Era uma vez um balão de gás hélio e um bloco de granito

Já se perguntaram como é difícil começar a escrever qualquer coisa?

Muito mais simples se desenrolar de um ponto específico, um tema preestabelecido. Talvez isso aqui seja específico, mas como não gosto disso, deixarei subentendido.

Ontem fui numa premiação. Sim, soa como algo estonteante, eu sei. Mas não foi tão incrível assim, tirando o fato de ser um evento que reconhece todo o esforço, lágrimas, sangue e saúde emocional dos alunos ao longo do massacrante ano letivo. Nem entrarei em detalhes, não quero expor o corpo de votação parcial e injusto. Viva o sistema! Dentro daquele ambiente, posto que um tantinho tosco, tinha alguém que fazia valer a pena o meu salto alto numa poça de água e meu vestido na chuva às 20h. E ele, coitado, molhou o tênis de playboy. Eu ri horrores -por dentro-, porque aquele belíssimo par que pagaria um ano de aluguel de um apartamento na Asa Sul é como se fosse o filho dele. Eu finjo que respeito.

Meus colegas estavam por lá também, todos arrumados e com uma ansiedade típica pelo vestibular, por ser a despedida de alguns e pela quantidade assustadora de ex-namorados e namoradas. Eu também ri disso, mas por fora, dessa vez. Tenho a sensatez de não namorar no ensino médio. Mas também não duvido de minha maluquez. Em uma conversa, contei para um desses colegas que eu era um balão de gás hélio perto do pai do tênis caríssimo. Ele é um bloco de concreto perto de mim. Não voa e não sente.

Depois dessa noite, saímos todos para comer. Isso já quase no outro dia. É, foi uma escolha bem inteligente mesmo. Felizes, pois estávamos comendo na companhia de quem supostamente gostamos, até que nosso amigo grita dizendo que a prova era amanhã. Uma corrente fria e afiada nos acertou em sincronia. Seria engraçado se não fosse trágico e, ainda por cima, verdadeiro. Saímos na sexta e voltamos no sábado, de fato a prova é amanhã. Uma pausa, queridos leitores, para eu secar as minhas lágrimas de desespero.

A teoria de que eu estou sempre no nível 100 e a outra pessoa saindo do nível 0 se confirma. Eu só queria ser um balão se existisse um outro. Mas jamais seria uma rocha sem graça que tem medo de se envolver. Desculpem, rochas, mas balões voam. E poluem. Mas voam, isso é legal, seria um poder interessante. A questão é que eu não tenho que deixar de ser quem sou e ele também não deve se apressar. O mais engraçado é que eu disse pra mim mesma que não escreveria uma só linha sobre. Que bobinha.

Ficamos juntos até ele ir embora, mesmo que isso acarretasse muitos xingamentos dos demais por conta da demora. Ele foi embora dali e não sei se foi também de uma vez, por isso eu quis estar até o último segundo. Depois disso, não queria mais vê-lo. Eu sei que não serei a mãe do tênis dele. Prefiro andar descalça. Isso, no geral, não deveria importar, mas enquanto somos uma espécie de Eduardo e Mônica, seremos apenas dois esquisitos que tentam se impressionar, apesar de ela ainda querer ver o filme de Godard e gostar de Caetano e ele almejar um novo Jordan e talvez umas correntes de ouro.

Sobre a prova, espero que eu não surte e esqueça o meu nome, o que não duvido. Espero acordar em sã consciência, no mínimo. Apesar da tensão, é preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte (ou prova, tanto faz, na minha cabeça são quase sinônimos). Tomara que tudo que somos condicionados a fazer desde cedo nos dê uns momentos de deleite e uns momentos em que possamos pensar: é pra isso que eu estou vivendo! Antes dessa epifania que pretendo ter, posso dizer que vivo por instantes de felicidade como os que tivemos, por microssegundos de paixão.