Empatia

Fui surpreendido quando, numa palestra, quem ministrava perguntou à plateia qual era o conceito de empatia. Alguém respondeu em voz alta na mesma métrica em que eu respondia, em pensamento: "é colocar-se no lugar do outro". Óbvio. Não havia resposta mais pronta e assertiva que essa em minha cabeça até o momento. Porém, o palestrante apenas disse: "anrram", para essa "perfeita" resposta e emendou: "alguém mais tem outra sugestão?" Eu pensei: como assim? Não é essa a resposta certa? Inclusive eu queria tê-la dado, para me passar como quem sabe das coisas.

Até o momento era tudo que aprendi sobre empatia. Com algumas reflexões um pouco menos superficiais do que todas as possibilidades de reflexões que normalmente temos, mas era o que sabia sobre o assunto. Mas não. Não era essa a única e muito menos a mais própria reflexão para tal pergunta. Foi quando o jovem psicólogo se aproximou da plateia, onde eu me encontrava perplexo e curioso para vê-lo se enrolar em algum outro conceito para o tema proposto, pois eu não pensava para além do comum. Ele então segura firme a mão de alguém dentre os ouvintes e lhe pergunta: "o que você está sentindo?", o alguém então responde, outra coisa óbvia, tão óbvia quanto a resposta equivocada sobre o que significa empatia e ele diz: "estou sentindo sua mão.". O treinador pergunta para toda a plateia se aquela resposta estava certa e todos, inclusive o "refletidor" de assuntos profundos, eu, respondemos: "sim, está certa". Quando o ministrante diz: "errado. Cientificamente, teoricamente, empiricamente incorreta essa resposta. Ele jamais pode sentir a minha mão. Apenas eu a sinto. O que ele sente é a mão dele sendo tocada pela minha."

Foi quando minha ficha caiu e ele continuou: "empatia é meramente ter noção do que o outro percebe, jamais será se por no lugar do outro, jamais será sentir o que o outro sente." Toda perspectiva acerca de tentarmos nos por na percepção do outro é frustrada pela limitação subjetiva, intrínseca e física de cada um ser vivente. Então eu me contive, pois, honestamente, se tem algo que me enamora, são essas reflexões para além da caixinha de nosso ínfimo saber. E por fim, após aquele encontro, depois de diversas outras profundidades aprendidas, fui pra casa pensando em como eu poderia respeitar mais as pessoas, principalmente as que "não são eu". Ainda pensei em como eu poderia tentar entender mais o modo como elas se expressam na tentativa de se fazerem elucidadas a nós que embora estejamos cada um em seu próprio corpo, fazemos, todos, parte de uma só raça, a humana, nem tão reflexiva quanto deveria e muito menos empática, de fato, o quanto necessitava ser.

Harlen Ribeiro
Enviado por Harlen Ribeiro em 15/01/2020
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