O avião levou

Toda criança adora ter um animalzinho, eu e meus irmãos não éramos diferentes. Até os treze anos vivi em um apartamento. Era amplo, três quartos , uma sala grande, banheiro e uma cozinha. Pequena era a área de serviço, tinha um tanque para lavar roupas e só. Não tenho muita noção das medidas, afinal faz tempo isso, acho que tinha dois metros de largura por três de comprimento. Brincávamos ali pela casa mesmo. Tínhamos um velocípede com banco de carona e um jeep movido a pedal. Minha mãe, coitada, sofria com nossa bagunça. Três crianças em um apartamento, já imaginaram...

Meu pai um dia trouxe uma surpresa; mal acreditamos, quando vimos numa caixinha, uma cadelinha! Linda, de raça pequena, não me lembro qual. Cor de mel, ainda filhote. Foi uma festa! Minha mãe teve de brigar para irmos para a cama.

Colocamos o nome de Gueixa. Pobre cadelinha, logo descobriu as desventuras de ter três crianças como dono!

Para mim era uma boneca, queria vesti-la, vivia no colo sendo ninada.

Para meus irmãos, uma co-piloto nas suas aventuras automobilísticas. Drama número um: ela era uma só; drama número dois era um animalzinho e não um brinquedo.

Minha mãe agora tinha quatro para olhar, virava e mexia um de nós estava chorando, e quase invariavelmente era a cadelinha.

De tanto ouvir choro teve uma ideia criativa, bom pelo menos a cadela descansava um pouco. Arranjou uma sacola, colocava a cadelinha lá dentro e pendurava no alto da porta. Dessa maneira ela e a cadela tinham um pouco de sossego.

Assim foi, até que meus pais conversaram com o amigo que nos presenteou, e ele a aceitou de volta.

Combinaram de no dia seguinte buscá-la, á tarde porque tirávamos uma soneca após o almoço.

No dia seguinte ele foi buscar, usou a sacola que ela costumava ficar, para levá-la. Acontece que meu irmão menor acordou com o movimento, estava ainda um pouco sonolento. Viu levarem a cadelinha, nesse instante passou um avião e ele se distraiu.

Quando já bem desperto, quis saber da cadelinha, disseram que o avião levou.

Mais tarde quando eu e o outro irmão acordamos, e procuramos a cadela, ele apontou para o céu, e disse: "Vião levou bó lá longe..." E ficamos todos consternados...

Santa inocência!