Blues ao inverso

Eu escuto um blues, e eu lembro de mim.

Eu sinto o blues e vejo você, dançando na minha frente. Sentindo a música, fazendo caretas assim como eu faço as minhas.

O piano chora, chora minha dor.

É, nem sempre é um homem arrependido de ter perdido uma mulher.

Eu nem sei o que eu perdi, porque eu nem pude experimentar.

Só sinto o baixo me machucando a cada dedilhar, estraçalhando-me por dentro.

A bateria toca tímida quase zombando de mim.

E uma voz grita, é minha alma, é o soul. É meu blues.

Eu não senti teu cheiro. Mas que cheiro tem a música? É cheiro de um momento.

Aquela noite nublada, esquisita, parada, tenebrosa.

Muitas coisas vão me lembrar você.

Principalmente ou pensamentos mais sórdidos e sádicos que eu já tinha e tu despertastes em mim.

Eu vou escutando esse blues e alimentando coisas que nem sei se existem ou fazem parte de um sonho bom.

Conversas, risos, olhares, toques sigelos, respiração ofegante, temperatura elevada. Sim, eu pude sentir.

Eu queria te devorar, mas não podia por aquela concessão social ridícula de que temos que esperar. Eu sou muito intensa em tudo. Nem sempre suportam. Eu não vou me desculpar mais baby, eu amo ser quem sou. Me entrego por inteiro quando vejo reciprocidade.

Não posso negar o que me causou.

Pernas bambas, não é tudo que me abala assim...

Eu não vou embora, eu fico.

Eu faço um café pra vida.

Eu jogo conversa fora.

E eu sento e me levanto devagar.

Quem sentir, entendeu.

Vou esperar esse blues tocar, quem sabe no fim desse solo de sax, tu estejas lá.

À minha espera.

É eu vou sorrir, baby, é cantar pra ti no teu ouvido de manhã....

Judy Cavalcante
Enviado por Judy Cavalcante em 03/09/2019
Código do texto: T6736515
Classificação de conteúdo: seguro