Eu não sou escritora

Eu não me considero escritora. Nunca passei nem perto disso. Nem mesmo sou amadora na arte da escrita. O que eu escrevo são palavras aleatórias que saltam do meu cérebro tão frenético para expressar, ainda que em parte, o que eu sinto, o que eu vejo, o que penso, o que eu observo em mim e nos outros, o que constrói a minha opinião sobre quem sou, quem quero ser e o eu que eu quero que o mundo veja e que precisa que eu seja.

Lendo o livro “Quem diria que viver ia dar nisso”, Martha Medeiros, em uma das suas crônicas maravilhosas, fala que não se considera escritora. Bom, se ela não é, imagina eu, uma garota que usa a escrita para encontrar o seu lugar no mundo – eu não sou mais a adolescente de outrora; sou uma jovem adulta que continua tão ou mais perdida do que aquela que começou a escrever aos 14 anos.

Contudo, sua fala na crônica “Na real”, me deixou bem pensativa. Reflexiva, eu diria. Ela fala, parafraseando Elizabeth Gilbert, autora do best-seller “Comer, rezar, amar”, que não há como buscar originalidade, pois tudo já criado. E foi mesmo. Eu sempre senti isso. Como se eu não fosse a única perdida na vida. Os muitos autores que li, não só nos livros, mas também no Instagram, em que há perfis maravilhosos de jovens autores, que eu não inventei e não sou a única a me sentir deslocada da realidade a minha volta. Como leitora assídua, muito do que já escrevi até agora tem forte ligação com o que já li. E isso é bom. Não há mesmo como buscar originalidade, pois tudo o que tinha para ser escrito, já o foi. O que muda e que ainda nos toca é as novas perspectivas. O que difere o que eu escrevo do que eu já li em muitos livros é a minha percepção do mundo. É o meu olhar que difere e confere um novo significado ao que outras pessoas já sentiram antes de mim e registraram em palavras bonitas e coesas.

Isso não me faz menos escritora, mesmo que eu não me considero uma. Eu sinto o que escrevo e escrevo o que eu sinto. Não é uma postura narcisista, longe disso. Eu tenho medo, como todos os iniciantes. Não me considero boa o suficiente, não acho que tenha talento ou que o que eu escrevo é digo de ser lido. Todavia, minhas ambições não são tão grandes. Na maioria das vezes eu só pretendo esvaziar a minha cabeça. Mas eu sonho sim no dia em que a minha escrita seja lida por outras pessoas e admirada. Todo quase escritor tem esse desejo. Elizabeth Gilbert fala: “A maioria das coisas já foi realizada – mas ainda não foram realizadas por você”. Assim, me contento em ser autêntica.

Eu acredito que todos podem escrever. Não é algo que só uns poucos selecionados são agraciados. Não devemos nos importar se nossa arte não será reconhecida (é algo que digo a mim sempre). Minha arte, se posso chamar assim, não vai salvar o mundo, mas quem sabe, salve a mim. Num mundo à deriva, este é o meu bote salva-vidas. A minha âncora para não afundar em meio a minha realidade, por vezes, fria e cinza. Os problemas do mundo não nos permitem ver a beleza, a poesia, a arte que há em cada canto. Por isso, com a escrita, eu posso tentar resgatar algo que passou batido por minha visão periférica concentrada em sobreviver a mais um dia. Afinal, a arte não paga as contas e só pode ser apreciada em meus horários de ócio. E é aí que começa a minha diversão. E a magia acontece.

Eu não sei se esse texto deveria ser de autoajuda ou autodepreciativo. Não faz diferença. Estou escrevendo muitas vezes como se ninguém pudesse ler a minha história. Afinal, quem iria querer ler a história de uma garota comum, que refletiria a história de outros tantos como eu. Entretanto, uma parte de mim mantém a esperança de que alguém comece a ler a minha história e veja a sua própria história se desenrolando nas letras destiladas de um desconhecido tão conhecido.

Belinda Oliver
Enviado por Belinda Oliver em 28/10/2019
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