VACAS NÃO MUITO "SERENAS"



Estrada velha do Riozinho (terreno dos Molinari pra ser mais preciso).
Eu e minha velha mania de sair por aí tirando fotos.
[ Vacas , parecem ser minha especialiadade.As vezes presumo ter sido um touro numa outra vida ]
O domingo era de sol , o céu aberto num cetim profundamente azul, eu no trecho.
A estradinha !...Jesus me abane.
Um lodo só. Causado pelas chuvas que haviam caído durante a semana.
Por conta disso , este cara que agora vos relata , percorria o caminho pelos barrancos onde a grama lhe permitia não sujar o tênis e a bermuda , ambos em estréia naquela tarde.
Escolhidos a dedo (e pechinchados no crediário de uma conhecida loja que dispõe
de "aparatos" para gordos)  eu estava me sentindo "um charme".
Juro !
A bermuda era cheia de bolsos e costuras sobrepostas.O tênis , de uma marca famosa , tinha a cor cinza claro e a parte de baixo - a sola - em detalhes de branco e laranja.
Vez e outra eu me olhava e não me continha:
Nossa ! Como estou bonito.
[ Nem dava bola à voz do bom senso que através de meus intrometidos botões me dizia "Vai te catar gordo ! Que falta lhe faz um espelho nessa hora ]
Assim seguia eu pelas veredas desta vida. Uma foto daqui , outra foto dali...
De repente , além da cerca aramada , elas !
As vaquinhas !
Lindas , serenas (foi o que pensei ) presenças quase solitárias pastando da grama a placidez de dias iguais.
Adentro ao potreiro .
Grama verdinha , mimoseiras oferecendo-se em frutos , flores , zumbidos , tudo conspirando a favor de fotos possivelmente encantadoras.
Do outro lado do arame , a estradinha.
O barranco , relativamente alto, e o leito da estrada sugerindo a imagem de um chiqueirão , tamanha era  a lama por ali.
Uns dois clicks e deu-se a desgraça na tarde azul.
Uma vaquinha - que não tinha  ido com a minha cara - incitara as amiguinhas até então serenas e partiram pra baixaria.
Bufando , vinha o bando ao meu encalço.
E agora "Juel " ? Pensei com meus botões;
A resposta foi curta , grossa e objetiva:
-Phoda-se ! Gordo.
Foi mais ou menos o que aconteceu.
Sem outra alternativa , cruzei por debaixo do arame farpado.
(Pensem num cruzamento extremamente rápido em uma cerca de arame)
A uns dois metros de altura eu visualizava o chiqueirão na estradinha.
As vaquinhas tentando um linchamento chifroso.
Meu par de  tênis , minha bermudinha afrescalhada , minha câmera !...
Ah! Meu Deus !
Sem  qualquer  escolha...
Segurei na mão dele e desci escorregando barranco abaixo. Aterrisei forçado na estradinha lamaçenta encobrindo de lama o par de tenis.
Como nem tudo é sempre desgraça , consegui conservar intacta a minha velha companheira dos domingos. A FUJI naquela época.
Ligeiramente aliviado , olhei para o alto e juro que vi a FDP da vaquinha estampando um sorriso largo.
Andei chafurdando por mais alguns metros até atingir a outra estrada que oferecia-se limpa e sequinha.
Sentado à sombra de uma árvore , fiz um ligeiro balanço da recente tragédia.
O traseiro dava a impressão de que um surto de diarréia incontida me acometera.
O tênis havia desaparecido em sua "belezura "
Nada mais a fazer , além de retornar pra casa , feito um caapora todo lambuzado.
No caminho , em prece , eu implorava para que não cruzasse com ninguém.
Graças a Deus fui ouvido.
[ No  sentido  inverso, é  claro ]
Assim que adentrei no bairro onde moro , dou  de  encontro  com um grupo de jovens , "alegres e descontraídos" que retornavam de alguma festa.
Passaram por mim de maneira elegante.
Respirei aliviado.
Nõ demorou e em meio a gargalhadas ,captei com estes ouvidos que a terra um dia (vai demorar) comerá:
- Putz ! O véio cagô no mato kkkkkkkkkkkk