ...

Maldito o bicho homem que se acha

Senhor do bem e do mal,

Que com sangue derramado

Constrói seu reinado

Não ouve do pássaro o gorjeio

Do tatu a súplica de um segundo mais

Da fonte, "me levem lá para ajudar"

O índio de olhar cansado chora pela terra

Motivo e destino seu e dos seus

Construir um novo lugar

Onde a vida seja benção

A paz seja o horizonte

Que o filhote viva o amor que constrói o futuro

E perdoe nossa sede de morrer de fome

Dentro de um cofre de ouro abarrotado...

SANDRA CORRÊA NUNES 16/09/2020

Desesperança nacional

19- Sonho insone

Quanto vale a lágrima

Que seca ao vento

Pelo o vazio da fome

Pela injustiça sem nome

Pelo sonho que abandone

A noite insone

Pela manhã sem amanhã

Sem o homem.

Que não se faça a lágrima rolar

Que não haja fome

Justiça seja o nome

Que nosso sonho some

Que o sono digno

Anuncie o amanhã

Humano

SANDRA CORRÊA NUNES 04/10/2020

João Alberto Silveira Freitas, um homem negro de 40 anos, morreu na noite de ontem após ser agredido por dois seguranças - um deles PM temporário, fora de serviço - no supermercado Carrefour, na zona norte de Porto Alegre, às vésperas do feriado da Consciência Negra. UOL

20- Tem um sangue ali

Tem um sangue ali...

Que chora a humilhação

A degradação de ser

Que mal disseram o nascer

Cuidaram para futuro não ter

Tem um sangue ali

De uma vida

Arrancada da Mãe

E ser nada viver

Que a dor é ignorada

Esquecida, apagada

Menosprezada como um nada

Nada é sofrer

Não tem fotos na memória

Negam a história

Pra calar o grito sofrido, doído

Desumano, que foi negado o ser

Tem um sangue ali

Da infância perdida

Como a bala

que o dedo genocida

Sentencia morrer no ninho

E não florescer

Tem um sangue ali

Do mesmo alvo

Que desde o nascimento desse chão

Determinou que vida não importa

Não importa não!

SANDRA CORRÊA NUNES 20/11/2020

21- Mérito

Para começar a conversa de hoje, vou relembrar uma situação que vivi em 2017. Voltei da minha Colação de Grau, no dia 15 de fevereiro de 2017. Em casa, devido aos últimos dias bem cheios estava cansada, na manhã seguinte decidi lavar meu cabelo e não fazer “chapinha”. Fiz isso durante muito tempo em minha vida, e essa rotina não me incomodava, porém decidi que não faria mais...

Foram muitas reações e muitas delas de reprovação. Uma delas me deixou irritada e perplexa. -Agora que você se formou, precisa “andar” de forma condizente.Então pelo fato de ter me graduado deveria vestir roupas e ter comportamentos de acordo com minha “nova” situação... me indaguei - qual a situação? Eu continuava a mesma coisa de uma semana atrás.

Levei um tempo para entender. Poucas pessoas conseguem se graduar e por isso eu passei a, “fazer parte de um grupo privilegiado”. Demorei perceber que aquele “lugar” não é reservado para todos. Atentei que poucas pessoas chegavam a completar a graduação, outras com muita luta sequer conseguiam entrar na Universidade. A primeira conclusão que cheguei, foi que o fato de ter estudado do 5º ano do Fundamental até o 3º do Ensino Médio em uma escola particular, me proporcionou uma base boa para tentar um vestibular (ainda era assim) 28 anos depois que concluí o Ensino Médio. Trago dessa época algumas amizades.

Sou um elemento fora da curva. Pobre, negra e apesar de não ter herdado mais traços da minha mãe, meu cabelo é crespo, lábios grossos... Porém não percebia que sempre de forma velada me diziam que meu cabelo era feio, dentro de casa mesmo. Quando me percebi negra, vi que desde cedo negava minha identidade. Comecei perceber que existia um grupo de pessoas que são na sua maioria empregados domésticos, a maioria “peões de obra”, crianças preteridas nas apresentações escolares, que se alimentavam na “caixa escolar”, com uniforme surrado e que invariavelmente acabavam abandonando a escola. Muitas vezes por necessidade de trabalhar ou por que ao ver seus pais trabalhando e (sobre)vivendo, chegam a conclusão que não vale a pena estudar...

