UM SIMPLES PÉ DE JABUTICABA

Papai faleceu em 19 de abril de 2008. No mês seguinte, estive em nossa antiga residência, onde ele passou seus últimos momentos da vida. Tinha ele um barracão nos fundos o qual era e está alugado ainda para dois senhores idosos: Roque e Getúlio.

O Roque me chamou para ver o pé de jabuticaba que papai plantara e todos os anos produzia deliciosas frutinhas. Após prosearmos um pouco, falando da bondade de meu pai e de minha mãe, dos quais ele gostava muito, me ofereceu, num pequeno vaso, uma muda da deliciosa fruta. Disse-me:

- Leva, Luiz, para você esta mudinha de jabuticaba. Planta lá na sua casa. Daqui a alguns anos estará produzindo e você terá uma recordação de seu pai, para sempre.

Aceitei a oferta. Fui para casa carregando aquela mudinha com apenas uns vinte centímetros de altura. Plantei no meu quintal, poucos dias depois. Os anos foram passando e eu, cuidadosamente, junto com minha esposa Fátima, regava aquela plantinha, com muito carinho, pensando: Será que estarei vivo no dia em que esta jabuticabeira produzir frutos? Entrou ano, saiu ano, e nada. Até que chegou a primavera de 2019. Estando em viagem para outro estado do Brasil, eis que minha nora Alessandra me manda pelo whatsapp uma foto acompanhada da seguinte mensagem: “Ano de colheita de jabuticaba”. Não dei importância à mensagem nem à foto, pensando que se tratava de um pé de jabuticaba da casa dela, na cidade de Esmeraldas-MG.

Muito bem. Cheguei de viagem. Era o dia 5 de outubro deste ano. Não é que minha esposa me gritou, no dia seguinte, lá do fundo do quintal e me disse:

- Ô Luiz, você não viu? O pé de jabuticaba está florido e todo verdinho.

Parece bobagem, mas fiquei emocionado quando corri para o quintal e vi o pé de jabuticaba, que saiu da casa de papai, todo verdinho e florido. Até mais alto, com mais de dois metros de altura. Além da emoção, lembrei-me de minha preocupação de todos os anos. “Será que vou viver o suficiente para chupar as jabuticabas dessa árvore?” Por incrível que pareça, um simples capricho da natureza me trouxe uma alegria de passar por essa experiência que, para muitos, pode até ser tola. Desse acontecimento pude lembrar de uma passagem que vem da bíblia, escrita no Livro do Eclesiastes:

"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.

Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;

Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;

Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;

Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;

Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;

Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;

Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz.

Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?

Tenho visto o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os exercitar.

Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim."

Então pensei: Como Deus é bom! Através de um passe mágico da natureza, Ele ordenou que aquela arvorezinha produzisse flores, brancas, bonitas e, brevemente, frutos saborosos que poderei degustar.

Apesar de os frutos estarem ainda se moldando, através das mãos sábias da natureza, pude concluir com toda certeza:

É SIMPLES, MAS FOI UM PRESENTE DE DEUS.

REGISTRO - Passou-se o período exigido pela natureza. Na segunda quinzena de novembro de 2019, tive o prazer de saborear, bem madurinhas, as gostosas jabuticabas. Não somente eu como também a esposa, os filhos e os netos. Uma delícia. Doces como o mel. A safra não foi tão grande mas, pudera, foi a primeira produção da jabuticabeira.

Agradeço a Deus por colocar a mãe-natureza a serviço de seus filhos.

Em 01 de dezembro de 2019.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA

12 DE OUTUBRO DE 2019.

LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA
Enviado por LUIZ GONZAGA PEREIRA DE SOUZA em 12/10/2019
Reeditado em 03/01/2023
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