FA-DÓ REVIGORANTE

Cansado da jornada que se iniciara as 5:30 horas da manhã, sucumbi numa sesta, acariciado pela brisa que entrava pela janela, brisa deliciosa depois de um dia calorento. Já descansado, acordei-me pelo fa-dó, trazido pela mesma brisa, que subia pela encosta da colina Primavera. O fa-dó misturava-se a sereia de um carro de apoio.

Um pouco atordoado, deslocado no tempo, depois de alguns segundos me recompus, era um veículo de combate a incêndio que passava na avenida e rumava em socorro de necessitados.

Embora não tenha sido bombeiro de ofício, por algum tempo tive os requisitos necessário para habilitar-me a ser um deles, pretensão frustrada por idiotices que se atravessam em nosso caminho, mas enfim, já não é possível, então resta-me embriagar-me em adrenalina, quando ouço o fa-dó a invadir meus ouvidos. Provavelmente seja de semelhante reação corpórea e mental, de quem possa ter habitado o cockpit de uma radiopatrulha.

Estando bombeiro ou patrulheiro corre-se o riso de não voltar com suas próprias forças. É o risco na luta pelo próximo, embora, como patrulheiro a um risco adicional, trazer consigo uma alma do embate, se injusta há o risco de ir ao inferno.

De vez em quando a Corporação poderia permitir que pudêssemos sair em carros de combate, quando em atendimento de chamados, claro que sem intervir no combate, propriamente dito. Espaço no carro não seria problema, pois em contraste com os anos 80 do século passado, quando as guarnições de um carro de combate era de oito homens, com o passar do tempo o contingente que foi sendo reduzido, pela escassez de recursos humanos.

Não daria certo, pois a adrenalina desnecessária traria mais problemas, do que benefícios. Contudo, me parece que ouvir as sereias e fa-dós me fazem bem e ajudam a resetar o estado de indolência que começamos a experimentar, conforme nos encaminhamos às areias de praias sem fim.

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 10/12/2019
Reeditado em 10/12/2019
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