Praça Comendador José Honório

A história cultural da cidade envolve a trajetória das pessoas que nela vivem ou viveram, o legado das instituições sociais, seus símbolos culturais, incluindo os mais diversos espaços públicos. Com base nesse princípio, esta crônica destaca informações sobre a Praça Comendador José Honório, no centro de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro. Até o final do período imperial, esse espaço público, em torno do qual concentra parte expressiva do comércio paraisense, era conhecido como “Largo da Matriz”. Denominação ainda usada por pessoas idosas que sabem a razão das coisas e por aqueles que preferem preservar o vocabulário popular que traduz as raízes da encantadora alma da cidade.

Logo após a proclamação da República, em sessão realizada em 28 de dezembro de 1889, a câmara municipal deliberou pela alteração da denominação de diversas ruas e praças da cidade. Foram escolhidos nomes para homenagear políticos que se destacaram na defesa dos ideais republicanos e que estavam perfilados à nova ordem política mineira e da recém-instituída federação. No mesmo contexto, em sessão realizada uma semana antes, a mesma câmara deliberou pelo envio de felicitações ao Governo Provisório da República, assim como à redação do jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, que divulgava os promissores ideais do novo regime.

A “Rua do Comércio” recebeu a denominação de “Rui Barbosa” e, anos depois, passou a ser a conhecida “Pinto Ribeiro”, naquela época restrita à parte central da cidade. O extinto “Largo do Rosário”, que incluía a atual “Praça João Batista Teixeira” e o terreno onde foi construído o “Grupo Escolar Campos do Amaral”, recebeu o nome de “Praça General Deodoro”, em homenagem ao comandante militar do novo regime. A chamada “Rua Nova” (atual Placidino Brigagão) recebeu a denominação de “Rua Wandelkok”.O então chamado “Largo do Cemitério” (atual Praça Comendador João Alves) foi batizado de “Praça Aristides Lobo”. A rua da Maçonaria (atual Gedor Silveira) recebeu a denominação de Rua Campos Salles. Finalmente, o “Largo da Matriz” foi batizado de “Praça Cesário Alvim”, em homenagem ao então presidente de Minas. Entretanto, nem todos os nomes escolhidos pelo poder público municipal, como acontence muitas vezes, acabaram prevalecendo na linguagem popular e para muitas pessoas a praça central continuou sendo o símbólico “Largo da Matriz”.

O mesmo espaço recebeu a atual denominação para homenagear o “Rei do Café de Minas”, coronel José Honório Vieira, líder político e benemérito da Igreja Matriz, razão pela qual recebeu do Vaticano o título de comendador. Falecido em meados da década de 1930, vítima de uma queda fatal do seu cavalo que se assustou devido a presença de uma cascavel que estava em seus belos e extensos cafezais.

Uma das mais antigas fotos da referida praça, tirada da torre da Matriz, data de 1900. É possível identificar o cruzeiro erguido no centro, com cinco metros de altura, e o modesto terno de congadeiros, desfilando para reduzido número de pessoas. Aparece ainda a velha casa térrea, em cujo terreno seria construído o palacete do coronel João Vilela de Figueiredo Rosa, na esquina onde hoje está instalada conhecida farmácia.

Em outra foto da mesma praça, de 1908, é possível visualizar, ao lado da casa mencionada no parágrafo anterior, a casa do coronel José Francisco de Paula, agente executivo municipal (prefeito) no triênio iniciado em 1 de janeiro de 1916. No terreno da casa de seis janelas, anos depois, foi construído o prédio onde funcionou o Banco da Lavoura e depois o Banco Real. À direita, é possível ver parte do muro do terreno onde foi construído o Grande Hotel Cosini. Ao fundo, é possível identificar o único prédio de dois pavimento, o antigo fórum e cadeia, ao lado a Igreja do Rosário. São por essas e muitas outras razões que vale a pena retornar ao simbólico Largo Matriz, onde pulsa uma parte visível do cotidiano da história paraisense de todas as épocas.