Não citarei estatísticas porque muitos de nós percebemos a desigualdade em detalhes que apenas confirmam que as oportunidades não são para todos. Quando bem cedo precisam começar trabalhar para ajudar a família, quando a comida é para enganar a fome. Quando se veste com o que o dinheiro pode comprar. Quando o anúncio de emprego diz ”boa aparência” e a autoestima desde a infância concorda que o emprego não é para você. E você olha o mundo confirmando todas as injustiças que não tem coragem de denunciar...”sempre foi assim”, quem sou eu para mudar? Então leio que morre um jovem negro a cada 23 minutos.

Que chances essas pessoas tem? Falam da música com a letra violenta, mas como falar de flores se o único jardim que conhece é o cemitério? Como falar de esperança se balas perdidas/endereçadas matam crianças? Que futuro tem os que desde cedo olham nos olhos da dureza de viver? Se meninas são entregues na mão do algoz e que com lágrimas aprende que está só. Que assiste a mãe ser surrada por alguém que deveria dividir a criação dos filhos. Então não aprendem a sonhar. Só juram não morrer na escravidão. Conto de fada conhece quem sempre teve chão, pão e aprendeu que tem coração, educação e que a vida nunca disse não. A Justiça já te acusa o crime, essa maldição da cor te acompanha do nascer ao suspirar para morrer. Não importa de que forma, se o amor abençoa, já nasce predestinado a ser amaldiçoado por um monte de ”enxofrado” que nesse mundo errado não te dão chance , não! Vai se sujar carregando terra, tendo apenas ela para comer às vezes e depois usar para cobrir quando descansar de vez.

Existe algum mérito em viver assim?

SANDRA CORRÊA NUNES 12/12/2020

Raio X do ano morto

22- 2020

Não foi um tempo fácil

Foi um tempo de medo

Um tempo de angústia

Em que o sonho foi sequestrado

Não bastava nosso futuro destruir

Nos privou do sol de cada dia

Do abraço, da empatia

Tornou-se criminoso o existir

Muitas lágrimas solitárias derramadas

Outro parto aconteceu desde então

Resistir, recomeçar será preciso

Para que nosso futuro como nossas Sementes

Habitem este chão...

Erramos muito, precisamos encarar isso

Para sermos respeitados e sermos guias

Para as futuras gerações mostrando que

Aprendemos, corrigimos a rota e fincamos pilares

Agora vivam, conservem todo seu tesouro comum

E iremos em Paz!

SANDRA CORRÊA NUNES 24/12/2020

Identificando as estatísticas… Culpados ou não essas pessoas eram amor de alguém!

23-E são 200 mil

200 mil nascimentos,

200 mil nomes, corações pulsantes,

200 mil choro de vida e de emoção,

200 mil travessuras, amarguras,

200 mil não, a educação, ao pão,

200 mil sem ilusão, sem chão,

200 mil sem trabalho, vagabundos que são.

200 mil cuidando de irmãos em condição servil.

200 mil sem futuro, sem história que para o Brasil nunca existiu...

200 mil estórias, que amanhã, a vida já esqueceu.

Por que agora , chora a dor, agora o vazio transborda

O eco de revolta bate no céu!

200 mil amores, 200 mil genitores, 200 mil flores

Banhadas por lágrimas da vida ceifada sem se despedir

Muitos fortes que a covardia de um só levou.

Devolveu tristeza

Plantou desesperança

Nesse chão que cansou de buscar a união!

