Pensando o social

Desde o início o Brasil, que ainda não tinha esse nome, não foi pensado como um país e nem mesmo uma nação. Constituído por povos originários que tiveram suas terras invadidas. Invasão motivada pela extração de riquezas e tornou-se um dos “puxadinhos” da Coroa Portuguesa. Depois vieram os negros arrastados para cá dando início a vergonha da Escravidão Atlântica. Nesses últimos duzentos anos, foram estimuladas imigrações de europeus numa tentativa de “branquear” a população, estruturando oficialmente o racismo. Mais tarde, “venderam” uma falsa ”Democracia racial”. Com a Independência em 1822, torna-se um Império umbilicalmente ligado à Portugal e ainda sem senso de identidade, construído com muita luta entre pobres na sua maioria, a burguesia que se enxergava ainda como corte portuguesa e um império que não reconhecia a cidadania de grande parte da população. Pilares que não se sustentavam, o que as várias sedições comprovam. Se existiam desde então cidadãos de “segunda categoria”, para os quais direitos básicos como educação, alimentação, saúde, liberdade, terra, moradia, era grande a parcela dos “deserdados” dessa terra brasilis. Esses deserdados, continuaram a construir o Brasil que conhecemos, com “sangue, suor e lágrimas”(conheço essa expressão) é bem real. Pensar uma sociedade que tem a escravidão como pilar social e econômico em grande parte de sua gênese, explica as desigualdades em todos aspectos fundantes. A proteção social sempre esteve ligada ao assistencialismo, que coloca as classes abastadas na posição de “doadores beneméritos” para ostentar sua bondade diante de uma sociedade hipócrita. A partir da Constituição Federal de 1988, Constituição Cidadã, foram colocados termos de proteção social não vistos nas constituições anteriores e todas passaram a ter direito à cidadania como ter uma Certidão de Nascimento. E um arcabouço de leis possibilitaram a criação mais tarde do SUS, que unificou políticas de gestão da saúde universalizando-as para toda a população. Mas não evitou que usuários de saúde privada possam usar tratamentos no serviço público que são reconhecidamente de excelência em diversas especialidades e mesmo assim querem a privatização de um serviço que atende qualquer usuário. Dá para entender? Em nome de uma ‘privilégio’* por ter plano de saúde, aceitam pagar por um serviço gratuito, só para mostrar que podem pagar e verem os mais pobres implorando por ajuda às instituições filantrópicas. Trinta por cento dos brasileiros precisam ser estudados.

*Um sociólogo me aconselhou mudar a palavra 'pose' por 'privilégio'