Fantasmas

Acordei no meio da noite sobressaltado; havia tido um sonho...

Até hoje não sei direito o que é sonho ou o que é pesadelo.Parece-me um pouco como a diferença sensitiva entre o drama e a comédia.A comédia terminaria em risos e o drama terminaria em lágrimas.Definição bem simplista.

De qualquer forma o sonho é aquela sensação,de que quando estamos dormindo (ou acordados...) não queiramos sair do enlevo que nos envolve nos dando sensações que de tão boas não desejemos abandonar.

Já o pesadelo, nos atira em precipícios,nos faz ver bruxas,fantasmas,corredores sombrios,perseguições macabras; nos faz transpirar de medo e pavor e quando acordamos,acendemos imediatamente a luz do abatjour de cabeceira.E aí passamos um tempo esperando o medo passar olhando para as paredes do quarto para nos sentirmos em segurança outra vez.Até associarmos tempo e espaço.

Os sonhos resgatam antigas imagens de algum baú de dentro de nossas almas.

Muitas vezes nos vemos frente a frente com parentes e amigos queridos que já se foram ou que não vemos mais,numa presença tão real que parece que estivemos com eles ainda agora.

Como o ser humano se adapta facilmente ao não ver mais...Parece que não temos mais tempo nem de sentir saudades.Não pensamos mais naqueles que não fazem mais parte de nossas vidas, e que um dia fizeram; só os encontrando vivos e presentes em nossos sonhos.Daí o sobressalto...

Que fim levaram aqueles meus amigos inseparáveis de infância? Onde estarão Carlinhos,Nelson,Canhoto,Sagüi.Gente que de tanto tempo só me lembro o apelido.

Éramos amigos,trocávamos confidências e inseguranças,incertezas e descobertas.

Onde estará aquele meu professor de Cirurgia,com o qual sonhei esta noite;será que ainda vive? Duvido;já era idoso há uns bons anos.

Quantas daquelas pessoas, que fizeram parte da minha vida,se desmancharam no tempo como um grande castelo de areia que o destino se encarregou de afastar e destruir.

Como estarão ? Terão filhos,netos? Que profissões seguiram?

No começo de nossas vidas somos como uma casa que abriga uma grande árvore de Natal na sala.

A janela entreaberta deixa entrar a brisa da tarde fazendo balançar a árvore tão linda,viçosa,cheia de enfeites que a esperança fez questão de decorar.

Os presentes vão sendo colocados ao seu pé.Presentes embrulhados um mais bonito que o outro;fitas vermelhas,caixas azuis,enfeites verdes.Embrulhamos nossos sonhos pra presente.

No ar se respira um clima de amor e fraternidade.

Aos poucos ,como a criança maravilhada,vamos abrindo cada um desses presentes,rasgando avidamente os laços que os envolvem.O tempo é o nosso Papai Noel...

Aos poucos os presentes vão desocupando o pé da árvore para irem habitar num espaço vazio dentro de nossos corações.

Só com o tempo, depois de velhos, é que começamos a entender porque tanta gente fica triste na época do Natal...

Aquela árvore de Natal,no canto da sala,agora fenece triste e solitária,sem um enfeite sequer.

A janela permanece fechada,e nem a brisa da tarde vem beijá-la de vez em quando.

Nossas vidas desapareceram para tornarem-se os ausentes que povoam nossos sonhos e pesadelos.

A porta da frente está fechada.

A casa está vazia...

O tempo cumpriu sua missão.