Notificação

Pegou o celular. A notificação de mensagem aparecia. O número que a enviava não estava em sua lista de contatos mas ela imaginou pelo prefixo quem seria. E era. A última mensagem que ela podia ler sem que deixasse o remetente saber que ela havia visto toda a conversa dizia: Me mande notícias! E isso foi o suficiente para que seu coração acelerasse e seu cérebro funcionasse a todo vapor pensando no que iria responder. Não responder também era uma opção visto que andara deixando tantas pessoas sem respostas nos últimos dias. Mas essa não, essa necessitava de uma resposta e era exatamente pensando nesse dia, nessa resposta, que ela vinha sofrendo há tantos e tantos meses.

Abriu a conversa. Antes da última frase lida só havia mais uma: Bom dia! Em seguida: me mande notícias! Ela sentiu certo alívio pois pensara que poderia haver mais algum questionamento que a fizesse sofrer mais, como se isso fosse possível. Me mande noticias! Ruminou por cerca de quarenta minutos. A resposta seria grande. Decidiu não digitá-la pelo aplicativo. Isso mostraria ao remetente o quão difícil estava sendo responder. Foi para o word onde poderia digitar o texto-resposta e depois colá-lo na conversa. Começou a escrever. Trinta minutos depois ainda não tinha conseguido formular uma resposta plausível. Parecia tão simples mandar notícia. Mas aquela notícia não era simples. Aquela explicação não poderia ser dada em poucas linhas. E ela tinha medo de magoar alguém que ela tanto admira. Terminou o texto explicativo de suas notícias. Leu. Consertou algumas palavras. O coração continuava acelerado. Leu novamente. Acrescentou outras tantas palavras. Parecia mais verdadeiro e pessoal agora. Leu de novo. Parecia bom. Enviar ou não enviar. Decidiu conversar com duas pessoas antes. Como não poderia estar online no aplicativo pois se o fizesse o remetente poderia pensar que ela estava o ignorando, decidiu ligar. A primeira pessoa estava fora de área. Merda. Correu no aplicativo e digitou um socorro em caixas altas. A pessoa viu. Estava sem sinal de celular mas tinha wifi. Assustou-se. Ligou pelo aplicativo e ela teve que atender. Fez aquilo parecer tão simples na conversa. Sem êxito. Ela não deveria ter ligado pra ele. Tudo pra ele é simples. Decidiu não tentar ligar para a segunda pessoa. Copiou a mensagem. Colou na janela da conversa. Apertou enviar com os olhos fechados. O remetente não estava online. Ótimo. Respirou aliviada. Decidiu mandar a cópia da mensagem para a segunda pessoa para a qual ela ligaria. Mandou. A pessoa leu e a parabenizou pela resposta. Que alívio! Ponto pra ela! De cinco em cinco minutos ela conferia o celular para saber se o remetente havia lido. Leu. Ficou nervosa novamente. Nenhuma resposta. Apenas uma visualização. Melhor assim, ela pensou. Melhor nada. Precisava de ao menos um ok, ou um joinha que pra ela representa a maior frieza possível ao se responder por mensagem de celular. Pensou que sua resposta-texto pudesse ser tão profunda que o remetente tivesse se assustado. De repente ela não precisasse ter escrito tanto. Precisava sim. Duas horas depois ela já estava calma e convicta de que não teria uma resposta. Notificação no celular. Respondeu. Coração acelerou novamente. Não abriu a conversa. A última mensagem dizia: Toca pra frente! Se fosse sobre outros assuntos ela ficaria extremamente irritada com essa resposta. Mas nesse contexto essa resposta valia. E muito. Ela riu. Imaginou a cara dele falando isso. Toca pra frente. Tão simples e tão verdadeiro. Decidiu abrir a conversa. Um pequeno texto ressaltava o que ele pensava sobre ela: muito competente! Ela sorriu. Ficou imensamente feliz com a resposta. Entendeu o porquê da demora. Ele não parecia esperar aquela resposta e como ela o conhecia ao menos um pouco, soube que ele também ruminara bastante para responder. Quis parecer tranquilo, sensível, compreensivo, mas sem deixar de mostrar a tristeza por ter recebido aquela notícia. Muito competente! Ela sabia. Mas é sempre bom ler isso sobretudo quando vem de alguém que ela admira como ele. Muito competente e um abraço! Ela leu novamente. Decidiu responder. Ok. Obrigada. Um abraço. Passou a ansiedade. O coração desacelerou. Ficou no ar aquela sensação de que poderia ter continuado mas que continuar não a faria feliz como ela queria ser. Melhor foi ser honesta e seguir usando sua competência em outros tantos projetos. No fim a escolha foi acertada. No fim as coisas fizeram sentido. No fim era só uma mensagem. Mas dessas que organizam uma vida!

Eciane
Enviado por Eciane em 02/09/2020
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