CRÔNICA
PRECE
SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, ROGAI
POR NÓS, OS PECADORES!
Agora e na hora da nossa morte, amém. Pai nosso
que estais nos céus, santificado seja o vosso nome,
venha a nós o vosso reino. Seja feita a vossa
vontade, assim na terra como no céu...
Acordei com a voz de minha mãe rezando o terço,
coisa não muito comum em minha casa. Apesar da nossa
fé cristã, não éramos muitos voltados aos dogmas da
Igreja. Lá uma vez ou outra, íamos à igreja sempre aos
domingos. Caso não chovesse, em dia de chuva ficar mais
um pouco na cama, era sempre um convite
Levantei-me e caminhei até o cômodo da casa onde
minha mãe se encontrava. Parei ao pé da porta do seu
quarto, e lá estava ela, com o terço e a bíblia à mão e os
olhos voltados para a imagem dos santos de sua fé: Nossa
Senhora e o Cristo crucificado: pedindo misericórdia.
Às 8h, nos sentamos à mesa para o café da manhã,
eu e mais dois irmãos, Leonor e Roberto. Minha mãe
apresentava um semblante de sofrimento e dor, nada se
parecia com aquela mulher de sorriso largo e sempre
contando casos da vizinhança, histórias que nos divertiam
muito. Entre nos, sem que ela pudesse ouvir,
comentávamos que o que D. Ruth não sabe é porque ainda
não aconteceu.
– Tá triste hoje, mãe!
– Roberto – Ela olhou nos olhos de cada um dos
filhos, deixando os seus se encherem de lágrimas, com
uma voz que até então não tínhamos ouvido naquela
entonação.
– Vocês ainda não ouviram falar da doença que
começou lá na China e agora acaba de chegar aqui.
Olhamos um ao outro esperando uma resposta da tal
doença. Ela continuou:
– Um de vocês vá na farmácia e compre um bom
estoque de álcool em gel e tem que ser 70% e também me
traga uma boa quantidade de sabonete.
Leonor olhou mãe com olhar de assombração e foi
longo perguntando se era preciso de tudo isso.
– Vocês não estão sabendo de nada mesmo, pois
esse tal de vírus primeiro pega nas mãos e quem pega, se
coloca a mão no rosto ele entre na boca, no nariz e no olho.
Por obediência a nossa mãe, ficamos em casa
aguardando que ela suspendesse o toque de recolher.
Castro Rosas