TORNEI-ME UM RISCO (BVIW)
 
Por conta da epidemia de pânico que assola o mundo, estou aqui na base da quarentena, haja vista ter perdido – por conta da idade – a condição de pessoa e me tornado um “risco”, o que está me cansando, então resolvi colocar o pé fora de casa, foi ai que um gaiato gritou:  Ô do risco, cuidado com a carrocinha! Meia volta! Pesinho pra dento, orde dos home e tem mais, é coisa séria, tá sendo filmada. Dei meia volta e me recolhi, quando lembrei que tinha um dever de casa pra fazer: escrever um texto  citando   trecho de um  livro de livre escolha . Foi o que fiz  e escolhi Shakespeare:                                           
Após ouvir a declaração entusiasmada de amor à Natureza pela  mulher  -enquanto esta fechava a janela do quarto por conta do aguaceiro que começou a cair - o marido, que estava devidamente instalado na poltrona ao lado da cama do casal, interrompeu a leitura de Shakespeare   e  repetiu para ela o que acabara de ler: “VOCÊ DIZ QUE AMA A CHUVA, MAS VOCÊ ABRE SEU GUARDA-CHUVA QUANDO CHOVE. VOCÊ DIZ QUE AMA O SOL, MAS VOCÊ PROCURA UM PONTO DE SOMBRA QUANDO O SOL BRILHA. VOCÊ DIZ QUE AMA O VENTO, MAS VOCÊ FECHA AS JANELAS QUANDO O VENTO SOPRA. É POR ISSO QUE EU TENHO MEDO. VOCÊ TAMBÉM DIZ QUE ME AMA.”
Missão cumprida, vou voltar pra minha rede e soltar beijinhos pros netos mantidos  20 metros de distância.
 
 
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 07/04/2020
Reeditado em 07/04/2020
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