Foto: Minha mãe e o Willian (Saudades eternas deles)


Só um desabafo sobre a morte




Eu tenho uma história de amor e cumplicidade com meus irmãos.
Sou a mais velha e a única filha mulher.
Meus pais se separaram quando eu tinha 12 anos de idade. Eu fiz 12 anos em janeiro e em março eles se separam. Eu tinha um irmão de 08, um de 07 e um de três anos e seis meses.
A guarda dos filhos ficou com meu pai, um homem muito bom, mas de temperamento forte, autoritário. Ele nos criou dentro da religião. Íamos de duas a três vezes na igreja durante a semana e duas vezes ao domingo. Nunca reclamávamos, pois gostávamos de ir à igreja e ter comunhão com os irmãos, encontrávamos amigos da nossa idade. As classes de estudos eram divididas por idade.
No começo da separação deles, nossa casa passou por um entre e sai de amigos e parentes, para ajudar nas tarefas da casa. Eu chorava muito, já era triste não ter minha mãe ali comigo e ainda perdi meu quarto para um casal de idosos que vieram morar em nossa casa. Com minha recusa em me alimentar e ficando cada vez mais triste, meu pai agradeceu os idosos pela ajuda e trouxe minha prima para morar com a gente. Eu voltei a sorrir, eu já tinha uma amizade com ela, ela era só um pouco mais velha do que eu. Ela era alegre e também evangélica. Mas o tempo dela sair e ir trabalhar, e seguir a vida dela chegou.
Meu pai passou a contratar empregadas, vieram várias e nenhuma servia para substituir uma mãe. Era o que nós precisávamos.
Um dia, já com 14 anos, eu disse para meu pai que não precisava de ninguém em nossa casa, que eu cuidaria de tudo. Já que eu ajudava as empregadas em tudo e a responsabilidade maior que era de manter meus três irmãos na linha era minha. Graças a deus eles me obedeciam.

O TEMPO PASSOU (Hoje tenho 55 anos)

Em 2017 minha mãe veio a falecer, um ano e 15 dias meu pai em 2018.
Ontem meu irmão, o segundo mais novo, faleceu de morte natural aos 50 anos, deixando 04 filhas moças. Uma já casada e outra que casa neste final de mês. As outras só namorando e estudando.
Como não tenho filhos, as considero como filhas. Amo demais!
Este meu irmão sempre teve um temperamento revoltado, o que fez com que se separasse da esposa e das filhas. Nem preciso dizer que nossa convivência era difícil. Pisávamos em ovos quando a família se reunia e ele estava presente. Ele sempre brigava e afastava todos dele.

LUTO
A dor do meu luto por ele está me deixando em prantos constantes. Acho que por não ter podido ajudar ele mais do que eu queria. Já orei a Deus pedindo perdão por minhas falhas em me relacionar melhor com ele. Ele só se relacionava bem com nossa mãe.


CENA TRISTE

Ele morava perto da minha casa, no mesmo lote. Mas não estava falando comigo e nem com o meu esposo. Dia 05 de agosto eu não o vi, mas vi que a porta da casa dele estava entreaberta. Então era sinal que ele estava vivo, ele era diabético e não estava nada bem, e morava sozinho. Sempre que ele dava espaço eu ia ver como ele estava. Às vezes ele me chamava. Eu o acompanhava em consultas e exames, às vezes as filhas mais novas, que são gêmeas se reversavam nesta tarefa. Estava ficando cada vez mais difícil, ele perdeu a audição e estava ansioso, e cada vez mais irritado.
Nós estávamos procurando todos os recursos para ele se aposentar. Ele morreu menos de 34 quilos, o peso que o médico dele passou para mim na ultima consulta e mesmo assim negou dar atestado para ele se aposentar.

Com medo de entrar na casa dele sem ser chamada só observei a porta aberta na parte da tarde. Quando deram duas horas da tarde eu passei mal, tive uma vertigem e pensei que ia desmaiar. Parei minhas costurinhas (estou fazendo uns panos de pratos para minha sobrinha que vai casar agora) e fui deitar. Eu também estava sozinha. Minha pressão estava alta e a glicose baixa. (estou diabética há um ano). Tomei meus remédios e dormi o restante da tarde.
Acordei e fui escovar os dentes e vi que não tinha agua na caixa, fui ligar a água e novamente olhei para a casa dele e tinha só silencio e a porta entreaberta. Como ele trocava a noite pelo dia, pensei que logo ele ia ligar a televisão. A luz do banheiro estava acessa, não escutei o chuveiro aberto, mas ele poderia estar entrando no banheiro ou saindo, ou fazendo suas necessidades. Isto já era umas 09 horas.
Vim ao recanto das letras e escrevi o texto Insônia e depois fui ver vídeos. Deu 01 hora da manhã do dia 06 e fui ver a porta dele aberta. Nesta hora senti que algo tinha acontecido, pensei em morte, e mesmo assim tive medo de não ser nada e ele brigar comigo.
Meu esposo dormiu e roncava, e eu só pensava no meu irmão, quis acordar ele para ir lá da uma olhada para mim, mas tive medo dele brigar com meu esposo também.
Então vesti um blusão por cima do meu pijama e fui sozinha ver o que se passava.
A luz do banheiro iluminava parte do corpo dele e vi que ele estava deitado num colchão no chão, estava deitado de lado e com as mãos em forma de oração perto do rosto. Abaixei e meu corpo sobre ele ainda no escuro para sentir se ele respirava, tomando cuidado para não acorda-lo. Então toque no pé dele e o chamei duas vezes, mas já sabia que ele tinha falecido, estava frio e já enrijecido.
Voltei e acordei meu esposo para comunicar o ocorrido. Ligamos para a delegacia e eles enviaram uma viatura. Os policiais confirmaram o óbito e me disse que eu estava liberada para chamar uma funerária. Declarada a morte natural.

A cena não sai da minha mente, choro, eu não queria que ele morresse assim sozinho. Mas ele construiu os muros.
Só peço a Deus que me perdoe por não ter sido mais forte para ajuda-lo.
Agora sei que a dor por alguém difícil como ele é mais doida na hora do adeus final.

Este texto é só uma forma de eu desabafar.
Estou muito triste! Mas tenho que continuar nos preparativos do casamento da filha dele dia 24 de agosto.