SANDRA CORRÊA NUNES 09/01/2021

Hipocrisia nacional

24- Racismo, desigualdade e violência

A fala de José Bonifácio de Andrada se referindo ao povo negro, deixa clara a posição do Brasil em relação à uma parcela da população cada vez maior. José Bonifácio fala em “mácula” que não poderá ser apagada, que é a cor. A afirmação: “Negro, não!” resume os ânimos do poder e das elites, em relação à cor negra. Um tratado de não ascensão por parte das classes dominantes em detrimento dessa população , inviabilizando a ascensão aos postos de poder. Ao mesmo tempo foram criadas regras institucionais que, de forma velada, se promovia a desumanização do povo negro. transformados em mão de obra sem alma, um número. Para o poder e as forças de segurança, o negro além de ser visto como um número, é considerado um perigo a ser mantido dominado como um inimigo potencial. Daí o Racismo de cor, quase uma "declaração" que a cor negra carrega em sua essência todo o mal do mundo. Nessa perspectiva são retiradas todas as chances de ascensão social. O acesso à cultura, que poderia ocasionar novos contatos sociais e reconhecimento, são negados através da educação oferecida à classe popular , esta reafirma o lugar que será ocupado por essa classe. Sem uma educação de qualidade, ele ficará fadado à realização de trabalhos degradantes ou sofrerá castigos e punições físicas e aviltantes. Sem qualquer chance de mobilidade social, com a violência e o racismo estrutural dispensados a essa população desde a primeira Constituição Imperial de 1824. Desde então. os negros cumprem um destino de serem perseguidos/eliminados como uma mácula a ser extirpada. Os pobres negros não têm vida como seres humanos comuns, possível é sobreviver. Nessa parte da população a Desigualdade de classe é evidenciada. Por conta do racismo entranhado na sociedade, essa desigualdade é minimizada e até invisibilizada, tornando invisível a população pobre e negra. O branco pobre,” não usou bem as vantagens , para ele acessíveis” , no caso dos negros, “não são gente”! Doeu a constatação? É exatamente assim que pensam e agem. Para garantir que esta situação não se modifique, não investem em educação de qualidade e essa população sem opção de trabalho, mesmo pesada, vê no tráfico a solução para levar comida para casa. Nesse quesito é necessário o esclarecimento que os grandes traficantes NÃO moram em subúrbio, lá só moram os "aviõezinhos", e os "capangas'' locais. Nesses locais vale a lei do silêncio para continuar vivo. Assim se mantém um “batalhão” de “aviõezinhos” e o futuro de todos é destruído. Figuras perfeitas para "vestirem" o papel de bandidos para a sociedade branca e racista. Disposta a armar “caçadores”, “justiceiros” que “miram na cabecinha” e mais “um tomba”. A Violência encontra significativa representação. Em nome disso toda a truculência policial é justificada e aplaudida por falsos moralistas. que aos brados recriminam o aborto, porém assim que nascem pretos pobres tornam-se “pivetes” alvos preferenciais da polícia.

Sociedade sádica, racista, branca e hipócrita. Afinal, se não existirem pobres como poderão posar de “caridosos”? O fato é que, o Racismo, promove a Desigualdade e alimenta a Violência contra os negros.

SANDRA CORRÊA NUNES 24/01/2021

O genocídio governamental

25- O futuro que respira a morte

Noite estranha esse 2020,

Começou no susto de 2019.

No desejo que a virada da noite,

Nos acordasse suspirando do pesadelo.

Dizia logo ali, o futuro...

E o dia amanheceu já com o enredo determinado,

O Brasil de várias formas subjugado, por mãos levianas enganado.

O pesadelo durou dias e noites,

E que não havia um só, que não rogássemos que o castigo fosse finalizado.

Dia após dia, o pão era tirado.

Cada vez mais um desesperançado...

Mundo sádico.

Não veio a chuva de bênçãos proclamada nos púlpitos,

Afinal, o messias governava a nação.

Usaram deus para ludibriar o povão...

Não só ele, todos que foram inoculados pelo ódio vindo da comunicação

O país se perdeu, se esqueceu, morreu.

Deixou seu povo chorando no escuro, qual criança abandonada à sua própria (má)sorte.

E veio a peste, silenciosa, traiçoeira, ajudando a besta a derrotar a esperança derradeira.

Chove e chora o céu por muitos que se foram, inocentes ou não,

A morte é igual quando deixa órfão um coração.

