O político e o cantor
 


     1. Cansado de ouvir uma asneira atrás da outra - e todos sabem de quem -, resolvi reler "Histórias de presidentes", belo livro da escritora cearense Isabel Lustosa e "A República Cantada", dos escritores André Dini & Diogo Cunha. Leituras agradabilíssimas.
     Com simplicidade e graça, Isabel escreve sobre os presidentes da República que moraram no Palácio do Catete: do paulista Prudente de Morais ao médico mineiro Juscelino Kubitschek, que se transferindo para Brasília, encerrou, em 1956, o "ciclo do Catete".
     
2. Para avivar a memória dos que gostam de   nossos presidentes antigos dou os nomes dos que ocuparam o Palácio das Águias: Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves, Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Washington Luís, Delfin Moreira, Epitácio Pessoa, Artur Bernardes, Getúlio Vargas (duas vezes), José Linhares, Eurico Gaspar Dutra, Café Filho, Carlos Luz, Nereu Ramos e Juscelino Kubitschek.
     Os presidentes Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto não teriam sido inquilinos do Catete.
     
3. Alguns desses presidentes tiveram seu momento jocoso e um apelido, revelados, com respeito, sem agredir, pela escritora alencarina.      Uma dessas histórias: Nilo Peçanha, sucessor de Afonso Pena, que morreu no exercício do cargo, no dia de sua posse lhe foi perguntado "sobre as bases de sua administração". E Nilo prontamente: "paz e amor". Seria o Nilo um hippie embutido?
     
4. E a bela escritora cearense, Isabel Lustosa, relembra os apodos  de vários presidentes: Rodrigues Alves, o Morfeu; o paraibano Epitácio Pessoa, o Tio Pita; Artur Bernardes, seu Mé; Eurico Dutra, Voxê qué xabê (devido a um defeito no seu veu palatino); Getúlio Vargas, o Gegê; Juscelino, o JK, e eu acrescento, o Nonô pé de valsa.
     Que apelidos daríamos aos presidentes de hoje? só Deus e o diabo sabem dizer.
     
5. Os presidentes de ontem, não todos, mas alguns adoravam se aproximar de artistas e atletas que estavam em "cartaz". Viravam seus fãs, guardando a distância ditada pelo cargo que ocupavam. 
     Todos sabem, por exemplo, o quanto Getúlio admirava a cantora Ângela Maria. Para acarinhá-la, lhe deu este apelido: a Sapoti. Também ninguém desconhece as aventuras amorosas do Gegê com a pequenina atriz, cantora e vedete Virginia Lane (1920-2014), levando-a para alcovas não frequentadas por dona Darcy Vargas. 
     
6. Continuando com Getúlio. Vejam essa história envolvendo o político gaúcho e Orlando Silva, o cantor predileto do Gegê; o intérprete de "Jardineira", o maior cantor do seu tempo.          E aqui devo dizer que colhi esta história, não mais no livro da escritora Isabel, autora de "Insultos Impressos ", mas no "República Cantada", dos escritores André Diniz & Diogo Cunha.
     
7. Vamos lá. Getúlio chegou a ser incluído entre os "macacos de audiência" do cantor Orlando Silva. Contam os autores de "A República Cantada" que certa ocasião Gegê se encontrou com Orlando, após um show  do cantor de "Lábios que beijei".
     E Getúlio disse que "gostaria de ser tão popular, como ele, Orlando". E o cantor: - "Ninguém no Brasil tem a sua popularidade, presidente". E Getúlio: "Mas eu tenho inimigos, Orlando. E quem é inimigo de sua voz?"
     
8. Belo diálogo entre um cantor popular, o Cantor das multidões, e o seu Presidente. Um presidente admirado; um presidente que se aproximava do seu povo seu povo sem dizer palavrões ou xingando este ou aquele.
     Um presidente detestado por alguns, é verdade, mas amado e respeitado por muitos, muitos mesmo. E o é, até hoje, 67 anos após seu suicídio, no Palácio do Catete.       
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 20/02/2021
Reeditado em 03/04/2021
Código do texto: T7189196
Classificação de conteúdo: seguro