TEM VAGA, TEM VAGA

TEM VAGA... TEM VAGA.

BETO MACHADO

“Tem vaga sentado; tem vaga sentado”... Muito mais que uma informação, isso é um apelo. O cobrador da van tenta impostar a voz para colocar mais passageiros no veículo que cobre a falta do seu emprego perdido.

O transporte alternativo nas periferias do Rio de Janeiro carreou pra si uma boa parcela da mão de obra ocupada pelo sub emprego, antes da pandemia de COVID-19. Não que esse nicho estivesse vazio antes. Nada disso... Chamo de sub emprego as atividades da iniciativa privada cujos patrões não respeitam as regulamentações trabalhistas, principalmente, no tocante aos salários de seus empregados.

Um tanto pior que a lida do cobrador com voz de locutor radiofônico, é a dureza enfrentada pelos passageiros das vans de comunidades, tolhidos de usarem o transporte regular, por decisão do poder paralelo que, além de impedir a circulação de ônibus no interior de algumas comunidades, ainda domina e monopoliza a venda de gás, dos planos de TVs a cabo e de internet, sem contar com o “auxílio luxuoso” e compulsório do comércio dessas regiões, abandonadas pelo poder público. E a vida segue... Aparentemente está tudo sob controle. Mas sob controle de quem? Essa é uma pergunta que nenhum agente público gostaria de ouvir. Até porque a resposta certa vale mais de um milhão ou o descanso no caixão. A propósito, nesse derradeiro meio de transporte sempre haverá vaga deitado.

“Barcelos Domingos; estação de Campo Grande; boca do túnel”. Esse despertador dos vizinhos desse cronista que vos escreve tem a pontualidade suíça. Quatro da matina, de segunda a sábado. É sempre a mesma ladainha: “aceito Rio Card e Bilhete Único”.

Por volta das duas últimas décadas do século vinte o Brasil experimentou uma sanha liberalista que tinha como ferramenta a privatização. E o governo central e os governos estaduais usaram e abusaram da utilização dessa ferramenta.

O rio de Janeiro vendeu seu banco, o gás canalizado, a telefonia e só não vendeu sua empresa de saneamento porque a Constituição fez um “gol de placa”, aos oitenta e oito minutos de jogo. Como não existia VAR, nessa época, o árbitro colocou na súmula (Constituição) que a autoria do “gol de placa” pertenceria aos municípios brasileiros. Foi um “tiro na bola” dos famintos privatistas. E esse “gol de placa” deve ter custado a vida do velho Ulisses... Coitado do piloto do helicóptero... Dia e hora errados no último plantão.

E a sanha privatista continua. E a alegação é que as atividades privadas são a panacéia que salvará o Estado brasileiro da falência. E teve muita gente que acreditou, piamente, nisso.

Agora a “bola da vez”, aqui no Rio de Janeiro, é a Cedae, empresa de saneamento do estado. Ganhei algumas apostas durante a gestão do Marcelo Alencar. Confesso que só apostei porque obtive informações privilegiadas. Algumas “in loco”, outras, através de relatórios orais. Vinte e oito anos trabalhando nessa grande empresa me municiaram dos conhecimentos que vou expor a seguir.

Depois da privatização da Light, na década de oitenta, formou-se um grande empecilho jurídico e relacional entre Light, Cedae e os possíveis grupos empresariais compradores dos ativos da Cedae.

Os custos operacionais do bombeamento da água bruta do Rio Paraíba do Sul lá pro alto da serra onde a Light produz energia elétrica no município de Piraí, são da Light. A primeira e a segunda adutoras de Ribeirão das Lajes, cada uma com 1750mm de diâmetro, não existiriam se não fosse esse trabalho da Light. Se, por acaso ocorrer uma solução de continuidade nessa operação, o caos se estabelecerá por todos os municípios, por onde passam essas adutoras, inclusive o município destino que é o Rio de Janeiro.

Resumindo: O grupo empresarial que comprar a Cedae, estará sabendo que um rastilho de pólvora correrá nas gavetas do seu departamento financeiro com a mesma velocidade (vazão) das águas que correm nas adutoras da Cedae. Quando digo pólvora, entenda-se royalty. Em sã consciência, quem se habilitaria a pagar pra trabalhar? Se os investidores estrangeiros que vieram aqui nas décadas de oitenta e de noventa, não tivessem obtido essas informações, teriam comprado esse “elefante incolor”.

Eu tenho a impressão que o Governo Federal foi vítima de um “golpe do Vigário” cavalar, quando aceitou ficar com os ativos da Cedae como caução de empréstimos para o estado do Rio de Janeiro sanar suas dívidas e ajustar seu orçamento anual.

Desviei, propositalmente, o assunto dos transportes alternativos para a privatização da Cedae porque desconfio que está havendo uma PPP entre o Poder Público municipal e algumas entidades privadas e paralelas, no que tange o assunto transportes públicos no Rio de Janeiro. O que não podemos jamais é chamar de parceria aquilo que se nos mostra vestido com roupas de promiscuidade.

Roberto Candido Machado
Enviado por Roberto Candido Machado em 18/11/2020
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