A esperança no amanhã se enterra em cada caixão

Mortos-vivos em todos os cortejos, caminham ao léu

Aguardando a vez da infeliz lhe cobrir com o véu.

Aquela maldita boca cuspiu: "todo mundo vai morrer um dia"

E o verde daquela bandeira que não orgulha ninguém de se cobrir, vai aos poucos

entristecendo, de lágrimas morrendo, enlutando um chão que se tornou valão.

"Essa é a parte que te cabe nesse latifúndio..."

SANDRA CORRÊA NUNES 24/01/2021

Passadas 200 mil mortes, percebo que faz tempo que elas não nos mobilizam. Seja por COVID-19, seja "matada", seja de fome. O país desistiu do seu povo faz tempo! E hoje só vale o voto em quem outra vez não se importará. Vergonha disso aqui! Sandra Corrêa Nunes

26- Falta

Não bastasse o ar que te falta

Falta a comida na mesa

Falta o chão pra deitar

O céu para olhar...

Falta a mão pra segurar

Falta o cuidado do olhar

Falta alguém além dos seus para contigo se preocupar

Falta farmácia onde o remédio comprar, dinheiro não há

Falta sorrisos que o dinheiro pode pagar

O mesmo dinheiro que nas coroas de flores

Não dirão a falta que não fará

Para esses a beleza das flores murchará.

Muitos sem chão, sem pão e ninguém para segurar a mão, se vão

Vivendo a condenação, que torna garantida a morte certeza da vida

Então porquê choro, o que cabe é a Indignação

De quem por galhofa do destino nasce com a mácula colorida e que a dor faz parte da vida

Que ao nascer desafia o script, vive irrompendo, vivendo

Mas com o alvo na testa.

Esse, se nascer - não vive,

Se viver - não constrói - se construir - com lágrimas vai gastar.

Por quê? Te mal disseram a concepção.

Te jogaram nesse valão

Agora aduba esse chão,

E faz brotar a (Re)existência em nosso coração.

SANDRA CORRÊA NUNES 05/02/2021

Faz tempo que a morte é um projeto nacional para eliminar os indesejáveis.

27- Necropolítica

Com desigualdades gritantes, o Estado brasileiro desde sua constituição como tal, elegeu quem seriam os cidadãos portadores de direitos: de vida, de privilégios, de justiça, de educação, de saúde, de ser ouvido. Para que uma ínfima parcela da população exercesse, por si só, o Capitalismo e a Democracia. A outra parte, apesar de maior, sempre pagou por isso.

Essa grande parcela, os indesejáveis - pobres, negros, indígenas, LGBTQI +, deficientes, mulheres, idosos; são também os que podem morrer. Podem morrer, pois se tornaram números , sem alma. Por que não fazem parte da “raça pura branca”. Por que confrontam a moral hipócrita de falsos cristãos e de famílias que encobrem pais pedófilos. Por serem mulheres que não querem como marca a submissão. Idosos e deficientes, são considerados “pesos mortos” para o Capitalismo que põe valor em vidas pela riqueza que produzem. Da Democracia, essas pessoas só tomam conhecimento, quando os permitem votar, porém em quem se dispuser manter tudo como está.

Dessa forma vivemos a Necropolítica como forma de Programa Estatal. Aos sem título (social), sem sobrenomes conhecidos, negros, índios e mestiços a falta de educação, como política para a não ascenção social deixa poucas portas abertas. Na sua maioria sobrevivem com subempregos, muitas vezes insalubres e pesados. Outros terminam cooptados pelo crime. Quando conseguem avançar na educação, encontram toda sorte de entraves para seu desenvolvimento profissional. É raro que alcancem alguma projeção social, contudo convivem com o racismo entranhado em todas as estruturas da sociedade.

