Este texto tem duração de umas 3 ou 4 "Cucurrucucú Paloma"

Uma aula on-line de Química que travou tão pouco que o horário do professor marca 11h03 e o meu está pra lá de 11h27. Certamente estou acompanhando tudo. Fundo sonoro de Fábio Jr. com seu hit implacável: " carne e unha, alma gêmea...". Cansei, não consigo continuar. "Bate coração...". Tá, parei.

A conexão se restabeleceu e o professor está passando uma unidade de deveres. Adorei. Ele está se despedindo agora, aliás, abriu um espaço para dúvidas. Ele proibiu um aluno de falar (risos internos). Errado. Mas o aluno é mesmo prepotente. Ele está brincando,o aluno falou. Voltando: eu não adorei, nunca entendi por completo cálculo estequiométrico.

Travou. Voltou. Travou de novo. Ele está falando do ENEM. Engraçado... o filho pequeno dele acabou de gritar. Deu para ouvir lá no fundo. Ele encerrou agora. Tanto faz, não foi uma aula de verdade. "Tchau, beijo".

A vizinha agora colocou Djavan. Finalmente! Mas deve ter sido o marido, ela só gosta de " a metade da laranja, dois amantes, dois irmãos". Silêncio estranho. Sabe aquele silêncio de pessoas, mas não de coisas? Gente teclando com tanta força que não há mais teclado. Mãe cortando alguma coisa, eu escrevendo de forma ilegível porque as ideias estão pairando e eu tenho de capturá-las.

Ela não quer ajuda. Mas eu ajudo mesmo assim, vou lá e faço algo. "A morte de Ivan Ilitch" me olha desconfiado de um canto da mesa. Calma, vou ler. Estou mesmo é esperando um outro livro chegar, deve ser umas 6 vezes maior que o de Tolstói. Quero devorá-lo com mais gosto que o primeiro.

"Ay, Ay, Ay, Ay, Ay

Cantaba

Ay, Ay, Ay, Ay, Ay

Gemía"

Acho que essa "paloma" triste é paradoxalmente um doce alívio pra qualquer coisa com ouvido e que saiba escutar. Escutem, que eu escuto de cá.