O VENDEDOR DE AGULHAS

A chuva miúda é constante e já dura desde a manhãzinha, momento em que o velho Josué pegando o antigo guarda chuva saí a caminho do metrô, usando uma surrada capa preta e um velho boné que cobre o os ralos cabelos, já totalmente tomados de uma coloração grisalha. Leva consigo uma pequena pasta preta com todo o seu material de trabalho: muitas cartelas contendo os mais diversos tipos de agulhas das mais variadas formas tamanho e utilidades.

No terminal do metro, junto à centenas de pessoas, desce da condução e encaminha-se para a marquise mais próxima. Ali, e seguindo uma rotina diária, o ancião instalá-se com uma pequena e dobrável mesa de tripé sobre a qual, são colocadas todas as suas mercadorias. Expostos as intempéries daquela manha chuvosa, ficam exibidos os estojos e cartelas, onde apontando para o céu, como a desafiar o senhor dos trovões, brilham os ofuscantes agulheiros.

O automóvel para, e o advogado Marcio Dias desce apressado deixando para o condutor o troco da viagem chamada pelo aplicativo. Fugindo da chuva, e de todos os guardas chuvas, distraído e a pensar nos inúmeros processos que lhe esperam no gabinete, esbarra na pequena mesa dobrável levando pelos ares todo o seu conteúdo.

Envergonhado o desastrado cavalheiro só então vê a figura magra e molhada do ancião. Nesse momento vem-lhe a lembrança um outro ancião, lembra a casa paterna, onde com certeza, nessa hora, seu pai, recostado a grande poltrona vermelha, deve estar preparando-se para assistir as primeiras noticias do dia, no televisor novo, de quase cinquenta polegadas.

A lembrança do pai enternece seu coração e o seu olhar de carinho não passa despercebido do vendedor, que humildemente, pergunta: quer comprar agulhas?

Mario, está tomado dos mais diversos sentimentos, seja saudades de casa, gratidão pela sua vida e pela vida dos seus, mas principalmente piedade e repeito por aquele trabalhador, curvado pelo tempo e pela rudeza da própria vida, pela qual ainda batalha.

Dessa Forma e em resposta ao oferecimento, apenas diz: compro toda a banca. O brilho nos olhos do velho ainda é visto pelo advogado que recebendo a sacola com todo o e seu material, retira-se apressadamente, enquanto questiona-se sobre o que fará com tantas agulhas...

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 21/06/2019
Reeditado em 21/06/2019
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