São eles que engrossam as estatísticas de mortos pelo braço armado da sociedade. Esse braço armado ainda não se deu conta que executa o trabalho sujo dessa elite genocida, por que quando armados matam pobres, que podem ser seus vizinhos, e usam um alvo para que também sejam mortos e sejam mais um pobre que tombou… invariavelmente, um negro de farda que sonhou colecionar estrelas, mas essas não virão. O “Comando” tem escrito “Negro não!” Da mesma forma que o “bacharelado” em Direito também parece um sonho distante. Magistratura, não combina! Aqui embaixo nos ensinam que existem modelos para cada profissão, não existem modelos negros em muitas delas. Estão dominadas por brancos. Todavia, os presídios estão cheios de negros e mestiços. Coincidência?

O racismo é a essência da sociedade brasileira. O racismo institucional, mantém inviável o ingresso e ascenção do negro. Essa estrutura racista e genocida da sociedade brasileira, criminaliza e mata a maioria dos brasileiros.

Vivemos em uma “democracia” que não reconhece a população com igualdade. Uma Necropolítica Oficial. Um capitalismo que coloca 90% da população na mira de armas convencionais ou ideológicas, para júbilo dos fascistas daqui.

SANDRA CORRÊA NUNES 10/02/2021

Numa sociedade essencialmente, meritocrática, individualista que não se importa com o que não seja o seu espelho, as desigualdades são gigantescas. Sandra Corrêa Nunes

28- Pensando o social

Desde o início o Brasil, que ainda não tinha esse nome, não foi pensado como um país e nem mesmo uma nação. Constituído por povos originários que tiveram suas terras invadidas. Invasão motivada pela extração de riquezas e tornou-se um dos “puxadinhos” da Coroa Portuguesa. Depois vieram os negros arrastados para cá dando início a vergonha da Escravidão Atlântica. Nesses últimos duzentos anos, foram estimuladas imigrações de europeus numa tentativa de “branquear” a população, estruturando oficialmente o racismo. Mais tarde, “venderam” uma falsa ”Democracia racial”. Com a Independência em 1822, torna-se um Império umbilicalmente ligado à Portugal e ainda sem senso de identidade, construído com muita luta entre pobres na sua maioria, a burguesia que se enxergava ainda como corte portuguesa e um império que não reconhecia a cidadania de grande parte da população. Pilares que não se sustentavam, o que as várias sedições comprovam. Se existiam desde então cidadãos de “segunda categoria”, para os quais direitos básicos como educação, alimentação, saúde, liberdade, terra, moradia, era grande a parcela dos “deserdados” dessa terra brasilis. Esses deserdados, continuaram a construir o Brasil que conhecemos, com “sangue, suor e lágrimas”(conheço essa expressão) é bem real. Pensar uma sociedade que tem a escravidão como pilar social e econômico em grande parte de sua gênese, explica as desigualdades em todos aspectos fundantes. A proteção social sempre esteve ligada ao assistencialismo, que coloca as classes abastadas na posição de “doadores beneméritos” para ostentar sua bondade diante de uma sociedade hipócrita. A partir da Constituição Federal de 1988, Constituição Cidadã, foram colocados termos de proteção social não vistos nas constituições anteriores e todas passaram a ter direito à cidadania como ter uma Certidão de Nascimento. E um arcabouço de leis possibilitaram a criação mais tarde do SUS, que unificou políticas de gestão da saúde universalizando-as para toda a população. Mas não evitou que usuários de saúde privada pudessem usar tratamentos no serviço público que são reconhecidamente de excelência em diversas especialidades e mesmo assim querem a privatização de um serviço que atende qualquer usuário. Dá para entender? Em nome de um ‘privilégio’* por ter plano de saúde, aceitam pagar por um serviço gratuito, só para mostrar que podem pagar e verem os mais pobres implorando por ajuda às instituições filantrópicas. Trinta por cento dos brasileiros precisam ser estudados.

*Um sociólogo me aconselhou mudar a palavra 'pose' por 'privilégio'

SANDRA CORRÊA NUNES 16/02/2021

O Covid-19 é uma consequência da destruição implementada na natureza, onde os vírus- organismos que vivem na Terra há milhões de anos em ambientes distintos e já adaptados- com a destruição indiscriminada desses ambientes , provoca o contato e disseminação em outros ambientes.

