O QUE EXPLICA A ELEIÇÃO DE JAIR BOLSONARO?

A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 não se explica somente pela corrupção do PT, há um conjunto de fatores concatenados e confluentes, que os números muitas vezes não conseguem medir, o que torna a explicação para essa questão muito mais complexa.

A corrupção do PT desvendada pela Operação Lava-Jato, claramente é um dos fatores, pois o Partido dos Trabalhadores foi eleito com a promessa de ser e fazer diferente contra tudo o que se tinha até então, trabalhar pelo bem do povo e fazer um novo Brasil, deu no que deu.. acho que não é necessário entrar em pormenores; À corrupção do PT se juntou a baixa qualidade da nossa classe política, com suas lideranças envolvidas em outras investigações além da lava-jato, enquanto que saúde, educação e segurança públicas entravam em frangalhos, apenas com melhoras pontuais, quando havia.

Uma classe política tradicional desacreditada e desmoralizada, naturalmente abre caminho para "salvadores da pátria", homens ou mulheres que se dizem acima dos seus pares, mais puros, mais honestos e que possuem um profundo amor pelo país começam a ganhar notoriedade perante uma população carente de referências e heróis, como é o caso da nossa, e nesse vácuo, que, diga-se, existe muito mais por falta de conhecimento da própria história, acabou sendo ocupado por Jair Bolsonaro, um político tradicional, deputado por quase 30 anos, que conseguiu captar o sentimento de indignação do povo neste momento histórico e se vender como alguém de fora do sistema, mas será mesmo que é assim?

O atual Presidente foi um militar, que estudou na academia dos agulhas negras e chegou a capitão do exército, e segundo diz sua ficha da época, era agressivo e ambicioso, visava o enriquecimento pessoal e não era capaz de comandar uma equipe de 10 cadetes, sofreu um inquérito policial militar por incitar os militares à greve e foi pego com planos de explodir uma adutora de água no Rio de janeiro, foi absolvido em um julgamento incomum e foi convidado a se retirar do exército, tendo saído com desonra e sem nunca participar de missões em campo. ( as informações desse parágrafo podem ser conferidas no livro 'O Cadete e o Capitão de Luiz Maklouf Carvalho)

Após sua saída do exército, entrou para a política permanecendo 28 anos ininterruptos como deputado federal pelo Rio de Janeiro, passando por nove partidos Durante esse tempo; sua atuação como parlamentar foi tão pífia quanto como militar, sem nenhum projeto de lei relevante aprovado, sem participar das grandes discussões de interesse nacional, sem liderar qualquer partido dos quais fez parte e sem estar à frente de nenhuma comissão na câmara, ficando restrito ao chamado baixo clero, que são os parlamentares de pouca expressão e muito barulho. Enfim... esse personagem foi eleito presidente da república, após sofrer um atentado, e praticamente nao participar dos debates entre os presidenciáveis, onde seu despreparo para o cargo ficaria evidente.

Bolsonaro chegou ao poder sem um plano para o país, sem experiência em gestão pública, sem conhecer os reais problemas da nação que governa, apenas com o discurso de combate a corrupção, o que na verdade nem é papel do Presidente e sim da Polícia e do Judiciário, o que lhe cabe é não ser corrupto, mas não pode se colocar como investigador e juiz dos outros.

Sua incapacidade e falta de liderança ficaram em evidência nessa pandemia, tendo demitido dois ministros da saúde e feito proselitismo de um remédio comprovadamente ineficaz, colocando ainda mais em risco a saúde das pessoas, ainda sim, a popularidade do capitão só aumenta. O auxílio emergencial ( que ele inicialmente foi contra) explica esse aumento, mas não só ele, pesa o fato de nossa população sempre estar em busca de um salvador da pátria, alguém enviado dos céus que irá resolver todos os nossos problemas com um murro na mesa, na base do "aqui quem manda sou eu" na verdade nao temos apreço pela democracia, apenas por alguns direitos pontuais tais como a tão cultuada liberdade, fora isso, a negociação, o entendimento entre os diferentes tendo em vista o bem comum não são coisas que valorizamos, a idéia sempre é eliminar o outro lado e não derrotá-lo no campo das idéias, gostamos da boa e velha demagogia e de uma certa malandragem, desde, é claro, que seja a nosso favor, Podemos dizer que Jair Bolsonaro é a síntese de tudo isso, por isso ele parece tão familiar para uma boa parte dos eleitores, podemos resumir isso em uma frase: "não importa sua capacidade de liderar e administrar o país, o que importa é que seja parecido comigo." foi assim com Lula, está sendo assim com bolsonaro e será assim por um longo tempo, até que surja uma geração de eleitores mais esclarecida e mais crítica.