UMA NOITE INUSITADA

O grande dia esperado pelos alunos do nono ano chegou, a Festa fantasia da aula da saudade. O ponto de encontro era no Colégio Florescer, às 17h de uma sexta feira. Exatamente 15 minutos antes do horário estabelecido, os alunos do 9º ano (eram nove no total) estavam à espera da van, juntamente com alguns professores.

De repente chega a professora Hellen (prof. ª de geografia) com alguns pães e queijo que alguém lhe dera na entrada da escola e distribuiu para todos, sobrando apenas dois. Fizeram uma festa com o lanche inesperado.

Já passava do horário combinado quando a van do coordenador que iria leva-los chegou. Começaram a se organizar dentro do veículo. Aconteceu um verdadeiro milagre para caber todo mundo (nove alunos, três professores e mais um coordenador no volante). E ainda apareceu uma caixa de ovos com 30 unidades e ninguém queria segurá-la, sem espaço, ficou passando de mão em mão, sem destino certo. Até que alguém reclamou:

- Ei galera, sai pra lá com esses ovos. Não vou ficar segurando isso não. – Natanael exclamou repassando rapidamente.

E assim iniciou-se a viagem. Durante o percurso, entregaram os pães que sobrou do lanche para a prof.ª Hellen, que alegou que não eram dela.

- Estas sobras não são minhas. – Argumentou referindo-se aos pães que sobraram.

- Mas foi a senhora quem chegou com eles, lembra? Retrucou Heloise.

- Sim, mas o fato de eu ter chegado com eles, não significa que são meus. Apenas fiz um favor. – Disse pondo um fim na conversa e repassando-os.

Logo no início, o automóvel apresentou sinais de que não estava muito bem. Saía uma fumaça preta acompanhada de uns barulhos estranhos vindos do motor. Mesmo assim, continuaram com destino a praia de Carapibus. Não demorou muito para que o barulho se acentuasse misturando-se com as vozes de seus ocupantes na van apertada que exalava um cheirinho desagradável de chulé vindo da parte de trás do carro.

- Meninas, vocês estão sentindo esse cheirinho insuportável? Perguntou Suely fazendo uma careta.

- É chulé amiga! Alguns dos meninos está com o sapatênis podre lá traz. – Respondeu Jacke tampando o nariz. - Não vejo a hora de chegarmos!

- Cala a boca aê! Não estão vendo que a van tá quebrando? Resmungou Ezequiel.

Bastou terminar a frase para o bendito carro parar de vez.

- Sai daí boca de praga. Oh, boquinha viu! - Disse Diogo chateado.

- Que nada! – Só falei a verdade! Respondeu todo posudo.

E para alfinetar ainda mais, Diogo continuou:

- Resolve esse teu chulé, porque parece bacalhau apodrecido! Ninguém aguenta mais esse fedor.

A discussão não parecia ter fim, alguém mandou calarem a boca e descerem do carro junto com os outros. No escuro, alunos e professores ficaram nas beiradas do asfalto da Pb008 ansiosos pela chegada do micro-ônibus que viria para socorrê-los. Devido a este imprevisto, demoraram mais do que o tempo normal.

Por fim, chegaram à casa onde ficariam hospedados e ocorreria a festa fantasia. Com o auxílio dos professores, os alunos foram encaminhados para seus aposentos. As meninas com as profas. Hellen (Geografia) e Kelly (Ciências) e os meninos com os professor José e o coordenador João. Já passava das 20h. O evento era esperado por volta das 21h30min. E como era à fantasia, as alunas demoraram mais do que o normal para se aprontarem.

- Meu amigo, que demora é essa delas? Perguntou Ezequiel. – Aff, Mulheres!

- Calma! Elas já estão vindo! Exclamou o professor José.

Enquanto os meninos estavam no térreo, as benditas meninas surgiram no hall da escada, deslumbrantes. Cada qual com uma fantasia mais exuberante que a outra.

- Olhem! UAU!! - Apontou Diogo. – Elas chegaram!

- Até que enfim! - Retrucou Natanael.

- Xiii! Silêncio, vamos recepcioná-las. – Falou o coordenador João.