29- O amanhã da pandemia no Brasil

Não adianta imaginar o mundo como conhecemos no passado recente, dois, três anos atrás. Podemos sentir saudade da aparente normalidade. De tudo que parecia no lugar, uma sequência de mesmice que enganava alienados. Não! Não estava bom! Não estava certo!

O choro conclusivo da humanidade, incomodava a quem tinha ouvidos para ouvir mas não aos que exploravam e saqueavam!

Quando esse lamento chegou ao ouvido da Mãe Terra ela reagiu e, como tal, ela a educou. Educa os filhos que não entendem que a "dispensa" não é infinita. Não devemos desperdiçar. Para não desperdiçar devemos aprender a partilhar.

O homem polui, desmata, destrói pelo insensato prazer de ter. Não vê que suga além de suas necessidades, para acumular o que não vai comer e deixa famintos na sua trilha.

Aí alguém diz que é mais sensato ter parcimônia no gastar e fraternidade no partilhar para que todos tenham o suficiente. Comunista. Se ser comunista é ter empatia com o outro, eu sou. Me recuso a desistir do resto de humanidade que ainda existe.

Mas nem sempre fui assim! Cheguei a eleger Fernando Collor, Fernando Henrique Cardoso e votei no José Serra e no Aécio Neves e em 2018 no Fernando Haddad! Uma guinada de 180°. Tenho uma característica que não é muito comum nos brasileiros, lembrar do meu voto na eleição. Talvez seja por que tenho uma memória prodigiosa em vários aspectos, porém não a utilizava quando o quesito era política. Uma pena! Se fizesse isso não teria votado em quatro desses políticos.

Collor, “o filhote da ditadura", como dizia Leonel Brizola, foi impeachmado com toda sua pose de “coronelão das Alagoas” e “caçador de marajás”, que continuaram todos aí. Fernando Henrique, “o príncipe", com sua fleuma e misancene, tem ‘uma Vale’ de lama na sua imagem e uma vergonhosa campanha para a sua reeleição comprada e financiada pelos seus patrões - os bancos.

José Serra esteve à frente do programa dos remédios genéricos, não conhecia como político, o que evidencia minha alienação em relação à política. Como nos dois primeiros, me deixei levar pela campanha de "fake news" da época, Globo e similares. Já aí, não foram só as mentiras que influenciaram na eleição mas, a batalha era contra a “temida Esquerda”. O coração disparava! Até nas igrejas diziam: o lado esquerdo não seria o lado “do bem”, afinal Jesus estava à “direita” do Pai. Percebem como o nosso inconsciente é trabalhado?

Mas essa de esquerda e direita, a Revolução Francesa explica…(pobres de um lado, ricos do outro, e os dois derrubando o autoritarismo).Daí o capitalismo escancarou graças aos ricos e sua ambição, aumentando a exploração dos pobres e a destruição da natureza.

Voltando aos nomes “presidenciáveis”, Aécio Neves não é só herdeiro de uma das mais abastadas famílias mineiras quiçá do Brasil, neto de Tancredo Neves, eleito presidente na transição do regime militar para o civil. Aécio, como um garoto mimado, questionou a eleição de 2014.Todas as consequências desse comportamento irresponsável colocaram o Brasil nesse caminho rumo ao fundo do poço. Hoje, usa seu poder para que vários indícios de corrupção e tramoias não lhe respinguem mais. Saiu do palanque e, mesmo com mandato, permanece nas sombras da Câmara dos Deputados. Alguém tem notícia dele? Muitos interesses envolvidos mostram que nenhum desses atores, sozinhos, ocasionaram todo esse “inferno astral” brasileiro - mas deram um "empurrãozinho''.

Hoje, temos na presidência, alguém que apesar de se chamar Messias, tem um séquito que fede enxofre, e cumprem com disciplina militar, todos os desmandos do líder. Ajudam a disfarçar, que estão cumprindo a missão de matar; enquanto comem caviar e bebem champanhe.

O choro da mãe Terra se mistura ao luto desse povo infeliz, que ao não aprender com os erros, volta e meia põe fraudes no poder. Acertou o rumo por quatro vezes, quando se esqueceu do que os púlpitos disseram, e o que as TVs, ganharam bem para incriminar.

