VIAJAR É BOM, MAS...

A dificuldade de comunicação é um problema quando viajamos para o exterior. Já tive algumas experiências neste quesito.

Em Salzburg fui acometido por um resfriado e na farmácia estava com dificuldade para explicar para que eu queria o medicamento. Até que comecei a espirrar e a balconista exclamou –“Ah! Gripe”.

Em Budapeste, o lavatório do banheiro estava entupido e eu me arranjei com o tradutor do celular. Mostrei na portaria a frase “a furdoszoba mosogatója eldugult” e no nosso retorno estava consertado.

A insegurança nos enormes aeroportos também é grande. Em Londres, é necessário pegar um trem interno para se deslocar entre os terminais. Eu jamais acertaria não fosse a minha esposa estar usando uma bota ortopédica, pois ela havia trincado um osso do pé dois dias antes da viagem marcada. Fomos levados por um carrinho, destes parecidos com os de campo de golfe.

Em Roma, foi cômico. Para não me perder no dia da viagem fui um dia antes no aeroporto e decorei todo o caminho que eu deveria fazer, desde a entrada no terminal 3 até o guichê da Empresa aérea.

No dia seguinte, com todo o esquema decorado lá fomos nós com ares de entendidos. Descemos do táxi na porta do terminal aonde se localizava a companhia. Mal passamos a porta e encontramos um verdadeiro caos. Cheiro de fumaça, pessoas de máscaras, distribuição de água mineral. Naquela noite havia ocorrido um incêndio no aeroporto. Tudo estava mudado. Eu não conseguia encontrar a Ibéria. Até que alguém subiu num balcão e virou uma placa. E quando a placa foi virada, lá estava escrito “Ibéria”, nossa companhia aérea. Que alívio.

Em Viena, nos perdemos. E já era noite. Estávamos numa estação de bondes sem saber para que lado ir. O tempo passando e nós preocupados. Foi quando percebi, no escuro, debaixo de algumas árvores, um carro parado. Seria um taxi? Era. O motorista, um oriental muito educado, nos levou até o hotel onde estávamos hospedados.

No Marrocos, o guia falava um português perfeito, ou quase. Num dos passeios ele falava que aonde existia primavera havia confusão. Ele se referia à “Primavera Árabe”, período de manifestações ocorridas no oriente e no norte da África. Em outra ocasião ele se referiu ao wireless como ui-fi. Expliquei a ele que não era uma denominação do português e se pronunciava uai-fai. Dalí para frente ele corrigiu e pronunciou corretamente.

Nessa viagem ao Marrocos um brasileiro sem caráter me fez passar vergonha. Além de chato, o sujeito não era muito ético. Nós estávamos no ônibus, já de saída, quando um recepcionista veio reclamar do sumiço de alguns objetos de um dos apartamentos, justo o dele. Sem pestanejar ele afirmou – “Eu não peguei, mas se tiver que pagar, eu pago”. Ele tinha uma nota de cem dólares que não valia mais. Não teve dúvidas, deu de gorjeta para o guia.

Em Nova Iorque, numa loja da Century 21, compramos alguns óculos e um deles não tinha a caixinha para guardá-lo. Pedi e insisti com o vendedor, mas ele queria cobrar US$ 30,00 pela caixa e eu insistia que queria “free”. Ele fazia ar de desentendido até que descobri, por sorte, que eu não havia pago por aquele óculos e ele estava entendendo que eu queria o óculos de graça. Imagino a confusão que poderia dar se eu saísse com aquele óculos, na sacola, sem pagar.

Viajar é bom, mas recordar é melhor ainda.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 06/04/2020
Reeditado em 21/07/2021
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