Padre Emídio Antônio de Carvalho

Conforme crônica publicada aqui no Jornal do Sudoeste, o primeiro pároco da Matriz de São Sebastião do Paraíso foi o padre Lúcio Fernandes Lima, falecido em 9 de abril de 1856, apenas um ano após a criação da paróquia no então distrito vinculado ao município de Jacuí, berço do sudoeste mineiro. Dois anos depois, estava nomeado no mesmo cargo o padre Emídio Antônio de Carvalho, que, nos anos anteriores, exercia o sacerdócio na comarca eclesiástica de Passos, na mesma região. Jornais de Ouro Preto, capital da província, noticiaram que o padre Emídio havia prestado solidária assistência espiritual ao padre Lúcio, em seus últimos momentos de vida, quando estava acometido de grave doença.

Nas fontes que tivemos acesso, poucas informações foram preservadas sobre a trajetória do padre Emídio, mas é possível afirmar que sua atuação no seio da comunidade católica paraisense foi por cerca de uma década. Conforme consta no livro de história escrito por José de Souza Soares, publicado em 1945, entre as principais ações sociais realizadas pelo padre Emídio destaca-se a manutenção de um orfanato para meninas pobres. Órfãs ou desemparadas, essas meninas moravam numa casa mantida pela paróquia e recebiam todo o apoio material necessário e instrução até atingirem a idade adulta. Consta ainda que o referido pároco celebrou o casamento de muitas dessas jovens que frequentaram o orfanato até completarem a maioridade.

Durante o período em que o padre Emídio administrou a paróquia, a freguesia de São Sebastião do Paraíso recebeu a visita do Bispo Diocesano de São Paulo, Dom Antônio Joaquim de Mello. Partindo da capital paulista, a comitiva do bispo percorreu diversas paróquias paulistas até chegar à divisa com Minas Gerais. Permaneceu alguns dias visitando a paróquia de Jacuí, antes de seguir viagem para São Sebastião do Paraíso, aonde chegou no dia 25 de abril de 1858. Depois de alguns dias, seguiu viagem para a cidade paulista de Franca, de onde retornou para a São Paulo.

Devido às dificuldades de comunicação da época, ocorreu um desencontro, pois durante a visita do bispo, o padre Emídio não estava em Paraíso. Entretanto, sua atuação na época pode ser afirmada com base nas anotações do escritor Souza Soares, feitas a partir de pesquisas por ele realizadas no acervo da paróquia local. Informações dessa visita pastoral foram preservadas no relatório escrito pelo padre Raimundo Marcolino da Luz Cintra, escrivão oficial da comitiva do Bispo. Relatório esse redigido em 23 de maio de 1858, quando a comitiva já estava em Franca, contendo várias orientações pastorais para o progresso da Matriz de São Sebastião.

A visita do bispo causou certa euforia na população paraisense. A paróquia tinha sido criada apenas três anos antes. A comitiva foi festivamente recepcionada por um grupo de cavaleiros que viajou até Jacuí para dar as boas-vindas aos visitantes. Entre os participantes dessa comissão de recepção estava o filho do professor João Cândido Pinto Ribeiro, José Cândido Pinto Ribeiro, então com 14 anos de idade e membro da banda de música regida pelo maestro Messias do Souto Gouvea. História preservada por transmissão oral pelo próprio José Cândido ao seu genro José de Souza Soares, autor do primeiro livro de história de São Sebastião do Paraíso, publicado em 1922.

Para o desenvolvimento da paróquia, o bispo deixou registrado alguns conselhos ao padre Emídio. O primeiro deles e mais urgente seria a convocação dos fazendeiros da freguesia para resolverem o gravíssimo problema dos buracões existentes nas proximidades do Igreja. O constante desbarrancamento da terra arenosa, causado pelas fortes chuvas, ameaçava chegar aos alicerces da Igreja. Cumpre lembrar que na época do padre Emídio, a primeira Matriz, destruída no incêndio de 1879, estava construída, próximo à localização atual, com a frente voltada para Largo Central, porém alguns metros deslocados mais para a direita. Do ponto de vista urbanístico, essa antiga igreja estava localizada simetricamente em relação ao trecho da rua Soares Neto, entre a Pimenta de Pádua e Placidino Brigagão, o que não mais acontece, com a atual Matriz, que se localiza bem próximo à rua Pimenta de Pádua.

Outra recomendação registrada pelo bispo ao padre Emídio foi a necessidade de separação, por meio de um gradil, das alas destinadas aos homens e mulheres participarem da Santa Missa. Oito anos após essa visita pastoral, continuava o grave problema dos buracões. A existência dessa erosão consta na Lei Provincial no 1375, de 14 de novembro de 1866, fixando a verba de 500 mi reis para a realização das obras necessárias. Sendo o catolicismo a religião oficial do Império, as despesas com o Culto Público eram custeadas pelos cofres provinciais. Para finalizar, na edição de 1864 do Almanaque Laemmert, do Rio de Janeiro, conforme verificamos, consta ainda a atuação do padre Emídio Antônio de Carvalho como vigário de São Sebastião do Paraíso.