Temos um amanhã difícil pela frente, muita dor e perda no caminho. Seguimos sim. porque nosso passado foi massacrado pela escravidão, exterminado com os índios e apesar desses infames, existimos. resistimos e lutamos. vamos salvar nossa Mãe da ganância que insiste controlar nosso pensar e temos um Brasil Gigante para ressuscitar do Covid.

SANDRA CORRÊA NUNES 28/02/2021

Não me parece...

30- Todos somos brasileiros?

Reflexão que se faz premente no momento atual e também para não termos uma versão piorada no futuro. Essa reflexão foi postergada como algo desnecessário afinal, somos uma” Democracia racial”, “não somos um país racista”, “existe igualdade de classe”, “todos têm as mesmas oportunidades”, “se, se esforçar, vai progredir na vida”, “com boa vontade, fortunas são construídas”, ”ah! Quem ele pensa que é?”, “Tem cara de bandido”, “pobre tem mania de faculdade”, “o CEP é perigoso”, “depende de onde será a "batida''', “o nine”, “ordem judicial, pra quê?”, “nego não c* na entrada, c* na saída”, “comigo urubu não bota, se botar não cria, se criar não terá alegria!”. Com esse pot-pourri indigesto abro as minhas reflexões.

Precisa ser totalmente alienado para não reconhecer essas expressões como naturalizadas em nosso cotidiano. Talvez não deliberadas de nossa parte, mas em atitudes e comportamentos ditos como “normais”, civilizados... É só uma brincadeira! Maldosa por sinal. Quando reagimos contemporizando, damos o “sinal verde” para algo mais. A polícia entra na “comunidade” como invadindo um campo de guerra, disparos a um simples movimento. E mais uma criança não termina o ano...Será que é necessário entrar atirando ou já foi decidido que aquelas vidas não têm valor?

Desde o Descobrimento do Brasil – tenho muitas ressalvas sobre este título - os portugueses, encorajados pela megalomania da Igreja Católica, em “catequizar” os “bárbaros”(índios), abençoou a colonização. Os índios, desse momento em diante tiveram cassada sua cidadania, mesmo que não existisse um país. Tinham a opção de assumirem um nome cristão e abandonarem seus costumes, tidos como incivilizados.

Para os negros, arrastados oceano a fora para serem escravizados e sofrerem todo o tipo de degradação, serem aviltados por castigos dos senhores da vida e da morte, brancos; por terem a “mácula” da cor. Assim discursou José Bonifácio de Andrada. Ser negro foi declarado um “pecado” imperdoável no Brasil; um crime que servirá de agravante seja qual for a situação.

O branco português seria reconhecido hoje, como o brasileiro ideal, mas isso não faz sentido. A dupla cidadania ainda não existia naquela época, nem mesmo o Brasil era nascido. O nascimento oficial ocorreu como retrata a pintura de 1888, de Pedro Américo - em 1822. Tenho a sensação que a história é escrita ou interpretada como convém ao interesse de quem se encontra no poder, legítimo ou não. O branco nascido aqui, gerado em casamento entre brancos tem uma possibilidade de nascer na elite local, ou ter mais oportunidade de ascensão social através de colocação profissional. O que não o salva da pobreza. Apenas não se torna alvo preferencial dos tiros dos órgãos de segurança.

Por tudo que foi refletido, e, considerando que a maioria da população brasileira é pobre; luta para sobreviver e tentar ter um pouco de dignidade, o Brasil não olha toda a sua população como brasileira. Essa afirmação se fortalece mais a cada dia com a omissão do atual governo federal no combate do COVID-19, acumulando mais de 250 mil mortes, se assumindo como genocida na total acepção da palavra. A dedução é lógica. No silêncio de parcelas da sociedade, fica confirmada a “Necropolítica” (Achille Mbembe) onde decidem o viver, o deixar viver ou deixar morrer uma grande parcela da população!

SANDRA CORRÊA NUNES 02/03/2021