envelheço na cidade

Hoje é o aniversário de minha ida ao inferno. Ou Brasília, popularmente conhecida. E mais que isso, como deve estar óbvio, é a prova escrita de que aniversários nem sempre são felizes e dignos de festinhas.

Alguns anos morando em um bloco de cimento, numa cidadezinha de Lego. Talvez eu não veja mesmo a beleza concreta das esquinas, a deselegância discreta, ainda não conheci a Rita Lee do cerrado. Ou talvez a beleza dela seja pimenta para os meus olhos. E é das boas.

Em janeiro de 2016, estava lá eu entrando no carro estacionado no meio da rua, na chuva. Chuva que me pingava triste e sombria, como quem tocava uma sinfonia do adeus. Dia 24 estreava num colégio católico hostil e mais ridículo que a própria Igreja, passando intervalos solitários em um banco vermelho indicando o fracasso e o ódio de estar ali. O banco não existe mais, eu também nunca existi lá. Os meus amigos ainda não conheci, o amor que esbarra no corredor também não.

Meu curso de teatro me fez feliz e triste, atriz de mim mesma, impostora barata e inexperiente. Não gostei de nenhum menino, não beijei uma boca que não fosse robótica demais, não senti o gosto de ninguém. Pra mim tudo é insosso e todos são a cópia da cópia. Todo mundo com o mesmo rosto, a mesma história. A fala sem sotaque e sem a graça do português. Eles não são ruins, só são tristes e quadrados demais. Eu prefiro um círculo, um triângulo. Mas nem de geometria eu gosto... tudo bem, eu gosto mesmo é das cores, dos sabores e sons de cada coisa. Da construção poética que cada ser emana. Me atrai tudo que movimenta e que causa tremor.

E é isto: vou sendo como sou, me mostrando pelas ruas. O problema é que se não me encaixo, levo choque. E o último está me eletrocutando há exatos quatro anos...