em cismar, sozinho à noite, mais prazer encontro eu lá.

Eu sinto que preciso urgentemente criar um filme, uma música, participar de uma peça teatral ou procurar um psicoterapeuta. A minha capacidade de viver numa pós-realidade imaginária é extraordinariamente perigosa e cruel. Eu me machuquei por causa desse vazio afetivo. Inclusive, já me declarei como uma mocinha tosca de algum filme pseudo-hollywoodiano da sessão da tarde para alguém que mal conheço. Isso é desespero de viver, sintomas da madrugada ou é só idiotice mesmo? Não sabemos. Me sinto horrivelmente sozinha morando em um lugar sem amigos, sem cor, sem graça. Obviamente para quem tem amigos há cor, graça. Sinto saudades do sal, do calor, do sabor das coisas, de coração pra sentir. Saudades da Bahia. Saudades de não sentir saudades.

Não foi preciso sair pra sentir falta. Não sou Gil pra dizer que "hoje eu me sinto como se ter ido fosse necessário para voltar". Mas sou Gil quando diz que foi necessário para voltar "tanto mais vivo de vida mais vivida, dividida pra lá e pra cá".

Há em mim tanta criatividade quase sórdida que vira quase-poema e quase-qualquer coisa. Não escrevo textos com mais ousadia por falta de coragem, mas por impulso declaro versos românticos banhados na breguice e movidos por uma coragem diabólica. E tudo isso me rende uma coleção monótona de desilusões e arrependimentos. E mais alguma coisa ruim e vergonhosa também.

Para fugir da realidade ou entrar em um protótipo dela, eu escrevo. Um dos maiores defeitos que meu eu lírico e eu temos é o de descaradamente criar toda uma história fictícia a partir de alguém que já existe e que já possui uma vida real com pessoas reais. Parece loucura, talvez seja. Parece que eu exagerei, mas nem tanto.

E assim vou vivendo minha vida errante, farsante de mim mesma, na fé de quiçá um dia tomar uma dose de sentido e de estar.