Remédios de antigamente

     1. O saudoso escritor Rubem Alves (1933-2014), pelo qual nutro respeitosa admiração, deixou-nos uma crônica com este título: "A Pharmacia e os remédios", Está no seu livro "O velho que acordou menino", parte de sua infância contada em belas páginas. Vejam que ele escreveu Farmácia com Ph. Pharmacia.
2. Sim, porque dessa vez seu objetivo era escrever sobre remédios antigos; remédios do seu tempo de menino, vendidos, certamente, em Farmácias com Ph. Como gosto das coisas do passado, fui ver o que o mestre Rubem Alves havia escrito sobre os remédios de antigamente. 
3. Vamos lá. Ele começou falando sobre a Emulsão de Scott, um remédio, do seu tempo de criança, que foi também o meu, um remédio, repito, de sabor insuportável.
4. Também chamado de Óleo de fígado de bacalhau, apanhei pra caramba de minha mãe (inesquecíveis chineladas!) para engolir essa fedorenta Emulsão. No rótulo da garrafinha, um homem carregando, nas costas, um enorme peixe (bacalhau?). 
5. Depois de ler a crônica do teólogo Rubem Alves, quis saber - nunca me preocupara com isso - quem, afinal fora Scott. O descobridor da intolerável emulsão? Sobre ele, nada encontrei nas pesquisas que andei fazendo.
Soube apenas que a história da Emulsão de Scott vem de 1830; nascera num pequeno laboratório de um farmaceutico chamado John Smith.

6. A Emulsão de Scott sobreviveu ao tempo, galhardamente. Disseram-me que em  qualquer Drogasil, São Paulo e Pague Menos, farmácias que praticamente dominam o mercado farmacêutico, a gente encontra a Emulsão de Scott. 
Só que, hoje, a Emulsão, embora continue exibindo no rótulo da garrafinha o homem e o peixe, vem com o gostinho agradabilíssimo de laranja ou de morango.

7. E o cronista Rubem Alves prosseguiu, citando outros remédios velhos. Por exemplo: Elixir Paregórico, Phimatosan, Regulador Xavier e as famosíssimas e queridíssimas Pílulas de vida do Dr. Ross, benfeitoras do "fígado de todos nós"; as pequeninas "que resolvem".
8. Nessa crônica, para não torná-la enfadonha, deixo de tecer comentário sobre todos os remédios citados pelo autor de "O velho que acordou menino". Fixo-me no saborosíssimo Biotônico Fontoura, de longa tradição e bonita história.
(Um dia escrevo sobre a Magnésia de Phillips, sobre o Vinho Reconstituinte Silva Araújo, a Panvermina e o Óleo de rícino).

9. Minha mãe, uma autêntica  médica do lar, toda vez que me surpreendia em demorada inapetência, recorria ao Biotônico, certo de que ele abriria o meu apetite.  E abria.
Costumava lembrar que o Biotônico recebera o nome do seu criador, o farmacêutico paulista Candido Fontoura (1885-1974) Me informaram que em qualquer farmácia você encontra esse prodigioso reconfortante.

10. Disse de bonita história. Com o patrocínio do Biotônico e a ajuda do nosso Monteiro Lobato, o Brasil conheceu o "Almanaque Fontoura", publicado todos os anos. O primeiro a circular foi no ano de 1920. Sua tiragem, em 1982, chegou a três milhões de exemplares. 
11. O "Almanaque Fontoura" publicava valiosas informações sobre o seu patrocinador, curiosidades, passatempos, as fases da lua e o Horóscopo.
Lendo o "Almanaque", passei a me interessar pelo Horóscopo. Ele ensinou-me a conhecer melhor o meu sígno, sou de Peixe.
Ainda hoje, vez em quando, procuro saber dos astros o que eles reservam de bom e de mal para o meu dia a dia. O "Almanaque Fontoura" é hoje uma saudade...  
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 21/05/2020
Reeditado em 21/05/2020
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