Último desejo

Outro dia pela manhã me deparei no jornal com uma realidade que, mais cedo ou mais tarde, todos nós enfrentaremos: a morte.

Claro que se sabemos mal e mal das nossas vidas, pelo menos deveremos ter certeza do que queremos para as nossas mortes.

“Compre sua campa no Cemitério Boa Paz. Tranqüilidade. Este é o investimento mais inteligente que você pode fazer.Sem entrada e sem intermediárias ".

Gozado.Nunca havia pensado nisso: minha última morada.Pelo menos essa não preciso me preocupar se fica perto da escola das crianças, tem supermercado nas redondezas, se a rua tem muito movimento, ou o que é, ou era, mais importante, ser próxima a uma boa pizzaria.

Não, nada disso.No cemitério Boa Paz, sem entrada e sem intermediárias, o seu sossego eterno estaria garantido.

Será que pagando bem, vou poder ser enterrado com os objetos que tanto gostei em vida? Como o relógio do meu avô, que até hoje trago junto a mim e que insiste em marcar horas; e que certamente irá me acompanhar na outra vida, sem essa tremenda teimosia?

Ou então o meu radinho de pilha, companheiro de todas as noites.Só ele sabe que gosto de dormir ouvindo vozes...

Não, não quero comprar uma coisa pela qual não poderei reclamar se não estiver satisfeito.

Quando morrer, quero retornar rapidamente, ao bom e velho pó do qual fui feito.

Os meus poucos pertences quero deixar com aqueles que me amaram e que se lembrarão de mim nas horas mais corriqueiras do dia, como com o relógio do meu avô.

Com a árvore que cortariam para o meu caixão, façam cadernos e deem às crianças para que escrevam sobre o mistério da vida, para que os homens aprendam o mistério da morte.

As minhas cinzas uma parte joguem bem para o alto onde possam cair nas asas de algum pássaro errante e assim ele possa me levar a lugares que sempre imaginei e nunca vi.

Outra parte joguem no mar para que eu possa mergulhar nos abismos infindáveis que tentei em vão descobrir em vida e outra parte deem a mulher que tanto amei com a certeza de que um dia iremos nos encontrar de novo...

Por fim, ora, falem bem de mim, se puderem...