A TEMPESTADE
A TEMPESTADE
(Castro Rosas)
O dia amanheceu com pesadas nuvens escuras, anunciando um dia de tempestade. Os pássaros em revoada já iam procurando abrigo; as mulheres recolhendo as roupas do varal; nas casas portas e janelas batiam ao açoite do vento que, por isso, eram fechadas.
No horizonte já se ouvia o som dos trovões acompanhado de descargas elétricas, na forma de raios, descendo em vertical em direção ao solo.
Os animais da fazenda iam sendo recolhidos ao curral; os empenados se abrigando no galinheiro.
O vento com fúria envergava a copa das árvores; as plantações rasteiras eram arrancadas pela raiz, devastando os pés de feijão e milho.
Os raios e trovões, agora, eram ouvidos mais próximos; seu barulho e estalo aterrorizavam. Pavorosas, as mulheres acendiam velas aos santos, de quem eram devotas pedindo misericórdia. Dos quartos eram retirados os espelhos para serem guardados sob grossas cobertas, para que não atraíssem raios.
Todas essas providências eram tomadas sempre que o céu carregado de nuvens prenunciava uma tempestade.
A chuva chegou no finalzinho da tarde sem muita pressa de cair toda de uma vez. Ela deixou cada pingo tocar o solo num sincronismo, como se dança uma valsa com seus graves e agudos, alternando e embelezando a suavidade da música, para então alongar o seu tempo.
O vento passou por ali deixando um rastro de destruição, levando o trabalho de meses em que a terra foi preparada para receber a semente. Em pouco tempo tudo ficara devastado.
Dentro das casas nada de lástima, pois tudo isso era justificado como a vontade de Deus. Não importava se teria que fazer tudo de novo. A terra pertence ao homem, mas Deus é dono do tempo. Temeroso, o caatingueiro ainda assim leva a sério esse ditame de fé.
Como as tempestades não duram para sempre, o vento começou a empurrar as nuvens para outra direção, levando embora a tromba d’água que trouxera o aguaceiro tão esperado (e desejado) pelos caatingueiro.
Rangendo, a porta vai se abrindo para uma visão desoladora até onde a vista alcança o rastro da destruição. A lida da vida agora se renova, timidamente os animais vão saindo dos abrigos em fila indiana reparando em tudo à volta.
Nos olhos do sertanejo podia se ler a dor que apertava o coração e doía na alma. Ainda assim dele não tirava a força de recomeçar tudo outra vez.