QUANTO VALE UM CACHORRO

QUANTO VALE UM CACHORRO

Isso não é uma pergunta, mas apenas uma provocação, é claro que, de boa fé e com um desejo enorme de conhecer até que ponto nós humanos sabemos entender o valor desses animais, e por que não, dos passarinhos, formigas, flores, peixes... Seríamos todos nós ignorantes quanto a essas coisas? Sabe lá, se realmente o somos. Que avaliação alguém conseguiria fazer ao ver uma família inteira chorando a morte de seu cachorro? Quando se ouve de algum relato, mais ou menos assim: “esse gato é como parte de nossa família”, ou, assim: “somos quatro em nossa família: marido e mulher e dois cachorros.”. Alguém tem ideia do custo mensal com as despesas para sustentar um desses animaizinhos? Alguns tem! Desses animaizinhos, alguns custam mais do que a mensalidade na Faculdade de Medicina, acredita nisso? É melhor acreditar! Os que estão de fora jamais podem imaginar o que existe nessa cumplicidade – dono do cão e o cão. Nesse ano de pandemia, pude chegar mais perto da realidade de uma história fantástica. Pude observar do que já convivia, mas não era capaz de entender quão intrigante seria, a história de Bidú, um cão de família – Helder, Alinne, Ester, Alice e Bidú – assim mesmo. Bidú era um cãozinho de pequeno porte, bem cabeludo – pelos como plumas. Bem penteado parecia um leãozinho, porém de olhos penetrantes e muito meigo, de latido brando às vezes dando uma de pitibú. Sempre que voltava do pete, ostentava sua elegante gravata e todos queriam dar um cheirinho. Na manhã do Natal todos saíram para uma caminhada pelo parque de onde mora a família, o calmo Bidú parecia que fazendo um esforço hercúleo, caminhava lentamente, e quando menos se percebia, era deixado para traz. Num repente, alguém se vira e olha em direção ao Bidú – paradinho e com olhos vidrados parecendo distante e triste. Todos param e ele parece ter entendido que estavam esperando por ele. Isso foi acontecendo durante a caminhada, até que em determinado momento alguém resolve apanhá-lo. Seu coraçãozinho batia forte demais, além do normal, sua língua para fora tentando refrescar o seu corpo. À noite, ganhou muitos presentes, dentre eles um osso que não largou mais. Para quem não sabe, a raça do Bidú, segundo os entendidos, sobrevive no máximo nove anos. Porém o Bidú já era um idoso de doze anos, como dizem, equivalente mais ou menos aos oitenta anos de um humano. Bidú tinha alguns problemas de saúde, e por ser muito bem cuidado, continuava vivendo e dando muita alegria a família. À noite quando todos iam dormir, ele acostumava ficar deitado em frente a porta do casal e ali permanecia até que todos acordassem. Certa vez, logo que a família havia mudado para a casa nova, Bidú parecia ter mudado a sua estratégia de proteção. Ele sempre demostrava muita atenção para as crianças que sempre lhe davam carinho, por isso, parecia que seu amor havia ficado dividido, ele passou a dormir dividindo o espaço entre o quarto do casal e o das crianças. Ele sempre parecia entender tudo, até mesmo quando alguém zangasse com ele – seus olhos piedosos e penetrantes logo quebravam o silencio, e logo ganhava um colinho. Bidú veio a falecer no dia 30de dezembro, quando estávamos distantes da família, logo a notícia foi dada: “o Bidú morreu...” todos choravam rios de lágrimas. Eu que pensava não fazer sentido um amor tão profundo, no meu imaginário, comecei a pensar, como se estivesse vendo aqueles olhos piedosos, agora ausentes, sabendo que não mais aquele cachorrinho fofo e amigo seria paparicado, confesso que fiz esforço para não chorar. Como pode, um cachorro custar tão caro – o preço de uma ferida na alma, a perda de um amigo. Costumo lidar com as plantas, às vezes converso com elas. Em certo dia, meu pé de dálias, por ter crescido muito não suportou o peso das flores e caiu. Lá estou eu “pobrezinha, não suportou a carga.” As flores ainda exuberantes mantinham a sua beleza. “Pode deixar, vou colocá-las todas numa jarra com água e vocês vão ornamentar a casa ainda por muitos dias”. Está louco esse cidadão? – Apenas aprendendo a ser meigo e delicado como as plantas, louco é quem não vê essas coisas. Por que razão Deus teria feito as flores, os passarinhos, os gatos, os cachorros?

Ah se pudéssemos entender esses quadros maravilhosos que a criação deixou para nós humanos, se compreendêssemos a sua linguagem, se nos ocupássemos um pouco mais com o que nos é oferecido gratuitamente – com tanta beleza e sem qualquer contestação. Assim, muito mais que antes, já posso declarar que ficou a saudade do Bidú, um cachorro de valor inestimável, um amigo que se foi. Fico devedor de todos aqueles que se dedicam em cuidar desses tesouros, penso até que o Criador se sente honrado (se é que posso dizer isso) pois que bem sei que toda a criação foi colocada à nossa frente para ser admirada, cuidada. Certamente que, seriamos melhores e mais humanos segundo o propósito do Criador. Quanto vale o seu bichinho de estimação?