CORONADA - VII (OS ESTRANGEIROS)

Estava distraído quando a viatura diminuiu a marcha e o sargento bateu em meu ombro, dizendo "sua vez, acompanha o cara lá!"

- Hã?!... - Bocejei.

- Vai logo, meu! O alemãozinho é todo ligeiro, já tá indo abordar a mulher.

- Sim senhor.

Desci meio displicente, suando, o calor cansado pesando em cada gesto. Pus a mão no coldre. O fiscal batera a porta do carro da prefeitura, atravessou a rua e me encarava,a guardando a proteção. Fui.

Olhei a loja. Pequena, uma porta cerrada, a outra aberta, o cartaz informando sobre a pandemia. Uma senhora sentada numa banqueta, nos olhava, assustada, as mãos cruzadas sobre o peito, prevendo o chumbo grosso que viria.

Quando o garoto a abordou, fiquei dois passos atrás. Os olhos úmidos dela durante o diálogo curto e ríspido, a todo momento procuravam os meus. E quando me alcançavam, eram de indignação, misto de revolta e dor. Para não que abaixar a cabeça diante da cobrança muda, virei de lado observando a rua: todas as outras portas fechadas ou semiabaixadas, como se fosse uma declaração de luta e luto. Poucas pessoas transitando, a sensação de que me encaravam. Ameacei tirar o Ray-Ban mas fiquei com vergonha de encarar o mundo. O suor escorria em meu rosto, ardia no sovaco, cintilava em emus braços contrastando com o amarelo vivo do sol.

A mulher desembestara a questionar o rapaz da lei. E eu agoniado, querendo sair logo dali. Os carros que passavam pareciam raios, a luz incidindo com violência sobre mim. Cada vez mais nervoso, apertei a base do revólver.

As únicas pessoas brancas ali eram o Estado: um sargento distraído à sombra da viatura, navegando nas redes virtuais, e um fiscal molenga multando a comerciante.