O Pum do Uber

- Amor, você não vai pedir o Uber?

- Sim. Eu já tô pedindo aqui. Ele chega em 3 minutos.

- Certo. Tomara que a gente não se atrase pra essa prova de Física.

- Claro que não. O professor sempre chega atrasado na sala, mesmo quando ele já tá na universidade. Ele não tava afim mesmo de dar essa cadeira.

- Bem desestimulante isso, mas nós vamos conseguir aprender ainda assim.

- Claro que vamos. Olha, é aquela a placa: HXW9008. Viu? Vai dar tempo, fofinha. Fica tranquila.

- Tudo bem. Você tem razão.

O casal entra no carro e o motorista os cumprimenta.

- Bom dia, pessoal! É para o Pici que vocês estão indo? - pergunta animado o motorista.

- Bom dia! É isso mesmo. - ambos respondem.

- Vou só confirmar aqui no GPS. Ok? - alguns toques no celular e estava pronto para seguir viagem - Vamos lá!

O silêncio se fez naquele carro, pois os jovens seguiam pensativos e preocupados com a prova e um tanto sonolentos naquela manhã de segunda-feira. Depois de uma semana inteira de estudos pesados - incluindo os finais de semana - lá estavam eles cheios de seus sonhos e esperanças. Ressoava o sentimento de determinação.

Começa o trajeto. Ar-condicionado ligado. Nenhum som. Trânsito tranquilo. Tudo seguindo conforme o esperado. Quando, de repente, vem um cheiro de pum forte e silencioso, mas que não entrega quem o soltou e se espalha por todo o automóvel. "Por quê? Por que tão podre, Odin? Esse estômago tá estragado ou o quê? Valei-me Nossa Senhora." - pensa a jovem aflita.

Eram três os suspeitos de um crime perfeito. Cada um deveria estar se perguntando: "Será que eles acham que fui eu?"

Então, discretamente, o motorista abaixa as janelas da frente para o ar entrar e desintoxicar aqueles pulmões. E, em seguida, ele pega um perfume que guardava no porta-luvas do carro e borrifa, lentamente, à sua direita e à sua esquerda. Sente-se satisfeito. "Ninguém nem percebeu" - ilude-se o motorista com seu sucesso em disfarçar o ocorrido.

Ele acha mesmo que a gente não sentiu aquele urubu? - pensa o rapaz com um sorriso moleque no rosto.

Houve uma troca de olhares entre o casal no banco de trás. Os dois com muita vontade de rir. A gargalhada subia à garganta.

- Você chegou ao seu destino - disse a voz feminina do GPS.

Finalmente. Mas aquele odor nunca mais foi esquecido.

Isis do Vale
Enviado por Isis do Vale em 07/02/2020
Código do texto: T6860875
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