Lagoinha de outros tempos

Ao revisitar lugares históricos de São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro, é possível localizar anotações sobre a existência de uma exuberante lagoa de águas cristalinas, contornada por frondosos bosques e campos distantes cerca de 300 metros, para o lado dos fundos do antigo cemitério paroquial. Tomando como referência a atual praça Comendador João Alves, construída no terreno do antigo cemitério, no mesmo espaço, encontra-se o Parque da Lagoinha dos nossos dias. Ao longo do tempo, com as sucessivas mudanças e urbanização da região, houve acentuada diminuição do volume de água e a lagoa ficou reduzida à metade da extensão descrita em antigos documentos. A existência dessa lagoa encontra-se descrita no Almanaque Sul Mineiro, publicado na cidade de Campanha, no ano de 1874.

É um lugar especial para muitos paraisenses, trazendo lembranças de outrora, cujas imagens digitais são disseminadas hoje pelas redes digitais de comunicação, tal como a Gazeta Paraisense. Era um local de pescaria, de piquenique e de fazer passeios de canoa. Com a transferência da sede do município de Jacuí para o distrito de São Sebastião do Paraíso, instituída pela lei provincial no 1641, de 13 de setembro de 1870, a freguesia foi elevada à categoria de vila. Três anos depois, a lei provincial no 2042, de 1 de dezembro de 1873, elevou a vila à categoria de cidade, cujo progresso era então noticiado em jornais da época, com destaque para a existência de terras férteis para a abertura de fazendas de café. Razão pela qual, o diretor do referido Almanaque enviou um cronista especial para testemunhar os aspectos gerais da cidade.

O cronista registrou que a bela lagoa paraisense tinha cerca de 200 braças de comprimento. Uma extensão considerável, pois a antiga unidade de “uma braça”, usada pelos portugueses, correspondia aproximadamente a 2,2 metros, no atual sistema decimal de medidas. Havia algumas chácaras e pastos nas proximidades da grande lagoa, onde tropeiros e viajantes deixavam seus animais para o descanso necessário, depois de longas e exaustivas viagens. Um pouco mais acima, onde foi aberta a Rua dos Italianos, era o local onde os fazendeiros deixavam seus carros de bois estacionados, enquanto percorriam o comércio da cidade. Razão pela qual, nessa região, imigrantes italianos abriram uma grande serraria e carpintaria, onde, entre outros serviços, faziam o conserto e a manutenção de carros de bois, carroças e carretões.

Na década de 1960, nos tempos de minha infância, a grande lagoa se estendia entre a Avenida Delfim Moreira e a rua Pimenta de Pádua, sendo dividia em duas partes, devido ao aterro feito pela prefeitura para abrir a continuação da Rua Placidino Brigagão. Até o final da década de 1950, a referida via pública terminava no muro entre o Instituto Monsenhor Felipe e o Colégio Paula Frassinetti e sua abertura foi objeto de uma querela política, que chegou agitar e dividir a população local. Posteriormente, uma parte da antiga lagoa foi aterrada e no terreno foi construída a segunda Estação Rodoviária da cidade, em frente ao atual prédio da Prefeitura Municipal. Prestes a comemorar, no próximo ano, o segundo centenário de fundação do arraial e construção da primeira capela, com este registro esperamos contribuir no desafio social e coletivo de recompor memórias e histórias da nossa querida São Sebastião do Paraíso.