Terapia do “tanquinho”.

Quem se lembra daqueles tanquinhos de lavar roupas? Aqueles mais antigos com motor potente, geralmente na cor branca. Leve, dava pra uma pessoa só carregá-lo. Dependendo da quantidade de roupas uma hora ou no máximo duas horas, já se via as roupas balançando com o vento ou tomando um banho solar no varal. Quem se lembrar vai entender o que é trabalhar duro e fazer um serviço bem feito!

Então, eles foram substituídos aos poucos por máquinas pesadas, por fim, as lavadoras digitais. Essas sim, nos proporcionam um tempo para outros afazeres e também um descanso do corpo. Mas, são caras, são pesadas, cada programação de lavagem demora tanto tempo que ao notar, já se passaram 8 h e as roupas ainda não foram todas lavadas. “Oh! Meu Deus, ainda tem tapetes, roupas de cama, panos de prato...” E será que são tão potentes mesmo, como as propagandas apresentam?

Em nossa sociedade, há pessoas tanquinho e há pessoas lavadoras digitais... Mas nesse texto não pretendo diferenciar cada uma. Se você, caro, leitor, ao ler minhas humildes palavras, quiser refletir e decidir se é um tanquinho ou uma lavadora digital... Ficarei feliz em ter “mexido com você um pouquinho”.

Como a loucura vem me dominando dia após dia, resolvi fazer terapia: decidi pela terapia do tanquinho. Mas é válido lembrar, que terapia do tanquinho, tem que lavar roupa suja!

O primeiro passo para uma boa lavagem, utilizado com nosso amigo tanquinho, é separar cada peça de roupa, por cor, por sujeira, por novas e velhas. Assim é nossa vida, quando decidimos mudar, o primeiro passo é separar nossos objetivos, nossa rotina, nossos problemas, para que sejam resolvidos um por vez, de acordo com a necessidade de urgência, isso se chama ponderamento. Pode se chamar também de organização da própria vida!

Eu diria que tanto pessoas tanquinho como lavadoras digitais devem executar esse passo, pois ao misturá-los se cria um redemoinho ou um emaranhado de nós, muitas vezes “cegos”, onde irão manchar a cor da alma de si próprio e a alma de seu próximo, da mesma forma que roupas escuras e sujas acabam manchando as claras.

O segundo passo é o preparo da água, do sabão, pode usar o sabão que quiser: ralado, de coco, em pó, para roupas claras, para roupas escuras, o sabão é só instrumento de trabalho, o importante é a água estar limpa, a cada grupo de roupas que sujar a água, esta, deve ser trocada. E o quê aprendemos com isso? A água é a nossa alma, não importa o quanto de sujeira a vida, as outras pessoas querem depositar em nós, cabe a nós, nos trocar e mantermos sempre limpos e renovados para uma próxima lavagem, com a ajuda da ferramenta que cada escolher e se identificar.

O terceiro passo é o observar das roupas girando no tanquinho, às vezes, é necessário ajudá-las a mergulharem na água, o processo de girar, de ver as roupas serem torcidas e retorcidas entre si, faz com que saiam limpas prontas para o enxague. Eu penso nisso como uma terapia de grupo, ou uma rodinha de conversa, em que cada um está ali em busca de um mesmo objetivo, ser limpo, ser renovado.

Cada giro, é uma volta que o mundo dá, são as idas e vindas de pessoas entrando e saindo de nossas vidas, são marcas deixadas e marcas que deixamos. Esse processo não é fácil, porque temos de aceitar muitas coisas, temos que lutar e resistir para que nosso tecido não se desgaste. Entretanto, chega um tempo em que o tecido se desgasta, nem sempre ele aguenta os trancos dos “giros” e os nós que o processo da lavagem lhe dá.

O quarto passo é o enxague. Leve. Não! Nada de leve, é aí que exige a nossa força, mergulhar a roupa na água, levantar, torcer, mergulhar de novo, às vezes precisa de outra água, e enxagua que enxagua.

É porque nós temos a mania de achar que basta tirar a sujeira mais grossa, aquela que está mais a mostra e aí já está tudo bem. “Só que não né!”. Vestir uma roupa bonita, manter uma boa aparência, falar bonitinho, de forma tão acadêmica, não vai esconder os podres de sua alma, aqueles podres que só sua consciência lhe diz.

O enxague é importante para retirar de nós impurezas tóxicas que criamos, acreditamos e aceitamos. Sabe aquele amaciante que você coloca para dar aquele cheirinho gostoso na roupa? É o capricho que você dá pra sim mesmo (a), se amar, se respeitar, se valorizar, se impor. É tempo de se libertar, enxague-se!

O quinto passo é torcer e sacudir, doloroso, porque é o processo de se manter na trilha. Lembra lá atrás, no inicio do texto quando decidimos fazer a terapia do tanquinho? Lavar a roupa suja?

Então, os passos são dados, mas a execução é diária, até quando você conseguirá se manter no controle? Até quando você vai aguentar as torções? Até quando vai aguentar as dores que você carrega e que só você sabe o quanto elas doem e te fazem sofrer? Quando é que vai soltar a voz e expremer, e sacudir cada gotinha da água daquela sujeira que você não quer mais? “Admitir estar cansado (a) e não dar conta é um pedido de socorro”. Se você tiver sorte, vai aparecer alguém que vai dividir o peso da roupa e torcer junto com você.

O sexto é estender a roupa no arame, essa parte confunde muita gente, porque tem aquelas que acham que já estão com suas vidinhas resolvidas e nunca vão cair, e nessa, eles se enganam. Se você não usar os prendedores, o vento ou um simples escorregão irá derrubar a peça no chão e você estará de volta ao inicio, a roupa suja de novo.

Os prendedores eu chamaria de amigos, de família, de esposo(a), irmão (ã) ou até mesmo seu gato ou seu cachorro. Se a roupa não for bem estendida de acordo com seu modelo, sua forma, ela poderá ficar amarrotada, faz bem e ajuda no processo da secagem você caprichar na hora de estender.

Controlar o tempo que ela ficará no sol é muito importante, o sol faz mal para nossa pele e ataca nossa alma, nos deixando mal humorados e impacientes, portanto “use o filtro solar, para o sol e para o que você escuta das pessoas!”.

O último passo, é organizar o local da lavagem, limpe o chão, use a água do tanquinho ou do tanque para lavar a calçada, a garagem ou até molhar aquela terra daquele terreiro que mais tarde você terá que varrer... Cuide do seu ambiente, você precisa dele. E cuide também do tanquinho, lave-o, enxague-o, seque-o e guarde-o. Cuide do tanquinho para sua próxima terapia.

E entenda, que aquela roupa fresquinha, cheirosa que você retira do arame, uma hora ou outra irá se sujar novamente, porque a vida é assim: é normal você sofrer, é normal as pessoas se afastarem de você, é normal a morte... É normal as pessoas não te entenderem, é normal elas não quererem te entender, é normal elas não quererem que você faça parte do grupo delas, assim como é normal você também não aceitar essas pessoas na sua vida. É normal você querer ser e fazer o que você quiser para ser feliz, desde que tenha juízo. Então, caro leitor,

Lave roupas! E lave do jeito certo!

Liliene Rodrigues

Liliene Maria Rodrigues
Enviado por Liliene Maria Rodrigues em 05/12/2019
Código do texto: T6811755
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