VISITA À CASA ONDE NASCI

Era um domingo. Por volta de meio dia. Só me lembro de que era no ano de 2015. O dia estava bonito. Muito sol, céu azul com poucas nuvens. Minha esposa e eu chegamos à Piteira, lugarejo simples, a uma légua e meia de distância da cidade de Rio Espera, Minas Gerais. Em que lugar? Exatamente na casa onde nasci.

Pois bem. Havia uma porteira. Para nos receber um cão magro, branco com manchas desiguais e de cor marrom escuro, latiu e anunciou aos donos da casa a nossa chegada. Não demorou muito uma senhora, relativamente nova, apareceu na porta da casa. Em seguida, o marido e dois garotinhos, filhos, com certeza. Cumprimentei-os. Tudo bem? Perguntei. Logo em seguida fui dizendo que aquela casa fora de meus pais, já falecidos: Maria das Dores e João Pereira. Falei que ali nasci e vivi algum tempo, até os quatro anos de idade. O casal nos chamou para entrar. Nem era preciso, pois eu lhe pediria para dar uma volta dentro de toda a casa. Era o meu desejo. Meus olhos estavam marejados. Era emoção e saudade. Observei que a cozinha estava limpinha. Na entrada, não havia mais a bica de água cristalina, onde mamãe lavava as vasilhas e recolhia o líquido precioso para uso quotidiano da casa. Olhei para cima e observei as telhas. Estavam escuras. A fumaça do fogão de lenha assim as tornara. Parei e fixei os meus olhos na cumeeira. Por quê? Queria me lembrar de que papai teria amarrado uma corda na madeira para pendurar um pequeno balaio. Nele a mamãe colocava seus bebezinhos e, enquanto cuidava do fogão, balança para lá e para cá seus pequenos filhotes. Contei para os donos da casa por que estava observando tudo. Pedi para continuar minha caminhada pela restante do imóvel. Fui ao quarto de mamãe e papai. Imaginei os dois ali. Observei a sala, debrucei-me por um instante na janela. Observei o céu. Fui até os outros cômodos e pude ver a mata, da janela do quarto de mamãe. O que mais? Algumas laranjeiras, em flor. Não podia esquecer. Apesar de muito criança, lembrei-me dos momentos em que mamãe, com uma faca, descascava laranjas, campistas, docinhas, e distribuía para cada um de seus guris. Mamãe, muito nova ainda. Nessa época, quando estava eu com quatro anos, ela tinha apenas trinta e sete. Era linda. Com certeza. Apesar da vida difícil que levava, da luta diária pela sobrevivência, estava ali, toda bonita, toda feliz com seus pimpolhos. Éramos cinco irmãos: o Zezé, o Antônio, o Geraldo, o Marinho e eu. Minha irmã, a Conceição Aparecida, não tinha nascido ainda, no que me lembro agora. Embora muito pobres, a felicidade reinava, pois eram meus pais honestos e trabalhadores.

Depois de percorrer toda a casa, conversar com o casal que ali residia e até hoje reside, contei aos dois um pouco de minha vida. Falei de meus pais e até sugeri à dona da casa que, quando houvesse alguma dificuldade, poderia ela recorrer à alma de minha mãe que, sem dúvida poderia ajudá-la, pois sempre foi uma pessoa do bem e certamente já estava no paraíso, ao lado de Papai do Céu. Não sei se fiz bem em fazer isso, mas fiz.

Para finalizar, passeei no lado de fora da casa. Olhei muito para o céu imaginando quantas vezes meus pais, exatamente naquele lugar, viveram e, com certeza, muitas vezes fizeram o mesmo. O céu, o mesmo, as nuvens, não as mesmas, porque todos os dias elas se renovam. Não deixei de ficar olhando também a pedreira, onde estava o moinho, que se avistava da janela de um dos quartos. A pedreira parecia um espelho luminoso, pois descia sobre ela água clarinha de um pequeno poço um pouco acima.

A visita que fiz à casa onde nasci, na qual começou minha história, me trouxe muita emoção, muitas lembranças e eu prometi a mim mesmo que voltaria outras vezes naquele lugar tão simples, mas abençoado por Deus.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 23/08/2020
Reeditado em 22/09/2023
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