SÃO JOÃO IGUAL A ANTIGAMENTE

Não sei, mas dentro de mim borbulham ideias, as mais variadas ideias a serem escritas nesta data especial na qual festejamos o amado São João do carneirinho, o São João precursor do Messias, o São João, primo de Jesus Cristo. O que me impede? Não existe exiguidade, pelo contrário, existe uma vastidão de temas que convergem a um só contexto: a noite de São João mas me faltam palavras inovadoras, as que disponho talvez se esgotassem em uma só linha. Às vezes é o temor de colocar uma palavra que provoque milhares de outras, indesejadas, estas. Porém, o impulso de escrever agora me domina, me determina a descrever as noites de São João do passado, mais belas e mais poéticas do que estes festejos de agora. Principalmente este ano, onde a sombra da morte se esconde sob a capa de uma falsa pandemia, aterrorizando muitas pessoas mal informadas ou sugestionáveis, onde toda morte que ocorre, invariavelmente é computada ao indesejado Covid19 como se não existissem mortes outras, como se ninguém morresse de outros males. Virou moda: é doce morrer de Covid19. E quando chegar o Covid20, a frescura será a mesma? Que vergonha, gente! Sou dominado por um impulso puro – mesmo com essa atrocidade mental que domina aos outros, não a mim, graças a Deus. Posso até morrer deste mal, ninguém está livre de contrair essa praga que nos ronda a todos nós. Ninguém morre de outros males? Sejamos fortes! Vamos encarar este mal com coragem e determinação, tendo os devidos cuidados! Quase toda a população mundial será contaminada pelo Covid19, fato inconteste, não adiante se acovardar, escondendo-se em máscaras, usando luvas, quinquilharias outras ou se deixando subjugar em seguidas quarentenas! Pragas piores já existiram e ninguém se acovardou como agora! Que vergonha de ser um humano neste momento que atravessamos! Apesar disso, hoje é véspera do dia mais importante dos festejos juninos: o dia de São João. Como se dispusesse de tela, pincéis e cores singularmente existentes nesta noite mágica sem fogos ou sonoridades típicas da ocasião, a mudez me domina, fato essencial que é fundamental para que se possa descrever com exatidão o que se passa em minha mente, para retratar os noites de São João de outrora. Às vezes, a minha mudez exaltada em uma sala silenciosa, faz com que eu procure pessoas, que sem elas saberem, me motivam sobremaneira a abrilhantar estes festejos que me proponho a traduzir em palavras. Mas quem? Quem me serve de inspiração para tal feito? O mistério é exatamente esse: ninguém em especial e no entanto a força me impelindo a libertar as palavras e saudar o São João do Passado.

Com certeza, a noite de São João de hoje em Bezerros, remontará aos festejos de outrora, onde as famílias se reuniam em torno à fogueira, narravam contos de antanho, milho assado na brasa, licores, quentão, o coração dos jovens palpitavam, era o semblante do amor desejado, era o fogo no coração em brasa, vindo da fogueira, vindo daquele ambiente se manifestando através de balões e fogos de artifício.

De uma coisa tenho certeza, este Coronavirus, veio de carona, embalado no amor perfeito para reunir as famílias em torno à fogueira e devolvendo o real sentido dos festejos juninos. Atualmente, diante ao progresso reinante, as famílias se dividem: os pais, desconsolados, cedo dormem enquanto os jovens se misturam às multidões e se perdem em enredos e cantorias, cantores famosos deturpando o real sentido do momento, contribuem ao distanciamento da magia desta noite sem sentido. Hoje, com certeza, os jovens viverão a singeleza da data como era antigamente, verão com mais atenção a sutiliza da paisagem, a cumplicidade das estrelas, o brilho no olhar das meninas e, surpresos, descobrirão a harmonia desta noite mágica sem estripulias e sem falsos atrativos, tendo por base a tradição e como peça de resistência, a musicalidade insubstituível de Luiz Gonzaga, o Lua do baião.

Quem é que não gosta de São João? Dia 24 de junho é o dia do santo festeiro que se doa por inteiro a nos embalar com cantigas de amor perfeito, com comidas típicas resultado de bom inverno: milho, feijão e baião; fogueira, folguedo e balão. São João do nordeste, terra de cabra da peste, oriundo da região agreste, com orgulho aos quatro ventos proclamo: sou pernambucano com orgulho. Amo a festa de São João de corpo e alma! Tem gente que espera o ano inteiro e realmente não consegue conter a alegria quando vê essa época maravilhosa dar as caras. Se você é uma dessas pessoas, aproveite bastante!

Feche os olhos e imagine uma festa de São João... Por mais que você nunca tenha visto um balão no céu em sua vida, ele certamente estará lá na imagem que você tem de uma Festa Junina, junto com a fogueira, a paçoca, o quentão... Celebre o que essa data tem de melhor!

Quando chega a Festa de São João, a vontade que temos é de que ela nunca termine, não é? Sempre que alguém nos questiona, pergunta por que continuamos pulando fogueira e dançando quadrilha, respondemos: "Ainda é São João" e isso basta.

"Já formei minha quadrilha, vou dançar meu São João!"

"A fogueira tá queimando em homenagem a São João, o forró já começou!"

Luiz Gonzaga

Outras citações me encantam e me fazem lembrar do São João de Bezerros:

"No São João é que eu me lembro, o quanto eu amo meu nordeste!"

"Com o frio de junho e as festas de São João, inventaram o forró na época certa!"

"Viva São João!"

"Na mesa a nos convidar, pipoca, milho, paçoca, quentão e viva São João!"

"Quando é São João, tem fogueira com quadrilha a noite inteira. Vamos todos festejar!

O céu estava em festa pois era noite de São João.

Amigos são balões coloridos enfeitando o céu do nosso coração. Feliz São João!

São João alegre e buliçoso, cheio de balões e de vozes gratas da infância".

Cyro dos Anjos

"Chegou dia de São João, agora é só alegria!"

"Durante o São João não é o Nordeste que respira a alegria...

É a alegria que respira o Nordeste".

"Meu coração é nordestino

Ele bate mais forte no mês junino

Corre no vento contra o destino

Que eu escolhi desde menino"

"Fui atrás da felicidade e acabei no forró de São João! Como era bom o São João de antigamente".

E é como se fosse escrever um livro sobre a sensação que tive uma vez que passei uma e mais seguidas quarentenas forçadas - quando sai relutante em passos descompassados pela primeira vez à rua sem máscaras ou aparatos descomunais, havia sol aquecedor, sorridente e saudável me desejando bom regresso, e muita gente a caminhar descompromissada dessa maldição que amedrontou muita gente. E de como me veio uma vetusta ou juvenil exclamação: como as pessoas são bonitas! É que eu me libertara de meu escuro implacável para a benéfica claridade também minha; que eu saíra de uma solidão ignominiosa de pessoas para rever seres humanos que moviam pernas e braços e, maravilhado descobri, que eles tinham feições no rosto e eram simpáticos a mim!

Feliz São João!

clira
Enviado por clira em 23/06/2020
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