O silêncio reinou no recinto, com exceção da música que era tocada ao fundo. As garotas desceram cochichando sobre as fantasias dos garotos.

- Eu não acredito que o penetra do JR veio de “Lá casa de papel”!! – Falou Suely colocando a mão na boca, achando o máximo.

- E o Diogo de Zorro, fantástico! Amei! – Argumentou Vick sobre seu melhor amigo. E que por problemas de saúde não providenciara uma fantasia para a ocasião. Não deixando de participar da festa por isso, é claro.

Daí em diante, todos se deliciaram com o a festa mais esperada da noite, curtindo cada momento. A hora da foto chegou, foi uma correria só. As meninas Anjinho (Suely), Batgirl (Heloise), Mulher maravilha (Fábia), Salva-vidas (Fabiely) e Princesa (Jacke), posicionaram-se uma ao lado da outra para que ficassem numa posição privilegiada na foto. Os meninos, alguns ficaram nas extremidades e outros agachados: Zorro (Diogo), “Lá casa de papel” (o penetra do JR, do sexto ano), Homem de ferro (Natanael), Rappers (Ezequiel).

E os professores não ficaram de fora. Hellen (Geografia) estava de Chapeuzinho vermelho, Kelly (Ciências) de Princesa Leia de STAR WARS e o José (Matemática) de Cowboy. O coordenador não estava fantasiado, mesmo assim fez questão de sair na fotografia e participar da festa.

E assim a diversão foi completa. Jantaram, dançaram e paqueraram muito. Até que todos estavam exaustos e a festa estava sem graça, decidiram que já era hora de recolherem os jovens. Meninos para a direita e meninas para a esquerda. Mas como não era uma noite normal, o sono demorou a chegar para alguns.

No dormitório das meninas, havia ar condicionado que por sinal estava congelante e uma das alunas não estava acostumada gerando um burburinho entre elas:

- Ei, Jacke, fecha a porta ao sair visse. Reclamou uma delas.

- Preciso ir ao banheiro. – Exclamou a coitadinha.

- Não sei que mijadeira é essa dessa garota. – Retrucou sem piedade a Heloise.

- Deixem-na! – Defendeu a professora de Ciências diretamente.

Assim que fechou a porta, alguém bateu três vezes e uma das meninas foi abrir:

- Mandaram deixar os pães da prof.a Hellen. Estava no meio das mochilas. – Trouxe JR todo desconfiado o embrulho amassado.

Quando a professore de geografia escutou, saiu irada, quase gritando:

- Já falei que estes pães não são meus!!! – Pegou o embrulho e jogou-o bem longe dali. O aluno correu desesperadamente para seu quarto, sem olhar para traz.

Como as professoras que ficaram com as meninas desconfiaram que elas iriam aprontar alguma coisa, pois não paravam de conversar bem baixinho. A de Geografia resolveu por precaução, guardar a chave do quarto na calcinha, só assim impediria que algo fora do contexto ocorresse. E se quisessem sair do quarto, teriam que acordá-la.

No quarto dos meninos, o problema era outro. Além do calor insuportável, havia o bendito sapatênis infectado com chulé, que o seu dono insistiu em leva-lo junto, apesar das reclamações dos demais. Mas o incômodo não durou por muito tempo.

- Diogo, espera ele dormir que vamos dar um fim nesse enviado do cão. – Exclamou JR alterado referindo-se ao sapatênis.

Diogo apenas confirmou piscando o olho. E cumpriram com o combinado. No silêncio da madrugada JR e Diogo saíram com o infeliz fedorento nas mãos e o lançaram bem longe, no terreno da outra casa, livrando-se assim do infortúnio. E suportaram o calor sem mais problemas.

E a madrugada seguiu seu rumo ao amanhecer, com todos, até que enfim, em sono profundo mergulhados em sonhos ou pesadelos que só a noite poderia proporcionar. O dia seguinte prometia piscina e sol forte, assim era o esperado.

E assim iniciou o dia:

- Alguém viu meu sapatênis por aí? Não consigo acha-lo...

Débora Oriente

Debora Oriente
Enviado por Debora Oriente em 30/12/2019
Reeditado em 14/02/2024
Código do texto: T6830521
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